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15:54, qui nov 21

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Artigo


Influência do tratamento térmico no nanocompósito fotocatalisador ZnO/TiO2
Influence of thermal treatment on the photocatalyst nanocomposite ZnO/TiO2

Maria Terezinha C. Sansiviero*; Dalva Lúcia A. de Faria

Departamento de Química Fundamental, Instituto de Química, Universidade de São Paulo, CP 26077, 05513-970 São Paulo - SP, Brasil

Recebido em 05/05/2014
Aceito em 20/08/2014
Publicado na web em 06/10/2014

Endereço para correspondência

*e-mail: mtcaruso@gmail.com

RESUMO

ZnO/TiO2 nanocomposites were prepared by impregnating zinc acetate dihydrate on the surface of titanium dioxide P25, followed by thermal treatment at 350, 600, 750, and 900 ºC, in order to investigate the TiO2 phase and titanate formation and the role of the latter in the photocatalytic activity of the nanocomposite. In the nanocomposites, the anatase-to-rutile transition is favored due to the presence of Zn2+, and the conversion is nearly complete at 750 ºC. The presence of zinc metatitanate in the sample heated at 600 ºC had no significant effect on the nanocomposite photocatalytic activity.

Palavras-chave: TiO2; nanocomposites; zinc metatitanate.

INTRODUÇÃO

Dióxido de titânio (TiO2) é um semicondutor que se apresenta principalmente na forma de três estruturas cristalinas: anatase (Egap = 3,2 eV (387 nm)), rutilo (Egap = 3,0 eV (411 nm)) e broquita (Egap = 1,9 eV (653 nm)), sendo que anatase e rutilo são as formas mais comumente encontradas. Esse óxido vem sendo extensivamente estudado devido às suas propriedades ópticas e químicas únicas, que tornam seu uso muito atrativo em catálise,1 fotocatálise,2,3 sensores,4,5 células solares6,7 e estudos de luminescência.8 Anatase transforma-se irreversivelmente em rutilo em elevadas temperaturas e os mecanismos envolvidos nessa transformação bem como as estratégias para inibi-la ou promovê-la vem sendo objeto de estudos, uma vez que o desempenho do fotocatalisador depende das concentrações relativas dessas fases. Recentemente Hanaor e col.9 reportaram os efeitos de dopantes na transformação de fase anatase para rutilo e os mecanismos pelos quais esses efeitos se manifestam. Em termos de temperatura, considera-se que anatase bulk pura inicia a transformação irreversível a rutilo em ar a 600 ºC,10-12 no entanto, as temperaturas de transição reportadas variam num intervalo de 400 a 1200 ºC.11,13-18 A transformação de anatase em rutilo não é instantânea; ela é dependente do tempo porque é reconstrutiva.15,19,20 Dessa forma, os fatores que influenciam a conversão de anatase não dopada são tamanho e forma da partícula, área superficial, volume da amostra, natureza do recipiente no qual a amostra se encontra, tipo de atmosfera, taxa de aquecimento, tempo de processamento e impurezas.

Do mesmo modo que o dióxido de titânio, o óxido de zinco (ZnO) também é um semicondutor (bandgap de 3,37 eV (367,9 nm)) e nanopartículas de ZnO têm se mostrado promissoras em aplicações tais como células solares,21 sensores22,23 e como fotocatalisador.24 Além disso, tanto o óxido de zinco como o dióxido de titânio são muito vantajosos como materiais fotocatalíticos devido a seu baixo custo, alta reatividade e natureza não tóxica.25,26

