JBCS



14:47, qui nov 21

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Artigo


Destilação atmosférica do biodiesel derivado do óleo de macaúba ou do palmiste para obtenção da fração de ésteres leves para uso como combustível de aviação
Atmospheric distillation of biodiesel from macaúba or palmiste oil to obtain lighter ester fraction to be used as aviation fuel

Luiz Vitor Leonardi HarterI,*; Douglas Queiroz SantosI; José Domingos FabrisII,III

I. Escola Técnica de Saúde, Universidade Federal de Uberlândia, 38408-100 Uberlândia - MG, Brasil
II. Departamento de Química, Instituto de Ciências Exatas, Universidade Federal de Minas Gerais, Campus Pampulha, 31270-901 Belo Horizonte - MG, Brasil
III. Instituto de Química, Universidade Federal de Uberlândia, 38400-902 Uberlândia - MG, Brasil

Recebido em: 04/07/2018
Aceito em: 24/10/2018
Publicado em: 20/12/2018

Endereço para correspondência

*e-mail: vitorharter@ufu.br

RESUMO

The production of methyl esters via transesterification reaction of triacylglycerides of macaúba and palm kernel oils, with subsequent atmospheric distillation and separation of six fractions of the produced biodiesel, corresponding to 60% of its initial volume, is reported. The composition in esters of the produced biodiesel, its fractions and remaining residue of the distillation was determined by gas chromatography. This analytical procedure has allowed to monitor the content in esters for each distilled fraction. The fractions richer in C8:0, C10:0, C12:0, C14:0 is intended to be used as an aviation fuel, in blends with the Jet-A1 biokerosene. The residues from the distillation with higher molecular weights than those corresponding to esters C16:0, C18:0 and C18:1 are destined to other combustion engines as any conventional biodiesel. For the biodiesel obtained from the macaúba kernel, this distillation led to an enrichment from 45.86% to up to 74.35% in the C12:0 ester. For the palm kernel biodiesel, the corresponding enrichment was from 66.76% up to 82.96%. Through this simple distillation, it was thus possible to effectively enrich, in C8:0 to C14:0 esters, the initial crude biofuel, with an efficiency of 30% for the macaúba and 11.5% for the palmiste biodiesel.

Palavras-chave: biokerosene; distillation; palm; macaúba.

INTRODUÇAO

A aplicaçao de biocombustíveis (especialmente do biodiesel) no segmento de aviaçao tem sido uma tendência global, particularmente nestes tempos de mudanças climáticas, em que os governos nacionais precisam se ajustar à políticas energéticas e a uma economia de baixo carbono, para honrar suas metas obrigatórias ou voluntárias de emissoes de gases do efeito estufa (GEE).1

Para fins de produçao de biodiesel, o óleo extraído das amêndoas do babaçu, por ter composiçao predominante de triacilgliceróis de ácido láurico (C12:0; cadeia molecular relativamente curta), foi considerado ser de qualidades favoráveis para uso em motores de aviao.2 O óleo do babaçu tem composiçao em ácidos graxos comparável ao do óleo da amêndoa de macaúba e ao óleo de palmiste. Os óleos dos frutos dessas palmáceas (família Arecaceae) têm relativamente teores maiores de ácido caprílico (C8:0), ácido cáprico (C10:0), ácido láurico (C12:0) e ácido mirístico (C14:0), resultando assim em ésteres de cadeias moleculares relativamente curtas; sao os denominados ésteres leves, podendo ser utilizados na produçao de blends com o querosene mineral de aviaçao (QAV), que é um derivado de petróleo obtido da destilaçao direta, sob temperatura entre 150 ºC e 300 ºC. O querosene mineral é constituído por hidrocarbonetos parafínicos, alifáticos, naftênicos e aromáticos, com estrutura molecular com número de átomos de carbono variando de 9 a 15; é líquido na temperatura do ambiente.

Os ésteres produzidos com os óleos de amêndoa de macaúba de palmiste apresentam composiçao em relaçao a tamanho de cadeia molecular comparável ao QAV, podendo ser utilizados para blends com o querosene fóssil, como é feito para o diesel, desde que atenda os parâmetros físicos de qualidade.

Considerando o disposto na Lei nº 12.490, de 16 de setembro de 2011, que define bioquerosene de aviaçao como substância derivada de biomassa renovável que pode ser usada em turborreatores e turbo propulsores aeronáuticos ou, conforme regulamento, em outro tipo de aplicaçao que possa substituir parcial ou totalmente o combustível de origem fóssil.3 Porém, ao contrário do uso de combustíveis alternativos em outros setores, a aviaçao requer restriçao de rigor muito maior, para qualquer que seja o combustível candidato, devido a vários fatores. Em primeiro lugar, as condiçoes extremas em que a combustao é submetida devem ser confiáveis e seguras, o que impoe um limitado leque de combustíveis líquidos potenciais. Finalmente, a longa vida útil das aeronaves comerciais implica que qualquer combustível candidato precisa ser compatível e adequado para utilizaçao em motores com as tecnologias já existentes.4

As companhias aéreas, fabricantes, empresas químicas e os governos estao agindo para buscar atender as necessidades de abastecimento de aeronaves. O querosene de aviaçao atingiu, a partir de 2006, o patamar de componente de maior custo operacional para as companhias aéreas. Além dos elevados preços do petróleo, os limites máximos às emissoes de carbono, estabelecidos em janeiro de 2012, levaram o setor a investir centenas de milhoes de dólares para o desenvolvimento de uma fonte de energia mais segura, acessível e menos danosa ao ambiente.5,6 A taxa relativa de crescimento do setor, aliada às preocupaçoes ambientais e em torno do futuro do abastecimento, acelerou a busca por combustíveis alternativos, em significativa proporçao, renováveis. Por essas razoes, um importante foco das pesquisas tem sido em torno do desenvolvimento de combustíveis drop in, termo utilizado para combustíveis alternativos que podem ser usados na frota existente, sem necessidade de alteraçoes nos motores das aeronaves.4 O bioquerosene, legalmente entendido como querosene sintético parafínico (Bio-SKP, sigla da denominaçao em inglês Bio-derived Synthetic Paraffinic Kerosene), derivado da biomassa, ou, na visao prática, misturas de querosene fóssil com proporçoes limitadas de ésteres de ácidos graxos leves (de C8 a C14), é uma alternativa interessante para o mercado, por ser ambientalmente menos prejudicial e apresentar composiçao química semelhante ao querosene fóssil.

A Sociedade Americana de Testes de Materiais (ASTM) publicou, recentemente, os métodos aprovados para a produçao alternativa de combustíveis de aviaçao. Sao eles, basicamente, o método de biomassa para líquido (BtL), que inclui o processo de Fischer-Tropsch (FT); e o de ésteres e ácidos graxos hidroprocessados (HEFA; sigla da denominaçao em inglês, Hydro-processed Esters and Fatty Acids), os quais podem ser usados numa proporçao volumétrica de até 50% com o QAV.7

Segundo o regulamento técnico da Resoluçao da ANP n° 63, de 5 de dezembro de 2014,8 baseada na Lei nº 12.490, de 16 de setembro de 2011,3 existem duas definiçoes para a síntese e composiçao dos querosenes alternativos de aviaçao: querosene parafínico sintetizado hidroprocessado (SPK-HEFA) e sintetizado pela via Fisher-Tropsch (SPK-FT): componente sintético da mistura que compreende essencialmente isoparafinas, n-parafinas e cicloparafinas, obtidas de um ou mais precursores produzidos pelo processo Fischer-Tropsch (FT; usando-se catalisadores de ferro ou cobalto).8 Para o SPK-HEFA, o querosene parafínico é obtido pela hidrogenaçao e desoxigenaçao de ésteres de ácidos graxos e ácidos livres com objetivo de remover essencialmente o oxigênio.

A matriz de energia do Brasil agrega produçao sustentável, segurança alimentar e desenvolvimento rural. Mesmo com a tecnologia já existente para a produçao do biodiesel, o Brasil esbarra na falta de investimentos suficientes e de políticas públicas que sejam mais vigorosamente estimuladoras à pesquisa científica, ao desenvolvimento tecnológico e à produçao industrial de bioquerosene para aviaçao civil, na escala nacional.9