Como a eficiência do processo fotocatalítico é comprometida pela recombinação de cargas, uma estratégia utilizada para melhorar a eficiência do catalisador é a produção de nanocompósitos do tipo metal/TiO2 e semicondutor/TiO2.3 Um exemplo que pode ser citado é o do filme nano-ZnO/TiO2 que mostra melhor eficiência de separação de carga, mais amplo intervalo ativo do espectro e melhor eficiência no processo fotocatalítico que os filmes de nano-TiO2 e nano-ZnO puros.27 Sansiviero e col. obtiveram nanopartículas de ZnO/TiO2 (nano-ZnO/TiO2) a partir de TiO2 P25 e acetato de zinco dihidratado, que foram utilizadas para descoloração do corante têxtil vermelho de Drimarin, mostrando melhor atividade fotocatalítica que o TiO2 P25 puro.28 Nano-ZnO/TiO2 podem ainda ser obtidas por electrospinning seguido por calcinação,29 ou então como partículas suportadas em nanofibras de carbono,30 dentre outros métodos. Na investigação da síntese desse tipo de nanocompósito, no entanto, tem sido proposto que pode ocorrer a formação simultânea de compostos conhecidos do sistema ZnO-TiO2, como Zn2TiO4 (ortotitanato de zinco), Zn2Ti3O8 (titanato de zinco metaestável) e ZnTiO3 (metatitanato de zinco), dependendo muito dos precursores usados na síntese, do método empregado, das proporções entre zinco e titânio e do tratamento térmico utilizado.31,32 Esses titanatos têm também importantes propriedades fotocatalíticas, tanto quando misturados com ZnO ou TiO2 ou com ambos, razão pela qual vêm sendo largamente investigados.33 Nesse contexto, em estudo já publicado investigou-se a dependência da atividade fotocatalítica de nano-ZnO/TiO2 obtido pela impregnação de acetato de zinco na superfície de TiO2 P25 seguido por decomposição térmica a 350 ºC, com a concentração de ZnO empregada na síntese, sendo que 10% em massa de ZnO originou um dos melhores desempenhos fotocatalíticos.28

Sabendo-se que o método de síntese bem como o tratamento térmico e a relação ZnO/TiO2 em mol influenciam tanto nas fases de TiO2 quanto nos titanatos formados, torna-se relevante a caracterização do compósito obtido pelo método da impregnação, após tratamento térmico em diferentes temperaturas. Desta forma, no presente estudo o nano-ZnO/TiO2 10% foi calcinado em temperaturas entre 350 e 900 ºC e sua caracterização ex situ foi feita por espectroscopia Raman, difração de raios X (XRD) e espectroscopia eletrônica.

 

PARTE EXPERIMENTAL

Preparação dos nanocompósitos ZnO/TiO2

Dióxido de titânio P25 foi obtido da Degussa e acetato de zinco di-hidratado PA foi adquirido da Sigma-Aldrich. Nano-ZnO/TiO2 foi preparado por meio da impregnação de acetato de zinco dihidratado (Zn(CH3COO)2. 2 H2O, precursor) na superfície do TiO2. Para obtenção do compósito 10% em mol Zn(CH3COO)2. /TiO2 foram utilizadas na síntese 54,8 mg de Zn(CH3COO)2. 2 H2O (0,25 mmol) e 200 mg de dióxido de titânio (2,5 mmol). As massas foram adicionadas em pequena quantidade de metanol, a mistura foi agitada por 30 min e, em seguida, o solvente foi evaporado. Após a impregnação, o compósito Zn(CH3COO)2. /TiO2 foi termicamente tratado em um forno sob taxa de aquecimento de 10 ºC min-1 até atingir a temperatura desejada e mantido nesta temperatura durante 1 h. As temperaturas foram de 350, 600, 750 e 900 ºC. TiO2 P25 puro também foi tratado nas mesmas temperaturas e condições usadas para o compósito. As calcinações foram efetuadas em barquinha de alumina.

Instrumentação

Os compósitos obtidos nas diferentes temperaturas foram caracterizados por espectroscopia Raman, XRD e espectroscopia de absorção eletrônica. Os espectros Raman foram obtidos em um equipamento FT-Raman Bruker modelo RFS 100/S, dotado de detector de Ge resfriado com N2 líquido e laser de Nd3+/YAG para excitação dos espectros em 1064 nm. Os difratogramas de raios X foram obtidos em um difratômetro Rigaku Miniflex com linha de radiação Kα do Cu (λ = 1,5418 Å). O tamanho do cristalito (g) foi estimado usando-se a equação de Scherrer (eq. 1):34,35

na qual g é o tamanho do cristalito (Å), λ é o comprimento de onda da radiação incidente (Å), θ é o ângulo de Bragg (graus) e β é a largura da linha a meia altura (fwhm) expressa em radianos. Os espectros eletrônicos dos sólidos nanodimensionados (reflectância difusa) foram obtidos em um espectrômetro UV-VIS-NIR da marca Shimadzu modelo UV-3101 PC. Os valores de energia de band gap (Egap) foram obtidos traçando-se uma reta tangente no ponto de inflexão da curva de absorção (no qual a absorvância começa a decair) cuja intersecção com o eixo X fornece o comprimento de onda (λg) do qual se obtém o valor de Egap. As micrografias feitas por microscopia eletrônica de varredura (SEM) das amostras em pó depositadas sobre fita de carbono foram obtidas em um microscópio Jeol - JSM 7401F.