D. A. Wardle sustenta ampla argumentaçao técnica para o uso de baixas concentraçoes de biodiesel em mistura com o querosene mineral, para uso na propulsao de aeronaves comerciais.10 Tal proposta implica o uso de biodieseis com composiçao em ésteres metílicos que permitissem a preservaçao de características críticas da mistura combustível, para avioes. Uma dessas características é o ponto de congelamento do líquido, que, para turbinas de jatos, deverá ser, de no máximo, -40 ºC (especificaçao para os querosenes de aviaçao alternativos SPK - FT ou SPK - HEFA),11 ou -47 ºC, para o QAV, fóssil.12 O enriquecimento em ésteres relativamente mais leves, de cadeia molecular mais curta é apenas um dos desafios. Damasceno et al. reportam a separaçao da fraçao enriquecida em ésteres de menor cadeia molecular de biodiesel preparado de óleo de amêndoa do fruto da macaúba, com uma coluna com leito fixo de material adsorvente, com uma peneira molecular comercial ou com carvao ativado.13

Llamas et al. utilizaram a fraçao mais leve, obtida por destilaçao a vácuo de ésteres metílicos de óleos de coco e de palmiste. Os ésteres metílicos leves, de baixo ponto de ebuliçao, foram misturados nas razoes volumétricas convencionais de 5%, 10% e 20%, com dois tipos de querosene fóssil (QAV). As misturas atenderam a algumas especificaçoes selecionadas para o estudo.14

O combustível alternativo para aviaçao obtido de matérias-primas sustentáveis deve atender a determinados requisitos de segurança e apresentar propriedades físico-químicas semelhantes ao querosene mineral. Oliveira et al. avaliou a produçao de biocombustível enriquecido com ésteres de cadeia curta, utilizando a destilaçao molecular de FAME (Fatty Acid Methyl Ester) obtido do óleo de babaçu. Um combustível com propriedades próximas às dos biocombustíveis de aviaçao foi obtido a 140 ºC. A essa temperatura, mais de 80% dos ésteres na composiçao do produto estavam dentro do intervalo desejado e houve uma recuperaçao de massa superior a 88%. Além disso, o biocombustível enriquecido com ésteres de cadeia curta foi misturado com querosene fóssil em diferentes concentraçoes e suas propriedades foram analisadas, para avaliar os efeitos da adiçao gradual desse biocombustível ao querosene de aviaçao comercial.15

No trabalho de pesquisa aqui reportado, buscou-se utilizar bio-óleos com maiores teores em ácido láurico (C12:0), mas também de C8:0, C10:0 e C14:0. Para isso, escolheu-se o óleo das amêndoas dos frutos da macaúba (Acrocomia aculeata) e do dendê (Elaeis guineensis), ou palma (tal óleo, denominado palmiste), na produçao de bioquerosene alternativo, via transesterificaçao metílica e catálise alcalina homogênea, com posterior destilaçao atmosférica dos ésteres mais leves, para obtençao de destilado enriquecido em C8:0 a C14:0, tamanhos de cadeias carbônicas dominantes dos hidrocarbonetos do QAV.

 

PARTE EXPERIMENTAL

Produçao do biodiesel de óleo de amêndoa da macaúba e de palmiste

O biodiesel foi obtido via transesterificaçao metílica do óleo de amêndoa da macaúba e do palmiste, utilizando-se como catalisador o hidróxido de potássio. Na sequência, realizou-se a separaçao e a purificaçao do biodiesel produzido, de acordo com o seguinte procedimento experimental: foram pesados 400 g de óleo vegetal, 80 g de metanol e 4 g de hidróxido de potássio. Após a mistura completa do metanol com o hidróxido de potássio, foi misturado o óleo vegetal, permanecendo em agitaçao por um período de 50 min. O biodiesel e a glicerina formados foram separados em funil de decantaçao; a mistura binária foi posta em repouso por 24 h, para posterior separaçao da glicerina. O biodiesel resultante passou por lavagem com HCl 0,1 mol L-1 e com água a 80 ºC. Ainda com o objetivo de purificaçao, o biodiesel produzido foi levado em rotaevaporador a 95 ºC por 1 h. Em seguida, foi posto em estufa a 105 ºC por 2 h. Os biodieseis produzidos foram devidamente armazenados para realizaçao da destilaçao simples com corte em fraçoes e também com recolhimento de 60% do volume disponibilizado para destilar.

Destilaçao simples com cortes - concentraçao dos ésteres leves

O biodiesel produzido passou por processo de destilaçao simples com cortes, realizada a pressao atmosférica, utilizando para isso um aparelho de destilaçao, composto de balao de fundo redondo de 1000 mL, coluna de destilaçao do tipo vigreux de 300 mm, junta de conexao com saída lateral para conexao de condensador e abertura superior para conexao de rolha perfurada com inserçao de termômetro. A coluna de destilaçao foi isolada com utilizaçao de la de vidro e revestimento com papel alumínio. Como fonte de aquecimento foi utilizada uma manta.

Destilaçao simples com cortes em fraçoes

Para estudo da composiçao do destilado em relaçao ao teor de ésteres, foi realizada a destilaçao de 250 mL de cada biodiesel produzido, sendo recolhidas seis fraçoes consecutivas de 25 mL, armazenadas separadamente. As temperaturas do topo da coluna foram monitoradas e registradas durante o processo. O total de volume recolhido corresponde a 60% do total de biodiesel disponibilizado para a destilaçao. Permitindo assim acompanhar a concentraçao dos ésteres durante o corte em fraçoes do destilado, verificando a variaçao nos teores, possibilitando adotar um melhor ponto de corte da destilaçao, para obtençao de destilados com maiores teores de C8 a C14 e menores teores em C18:0 e C18:1.

O resíduo de fundo do balao foi retirado e armazenado, para posterior análise da composiçao em relaçao aos ésteres presentes, também para o biodiesel e as seis fraçoes. A análise da composiçao do biodiesel produzido, do resíduo de fundo da destilaçao e das 6 fraçoes destiladas, em relaçao ao tamanho das cadeias carbônicas dos ésteres formados, de C8:0, C10:0, C12:0, C14:0, C16:0, C18:0 e C18:1, foram realizadas através da metodologia adaptada EN 14103, em um cromatógrafo a gás HP7820A equipado com detector por ionizaçao de chamas. Utilizou-se uma coluna HP-INNOWAX (HP) 15 m x 0,25 mm x 0,25 mm com gradiente de temperatura: 70 ºC, com aquecimento de 10 ºC/min até 220 ºC; injetor (split de 1/50) a 250 ºC e detector a 260 ºC. Hélio como gás de arraste (3 mL/min). Volume de injeçao de 1 ml. Tempo de corrida de cada injeçao de aproximadamente 30 minutos. Nas amostras (~10 mg) foi adicionado 1 mL de soluçao de heptadecanoato de metila (C17:0) a 1,78 mg/mL como padrao interno.

 

RESULTADOS E DISCUSSAO

Temperaturas de retirada das fraçoes destiladas

As temperaturas de retirada das fraçoes de cada biodiesel foram registradas com auxílio de termômetro instalado no topo da coluna de destilaçao e anotadas no início da retirada do volume de 25 mL e ao final de cada coleta. Os valores das temperaturas sao apresentados na Tabela 1.

 

 

É possível verificar que a temperatura de início da destilaçao foi a mesma para os dois biodieseis utilizados, 110 ºC. Seguindo uma tendência de aumento proporcional ao tempo de destilaçao, a partir das segundas fraçoes coletadas. Verifica-se também que, na destilaçao do biodiesel do palmiste, foram registradas temperaturas maiores, em relaçao ao biodiesel da macaúba, o que pode ter influenciado a eficiência da destilaçao, na concentraçao dos ésteres de menor cadeia molecular, fato que pode ter sido ocasionado pelo uso de manta de aquecimento, por nao permitir um controle do aquecimento com maior precisao. O maior valor registrado para o biodiesel de macaúba foi de 230 ºC, no final da retirada da fraçao 3. Para o biodiesel de palmiste, o maior valor registrado foi de 269 ºC, para a fraçao 5.

Composiçao do biodiesel, fraçoes destiladas e resíduo

Os respectivos cromatogramas gerados para os biodieseis de amêndoa de macaúba e palmiste sao apresentados abaixo, Figura 1.

 


Figura 1. Representaçao de cromatograma da análise do teor de ésteres: (A) biodiesel de amêndoa de macaúba e (B)biodiesel de palmiste

 

O primeiro pico do cromatograma é do solvente, heptano, utilizado para diluiçao da amostra. Os demais sao dos ésteres presentes, com os respectivos tempos de retençao, em minutos. Para o C8:0, 4,17 min; C10:0, 7,13 min; C12:0, 10,35 min; C14:0, 13,48 min; C16:0, 16,70 min, C18:0, 20,06 min e C18:1, 23,73 min. O padrao interno utilizado C17:0, heptadecanoato de metila, apresentou 19,38 min de tempo de retençao.