Testes fotocatalíticos

As degradações foram efetuadas utilizando-se o corante têxtil fenossafranina (PNS). Foram expostos à radiação UV 20 mL de uma solução aquosa de PNS (3.10-5 mol L-1) na presença de 10 mg de fotocatalisador (TiO2 P25 ou o compósito ZnO/TiO2). Para radiação UV usou-se uma lâmpada de mercúrio de alta pressão Philips HPL-N de 125 W de potência sem o bulbo de vidro, conectada a um reator Philips (VMTE 125A 26P) e mantida a uma distância de 20 cm da solução. A solução do corante com o fotocatalisador foi inicialmente deixada sob agitação constante por 1 h na ausência de luz, para que houvesse equilíbrio da adsorção. A partir desse momento o sistema foi inserido no fotorreator sob radiação UV e agitação. As alíquotas foram retiradas de 10 em 10 minutos, até completar 40 minutos. A degradação do corante foi monitorada pela banda de absorção do corante em 520 nm (ε = 4,04.104 L mol-1 cm-1).

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para que o efeito do tratamento térmico no compósito nano-ZnO/TiO2 pudesse ser avaliado, o mesmo procedimento foi utilizado para as amostras de TiO2 P25 puras e os resultados obtidos são mostrados a seguir.

Espectroscopia Raman

Foram obtidos os espectros Raman de TiO2 P25 e de nano-ZnO/TiO2 10% tratados nas temperaturas de 350, 600, 750 e 900 ºC. Os espectros Raman são mostrados nas Figuras 1, 2, 3 e 4 . A Figura 1 mostra a evolução dos espectros do TiO2 P25 com a temperatura e a Figura 2 os espectros do compósito tratado nas diferentes temperaturas, já as Figuras 3 e 4 correspodem às Figuras 1 e 2 respectivamente, só que numa outra escala de forma que a evolução de algumas bandas de baixa intensidade possam ser visualizadas com maior clareza.

 


Figura 1. Espectros FT-Raman de TiO2 P25 tratado nas temperaturas de (a) 350 ºC, (b) 600 ºC, (c) 750 ºC e (d) 900 ºC na faixa de número de onda entre 100 e 1000 cm-1

 

 


Figura 2. Espectros FT-Raman do nano-ZnO/TiO2 10% tratado nas temperaturas de (a) 350 ºC, (b) 600 ºC, (c) 750 ºC e (d) 900 ºC na faixa de número de onda entre 100 e 1000 cm-1

 

 


Figura 3. Espectros FT-Raman de TiO2 P25 tratado nas temperaturas de (a) 350 ºC, (b) 600 ºC, (c) 750 ºC e (d) 900 ºC na faixa de número de onda entre 300 e 900 cm-1

 

 


Figura 4. Espectros FT-Raman do nano-ZnO/TiO2 10% tratado nas temperaturas de (a) 350 ºC, (b) 600 ºC, (c) 750 ºC e (d) 900 ºC na faixa de número de onda entre 300 e 900 cm-1

 

Anatase apresenta bandas em 144 (Eg), 197 (Eg), 399 (B1g), 515 (A1g) e 639 cm-1 (Eg). Rutilo apresenta bandas em 143 (B1g, superposta com a da anatase), 235 (Eg), 447 (Eg), e 612 (A1g) cm-1.36 Como pode-se observar na Figura 1a, o espectro Raman de TiO2 P25 tratado a 350 ºC é basicamente o espectro da anatase com bandas de menor intensidade em 447 e 612 cm-1, atribuídas à fase rutilo presentes no P25 (80% de anatase e 20% de rutilo). O espectro Raman de nano-ZnO/TiO2 10% tratado na temperatura de 350 ºC (Figuras 2a e 4a) mostrou-se basicamente igual ao do TiO2 P25. Embora nessa temperatura ocorra a formação de ZnO, como foi anteriormente observado por XRD,28 este não pode ser observado no espectro Raman provavelmente devido à baixa percentagem de ZnO no compósito, além do fato de TiO2 ser um espalhador Raman muito melhor que ZnO, o qual, na estrutura hexagonal, apresenta bandas Raman em 99 (E2), 381 (A1), 438 (E2), 583 (E1), 407 (E1) e 574 cm-1 (A1).37 Na temperatura de 600 ºC (Figuras 1b e 3b) não ocorre nenhuma modificação significativa no espectro do TiO2 P25, no entanto, no compósito (Figuras 2b e 4b) aparece uma banda fraca em 344 cm-1 que não pode ser atribuída à formação de ZnO (embora este seja observado por XRD como será apresentado mais adiante), uma vez que a banda mais intensa esperada para ZnO hexagonal encontra-se em 438 cm-1;37 a natureza da banda em 344 cm-1 será discutida oportunamente. Em 750 ºC observa-se no espectro Raman do compósito (Figura 2c e 4c) o desaparecimento das bandas características de anatase em 144, 399, 515 e 639 cm-1 e o aparecimento ou intensificação das bandas de rutilo em 143, 235, 447 e 612 cm-1; observam-se ainda bandas novas em 344 e 707 cm-1, as quais são atribuídas a formação de ZnTiO3 (metatitanato de zinco).32 Por outro lado, em 750 ºC, TiO2 P25 ainda apresenta-se principalmente na forma de anatase apenas com uma pequena fração convertida à rutilo conforme mostrado nas Figuras 1c e 3 c. As Figuras 1d e 4d exibem os resultados obtidos a 900 ºC, quando toda anatase foi convertida a rutilo na amostra de TiO2 P25 e no compósito (Figuras 2d e 4d) o espectro é basicamente o mesmo obtido para amostra a 750 ºC, ou seja, observam-se bandas atribuídas à fase rutilo do TiO2 P25, além dos modos atribuídos a ZnTiO3. Pode-se concluir, portanto, que está ocorrendo uma desestabilização da fase anatase no compósito, uma vez que em 750 ºC no TiO2 P25 só uma pequena parte de anatase foi convertida à rutilo enquanto que no compósito essa conversão foi completa. O íon Zn2+ está funcionando como um promotor da transformação de fase, o que está de acordo com Hanaor and Sorrell,9 que investigaram um grande número de dopantes catiônicos em termos de seus efeitos na cinética da transformação de fase de anatase para rutilo e propuseram que cátions de pequeno raio e baixa valência acelerariam a transição anatase-rutilo, pois permitem um aumento nas vacancias de oxigênio que resultam da substituição de íons Ti4+ por cátions de menor valência como, no caso, íons Zn2+.

Difração de raios X

A Figura 5 mostra os difratogramas de raios X do nano-ZnO/TiO2 10% tratado nas temperaturas de 600 e 750 ºC; o difratograma do compósito tratado a 350 ºC já foi discutido anteriormente28 e mostra a presença de óxido de zinco além de picos de difração característicos de anatase e rutilo (este último em menor proporção).

 


Figura 5. Difratogramas de raios X de nano-ZnO/TiO2 10% a 600 ºC (a) e 750 ºC (b), onde: A = anatase, R = rutilo, Z = ZnO e T =ZnTiO3

 

Na amostra aquecida a 600 ºC pode-se observar que TiO2 está presente principalmente na forma anatase (2θ = 25,2º; 37,8º; 48,2º; 53,8º e 55,0º) correspondendo respectivamente aos planos (101), (004), (200), (105), e (211); observam-se ainda alguns picos de difração de rutilo, sendo o principal em 2θ = 27,4º que corresponde ao plano (110). A Figura 5a revela ainda três picos de baixa intensidade em 2θ = 31,8º; 34,4º e 36,2º, que correspondem à presença de ZnO com geometria hexagonal, correspondendo aos planos (100), (002) e (101). A baixa intensidade dos picos de ZnO deve-se à proporção de Zn2+ na preparação do compósito que foi de 10%. Foram observados ainda picos de baixa intensidade em 32,9º e 35,4º que são atribuídos à presença de ZnTiO3.31 Por outro lado, quando o tratamento térmico é efetuado a 750 ºC, o difratograma de raios X (Figura 5b) revela que houve mudança de fase do TiO2, ocorrendo conversão de praticamente toda anatase para rutilo, sendo que o pico mais intenso da anatase em 2θ = 25,5º agora aparece como um pico muito fraco e observam-se difrações intensas em 2θ = 27,4º ; 36,2º; 41,3º; 44,1º; 54,4º; 56,7º; 62,8º; 64,1º e 69,0º , que correspondem à fase rutilo. Nota-se ainda que os picos correspondentes a ZnO desaparecem ou diminuem muito de intensidade e os picos em 2θ = 32,9º e 35,4º, já presentes na amostra tratada a 600 oC e atribuídos à presença de ZnTiO3, foram intensificados. Além disso, foi possível observar outros picos de menor intensidade de ZnTiO3 em 2θ = 40,0º; 40,5º; 53,5º; 61,9º e 63,5º, que não podiam ser observados na amostra tratada a 600 ºC. Pode-se concluir, portanto, que a 600 ºC tem-se pricipalmente a fase anatase do TiO2 e ZnO, enquanto que a 750 ºC as principais espécies presentes são rutilo e metatitanato de zinco (ZnTiO3). Como mencionado por Nolan e col,31 a espécie ZnTiO3 só se forma na presença de rutilo, o que está em concordância com os resultados aqui reportados.