Através da análise cromatográfica dos produtos obtidos foram encontrados os resultados da porcentagem de ésteres metílicos, em relaçao ao tamanho da cadeia carbônica.

Conforme descrito anteriormente, foi realizada a destilaçao de 250 mL do biodiesel produzido, sendo recolhidas seis fraçoes consecutivas de 25 mL, armazenadas separadamente, correspondendo a 60% do total de biodiesel disponibilizado para a destilaçao.

Para o biodiesel de amêndoa de macaúba

Sao apresentados os resultados das análises cromatográficas para o biodiesel produzido, fraçoes e resíduo, Tabela 2 e Figura 2.

 

 

 


Figura 2. Teor de ésteres das fraçoes destiladas do biodiesel de óleo de amêndoa de macaúba

 

Da Figura 2, tem-se que o biodiesel de amêndoa de macaúba apresentou 42% de ésteres metílicos com 12 carbonos, confirmando que o óleo de amêndoa de macaúba é rico em ácido láurico. O biodiesel apresentou aproximadamente 82% de ésteres com cadeia entre 8 a 14 carbonos.

Na destilaçao em fraçoes, observou-se nas primeiras um maior teor em ésteres de cadeia curta, entre 8 a 12 carbonos. Para o C8:0 e C10:0 os maiores teores foram encontrados na fraçao 1, 38,49% e 11,16%, respectivamente, nas demais fraçoes houve um declínio, sendo na fraçao 6, os valores 0,26% e 0,27%. Das fraçoes 1 a 6, o teor de C12:0, foi de 46% até 31,6%; o maior valor foi encontrado na fraçao 3, 74,35%. O C14 variou de 2,20% a 17,20%. Para o C16, o teor variou de 0,77% a 13,24%. O C18:0 e o C18:1, apresentaram teores de 1,52% na fraçao 1 até 37,40% na fraçao 6, indicando que o ponto para o melhor corte seria entre as fraçoes 5 e 6. O resíduo da destilaçao apresentou os maiores teores de C18:0/C18:1, com maiores temperaturas de destilaçao. Considerando os ésteres de cadeia curta, C8:0, C10:0, C12:0 e C14:0, presentes no biodiesel em relaçao aos mesmos ésteres presentes nos destilados, tem-se uma eficiência de 35%.

Para acompanhamento do processo de destilaçao e da qualidade dos produtos, foram determinados o balanço de massa e a massa específica, apresentados na Tabela 3.

 

 

Verifica-se aumento proporcional dos valores da massa específica das fraçoes, tendo como média 871,4 kg m-3, pois no início do processo têm-se, nas primeiras fraçoes, maiores concentraçoes de ésteres com menor tamanho de cadeia, apresentando densidades menores. Durante o desenvolvimento do processo, as concentraçoes dos ésteres de maior cadeia vao aumentando e os de menor cadeia vao se esgotando, acarretando num aumento proporcional da massa específica. O resíduo da destilaçao apresentou maior massa específica, devido a maior presença de ésteres C18:0/ C18:1. A partir do balanço de massa do processo de destilaçao, tem-se que 0,2230 kg de biodiesel foram utilizados na destilaçao, e foram produzidos 0,1308 kg de destilado e 0,0922 kg de resíduo da destilaçao, no total. É possível utilizar os dados da Tabela 2 e calcular a massa de cada éster para cada fraçao.

Para o biodiesel de palmiste

Sao apresentados os resultados das análises cromatográficas para o biodiesel produzido, fraçoes e resíduo, Tabela 4 e Figura 3.

 

 

 


Figura 3. Teor de ésteres das fraçoes destiladas do biodiesel de óleo de palmiste

 

Da Figura 3, tem-se que o biodiesel de palmiste apresentou maior teor em ésteres metílicos com 12 carbonos, de 55%, confirmando também que o óleo de palmiste é rico em ácido láurico, apresentando maior proporçao do que no biodiesel de macaúba. Porém, o biodiesel apresentou aproximadamente 73% de ésteres com cadeias entre 8 a 14 carbonos, menor valor que o biodiesel de macaúba.