O tamanho médio dos cristalitos foi obtido pela equação de Scherrer usando-se o pico de difração mais intenso de cada composto. Para amostra tratada a 600 ºC obteve-se 22 nm para anatase (usando o pico em 2θ = 25,4º), 25 nm para ZnO (pico do ZnO em 2θ = 36,2º) e 30 nm para ZnTiO3 (pico do ZnTiO3 em 2θ = 32,8 º). Na temperatura de 750 ºC os valores obtidos foram de 35 nm para o rutilo (usando-se o pico em 2θ = 27,5º), 32 nm para ZnO e 32 nm para ZnTiO3 (usando-se o pico em 2θ = 32,8º). Pode-se, assim, confirmar a presença de nanopartículas, mesmo na temperatura de 750 ºC, quando a amostra apresentou uma cristalinidade maior, notada pelo aumento no diâmetro das partículas.

Espectroscopia de absorção no UV-VIS

A Figura 6 mostra o espectro de absorção no UV-VIS de nano-ZnO/TiO2 10% nas temperaturas de 600 ºC, 750 ºC e 900 ºC, obtidos por reflectância difusa.

 


Figura 6. Espectros de refletância difusa no UV-VIS de: 1)TiO2 P25 e ZnO/TiO2 10% nas temperaturas de 350 ºC e 600 ºC, 2) ZnO/TiO2 10% a 750 ºC, 3) ZnO/TiO2 10% a 900 ºC

 

A Egap para o TiO2 P25 encontra-se em 3,5 eV (354 nm) e está deslocada para energias maiores (blue shift) em relação ao valor esperado para TiO2 anatase bulk (387 nm), indicando a presença de nanopartículas, como já foi observado anteriormente.28 O valor de Egap do nano-ZnO/TiO2 10% na temperatura de 350 ºC foi de 3,5 eV (354 nm) e em 600 ºC foi também de 3,5 eV (354 nm), ou seja, os mesmos valores obtidos para TiO2 P25 puro. Em um trabalho anterior28 foram obtidos os valores de Egap para os nano-ZnO/TiO2 1 e 3% (em massa de ZnO) na temperatura de 350 ºC, os quais também coincidiram com os do TiO2 P25. A Egap para o compósito na temperatura de 750 ºC foi de 3,1 eV (396 nm) e em 900 ºC foi de 3,0 eV (413 nm), mostrando variações significativas em relação aos valores obtidos para TiO2 P25. Nessa faixa de temperaturas toda anatase foi convertida a rutilo e ocorre a maior formação do ZnTiO3, conforme os resultados obtidos por espectroscopia Raman e XRD apresentados acima. O valor de Egap de 3,0 eV em 900 ºC corresponde ao valor esperado para rutilo bulk (o valor da Egap para o ZnTiO3 de acordo com a literatura é de 3,7 eV ou 335 nm).33 Considerando que não ocorrem mudanças na composição química entre 750 e 900 ºC, ou seja, as espécies presentes são rutilo e ZnTiO3, o deslocamento da borda de absorção para energias menores no compósito obtido a 900 ºC provavelmente se deve ao aumento no tamanho das partículas que ocorre com o aumento da temperatura.

Testes fotocatalíticos preliminares

Testes fotocatalíticos preliminares foram realizados visando avaliar o comportamento fotocatalítico do compósito tratado a 600 ºC, que apresentou composição química bastante próxima à do compósito tratado a 350 ºC, para o qual determinou-se anteriormente a atividade fotocatalítica (AF). 28 O compósito tratado a 600 ºC tem partículas de mesmo tamanho (ca. 25 nm) e morfologia que o aquecido a 350 ºC (micrografia disponível como material suplementar), assim como energias de bandgap iguais. Esses dois compósitos diferem apenas na quantidade de ZnTiO3 que apresentam, a qual é ligeiramente maior na amostra tratada a 600 ºC. Esse fato permite avaliar o efeito do ZnTiO3 na atividade fotocatalítica do nanocompósito. Os testes foram realizados em um curto intervalo de tempo sob irradiação UV artificial (40 minutos no total), sendo que alíquotas da solução foram retiradas a cada 10 minutos. Para isto, foi utilizado como material orgânico uma solução 3 × 10-5 mol L-1 do corante fenossafranina (PNS). A descoloração da solução do corante como função do tempo foi monitorada pelo valor de absorção do corante em 520 nm. A Figura 7 mostra um gráfico da absorvância a 520 nm vs. tempo de reação (t), a partir da qual pode-se constatar que em um intervalo de 40 minutos o nano-ZnO/TiO2 10% obtido a 600 ºC apresentou AF ligeiramente menor que o compósito tratado a 350 ºC, no intervalo entre 20 e 40 minutos. Desta forma, a pequena quantidade de titanato de zinco presente na amostra tratada a 600 ºC não produziu uma melhora na AF em relação à amostra tratada a 350 ºC.

 


Figura 7. Descoloração do corante fenossafranina na presença do fotocatalisador nano-ZnO/TiO2 10% tratado a 350 ºC e 600 ºC. As leituras de absorvância foram feitas em 520 nm

 

 

CONCLUSÕES

Tanto dados de espectroscopia Raman como de XRD mostraram que os íons Zn2+ desestabilizaram a fase anatase em 750 ºC, uma vez que ocorreu completa transição de fase anatase-rutilo no compósito, enquanto que no TiO2 P25 essa conversão foi parcial. É importante considerar aqui que o material de partida não foi anatase pura e sim TiO2 P25 que contém ca. 80% de anatase e 20% de rutilo e que, além disso, no TiO2 P25 tem-se nanopartículas e não anatase bulk. Conforme mencionado anteriormente, para anatase bulk pura a temperatura de transformação à rutilo é de 600 ºC.

Os resultados de XRD mostraram que as fases ZnO, TiO2 anatase e ZnTiO3 coexistem quando a amostra é tratada a 600 ºC, enquanto que nas temperaturas de 750 e 900 ºC prevalecem TiO2 rutilo e ZnTiO3 na amostra. O tamanho médio dos cristalitos indicou a presença de nanocristais em torno de 25 nm para a amostra tratada a 600 ºC e de 35 nm para a amostra a 750 ºC.

O valor da Egap para o compósito tratado a 350 e 600 ºC é igual à do TiO2 P25 puro, enquanto que para o compósito tratado a 750 ºC o valor da Egap é deslocado para energias menores e a 900 ºC o valor obtido corresponde ao valor esperado para rutilo bulk, o que está de acordo com a transformação de anatase em rutilo e com o crescimento dos cristalitos nessas temperaturas.

Testes fotocatalíticos indicaram que os compósitos tratados a 350 ºC e 600 ºC têm atividades fotocatalíticas semelhantes na descoloração do corante fenossafranina, mas com uma melhor performance fotocatalítica para amostra tratada a 350 ºC no intervalo entre 20 e 40 minutos. Considerando que o nano-ZnO/TiO2 10% tratado a 600 ºC tem morfologia e energia de bandgap similar à da amostra tratada a 350 ºC, diferindo apenas na quantidade de titanato de zinco presente (que é maior na amostra aquecida a temperatura maior), pode-se concluir que ZnTiO3 não desempenha um papel significativo na atividade fotocatalítica dos nanocompósitos de ZnO/TiO2.

 

MATERIAL SUPLEMENTAR

Este texto tem como material suplementar a imagem SEM do nanocompósito tratado termicamente a 600 ºC e a 900 ºC e encontra-se disponível como arquivo PDF de livre acesso em http://quimicanova.sbq.org.br.

 

AGRADECIMENTOS

D. L. A. de Faria agradece à FAPESP (12/13119-6) e ao CNPq (309288/2009-6) pelo apoio financeiro. Os autores agradecem ainda à Profª. V. Constantino do IQUSP por disponibilizar o forno com rampa de temperatura controlada e a R. A. A. de Couto por efetuar as decomposições térmicas. Os autores agradecem também à Dra. M. L. de Souza pela doação do corante fenossafranina e discussões valiosas sobre fotocatálise.

 

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