Na destilaçao em fraçoes, observou-se nas primeiras um maior teor em ésteres de cadeia curta, entre 8 a 12 carbonos. Para o C8:0 e C10:0 os maiores teores foram encontrados na fraçao 1, 17,89% e 9,03%, respectivamente; nas demais fraçoes houve um declínio, sendo na fraçao 6, 0,07% e 0,26%. Das fraçoes 1 a 6, o teor de C12, foi de 66,76% até 53,04%; o maior valor encontrado foi na fraçao 2, 82,96%. O C14:0 variou de 4,12% a 25, 92%. Para o C16:0, o teor variou de 1,05% a 9,24%. O C18:0 e C18:1, apresentaram teores de 1,16%, na fraçao 1, até 11,47% na fraçao 6, indicando que o ponto para o melhor corte está entre as fraçoes 5 e 6, pois na sexta fraçao ocorre aumento do teor de C14:0, ainda dentro da faixa de ésteres de interesse na separaçao. O resíduo da destilaçao apresentou os maiores teores de C16:0 e C18:0/C18:1

Considerando os ésteres de cadeia curta, C8:0, C10:0, C12:0 e C14:0, presentes no biodiesel em relaçao aos mesmos ésteres presentes nos destilados, tem-se uma eficiência de 11,5%.

Os valores de massa específica, volumes e balanço de massa sao apresentados na Tabela 5.

 

 

Verifica-se também, como para o biodiesel de amêndoa de macaúba, aumento proporcional dos valores da massa específica das fraçoes, tendo como média 870,1 kg m-3, apresentando as mesmas características de aumento de massa específica. O resíduo da destilaçao apresentou maior massa específica devido à maior presença de ésteres C18:0/ C18:1.

A partir do balanço de massa do processo de destilaçao, tem-se que 0,2238 kg de biodiesel foi utilizado na destilaçao. E foram produzidos 0,1304 kg de destilado e 0,0933 kg de resíduo da destilaçao, no total.

 

CONCLUSAO

Dos presentes resultados sobre as composiçoes do biodiesel e de seus destilados, e das respectivas eficiências do processo de destilaçao atmosférica, verificaram-se as viabilidades tecnológica e econômica, com significativo ganho ambiental, em relaçao aos padroes convencionais, do uso do óleo de amêndoa de macaúba e óleo de palmiste como matéria-prima para produçao de biodiesel rico em ésteres leves (C8:0 a C14:0). A destilaçao levou a destilados mais concentrados nesses ésteres, por reduçao da proporçao nos ésteres de maior cadeia molecular. O destilado é adequado à formulaçao do combustível alternativo para aviaçao, por mistura volumétrica com o querosene fóssil de aviaçao (QAV), para assegurar propriedades que estejam em conformidade com a resoluçao ANP nº37/2009. Ainda, o resíduo da destilaçao pode ser utilizado na mistura com o diesel, devido à presença de ésteres C18:0/C18:1, similar ao biodiesel de óleo de soja.

Da análise destes resultados, pôde-se determinar que o ponto para realizar o corte da destilaçao seria entre as fraçoes sequenciais de coleta 5 e 6; na fraçao 6, o teor de C12:0 começa a diminuir com aumento do teor de C14:0, ainda dentro da faixa de ésteres relativamente leves, de interesse na separaçao.

Assim, o destilado recolhido ficaria entre 50 e 60% do total de biodiesel disponibilizado para a destilaçao, para uma melhor separaçao dos ésteres de cadeia curta (C8:0, C10:0, C12:0 e C14:0), de interesse para uso como bioquerosene alternativo de aviaçao nas misturas com o QAV; o respectivo resíduo da destilaçao, rico em C16:0 e C18:0/ C18:1, pode ser utilizado na mistura com o diesel.

Para cada 1000 mL de biodiesel produzido utilizando óleos vegetais ricos em ácidos graxos de cadeia curta, até 600 mL poderiam ser usados como combustível no transporte aéreo e 400 mL também no terrestre. A alternativa de uso da fraçao leve de ésteres do biodiesel favorece ainda os setores da agricultura familiar e os ganhos sociais às atividades extrativistas sustentáveis, com o emprego, em bases tecnológicas, de matérias-primas pouco exploradas ou negligenciadas no mercado mais capitalizado.

 

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à Escola Técnica de Saúde (ESTES) e ao Instituto de Química (IQ) da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

JDF agradece ao CNPq o apoio financeiro, pela bolsa de produtividade em pesquisa, projeto # 304958/2017-4.

 

REFERENCIAS

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