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14:39, qui nov 21

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Educação


O ano internacional da tabela periódica e o ensino de química: das cartas ao digital
The international year of the periodic table and the teaching of chemistry: from letters to digital

Bruno S. Leite*

Unidade Acadêmica de Serra Talhada, Universidade Federal Rural de Pernambuco, 56909-535 Serra Talhada - PE, Brasil

Recebido em 26/12/2018
Aceito em 21/03/2019
Publicado na web em 18/04/2019

Endereço para correspondência

*e-mail: leitebrunosilva@gmail.com

RESUMO

Proclaimed by UNESCO the International Year of the Periodic Table of Chemical Elements in 2019 (IYPT 2019) will commemorate a remarkable series of important milestones in the history of the periodic table of chemical elements. The periodic table is a valuable instrument for chemistry teaching and their study is important in the development of key chemical concepts. In this sense, this paper aims to present a systematic review of the literature on the productions involving the periodic table in the chemistry teaching, sought answer how the periodic table has been used in the chemistry teaching and what didactic strategies used. For this, a systematic review was carried out in six chemistry journals (with papers in the area of Chemical Education) in the period 2009-2018. During the review, we found four categories (level of education, approach, strategy, didactic/pedagogical resource). The results show that of the 28 articles analyzed, 40% of the publications used didactic/pedagogical approaches. Furthermore, it was possible to observe that ludicity (43%), bibliographic survey (25%) and didactic sequences (18%) represented the strategies most used in these articles. Finally, was evidence that card games, board games, and digital games are the most used didactic/pedagogical resources in the journals' publications.

Palavras-chave: periodic table; chemistry teaching; systematic review; didactic strategies; IYPT 2019.

Durante a 74ª Reuniao Plenária em 20 de dezembro de 2017, a 72ª sessao da Assembleia Geral das Naçoes Unidas (ONU) proclamou o ano de 2019 como o Ano Internacional da Tabela Periódica dos Elementos Químicos (IYPT 2019).1,2 Ao anunciarem um ano internacional focando a tabela periódica e suas aplicaçoes, a ONU reconhece a importância da Química nos mais diversos setores da sociedade. Cabe ressaltar que, a proclamaçao do IYPT 2019 teve suas origens no 20º Congresso Mendeleev, realizado em 30 de setembro de 2016 em Ekaterinburg, na Rússia, em que votaram 3000 participantes pela realizaçao do IYPT em 2019.3 A federaçao Russa de Química encaminhou para a ONU a proposta para proclamaçao do IYPT 2019. Além disso, durante a Assembleia Geral da Uniao Internacional de Química Pura e Aplicada (IUPAC) em Sao Paulo, em Julho de 2017, realizada concomitantemente com a 40ª Reuniao Anual da Sociedade Brasileira de Química, o Conselho da IUPAC aprovou por unanimidade a resoluçao do Comitê Executivo da IUPAC (Pequim, China, de novembro de 2016) em favor da proclamaçao de 2019 como o Ano Internacional da Tabela Periódica dos Elementos Químicos.4

A Tabela Periódica dos Elementos Químicos é mais do que apenas um guia ou catálogo de todos os átomos conhecidos no Universo; é essencialmente uma janela para o Universo, ajudando a expandir nossa compreensao de mundo. O desenvolvimento da Tabela Periódica é uma das realizaçoes mais significativas da Ciência e um conceito científico unificador, com amplas implicaçoes na Química, Física, Biologia, Astronomia e em outras Ciências. Ela é um recurso que permite os cientistas prever as características e as propriedades da matéria na Terra e no Universo. Diversas áreas tiveram impacto revolucionário a partir das contribuiçoes da Tabela Periódica (por exemplo, medicina nuclear, estudo de elementos e compostos químicos no espaço e na previsao de novos materiais).

Nos últimos 100 anos, a Ciência evoluiu rapidamente na compreensao de como os elementos encontrados na natureza sao formados. Pela primeira vez em toda a sua história a Tabela Periódica aparece "mais completa": todos os elementos de seus 7 períodos foram descobertos e adquiriram seus nomes finais (Figura 1) - Recentemente, em 28 de novembro de 2016 a IUPAC aprovou3,5 o nome e símbolo de quatro novos elementos que foram adicionados à Tabela Periódica: nihônio (Nh), moscóvio (Mc), tennesso (Ts) e oganessônio (Og), aplicados aos elementos 113, 115, 117 e 118, respectivamente.

 


Figura 1. Tabela Periódica dos Elementos da IUPAC. Extraído de IUPAC6

 

O IYPT 2019 coincide com o aniversário de 150 anos da descoberta do Sistema Periódico pelo cientista russo Dmitri Ivanovich Mendeleev (1834-1907) em 1869 e com o Centenário da IUPAC.1 Ele foi o primeiro a perceber que as propriedades dos elementos químicos sao periódicas em sua natureza. A tabela proposta por Mendeleev, embora diferente da tabela que utilizamos atualmente, foi o primeiro trabalho em que havia uma relaçao vertical, horizontal e diagonal de propriedades dos elementos. Mendeleev tinha certeza de que sua descoberta levaria a avanços consideráveis na Ciência. O elemento 101 foi chamado de mendelévio em reconhecimento aos feitos de Mendeleev.

Diante das inúmeras contribuiçoes que a tabela periódica proporcionou a ciência, o objetivo desta pesquisa é analisar os trabalhos envolvendo a tabela periódica no ensino de química. Assim, questionamos:

Como a tabela periódica tem sido utilizada no ensino de química?

Quais foram as estratégias didáticas utilizadas?

No intuito de alcançar essas respostas, o mapeamento dar-se-á por meio de uma revisao sistemática de literatura. Destarte, buscamos fornecer contribuiçoes para a compreensao das estratégias didáticas que têm sido utilizadas no uso da tabela periódica no Ensino de Química.

Na próxima seçao, destacamos uma concisa discussao sobre a história da tabela periódica, nao tendo como objetivo realizar uma historiografia. Na seçao seguinte descrevemos os caminhos metodológicos aplicados para a coleta e análise dos dados neste estudo. Os resultados alcançados durante a pesquisa estao descritos na seçao Resultados e Discussao. A última seçao se dedica às consideraçoes finais acerca da temática e algumas percepçoes extraídas da pesquisa.

 

UMA BREVE HISTORIA DA TABELA PERIODICA

A comemoraçao do IYPT 2019 destaca uma série notável de marcos importantes na história da tabela periódica. Nao é nosso intuito apresentar uma história da tabela periódica, contudo destacamos alguns momentos que contribuíram para a construçao da tabela que conhecemos atualmente.

Um dos cientistas mais conhecidos entre os químicos, o francês Antonie-Laurent de Lavoisier (1743-1794), em 1789, publicou uma lista de 33 elementos químicos agrupados em gases, metais, nao-metais e terrosos.4,7 Essa seria uma primeira tentativa (registrada) de organizar os elementos químicos. Em meados do século XIX, 63 elementos químicos já haviam sido descobertos, e buscas por encontrar regularidades neste conjunto foram feitas repetidamente. Em 1829, o químico alemao Johann Wolfgang Döbereiner (1780-1849) observou que quando muitos dos elementos eram agrupados em três (tríades) com base em suas propriedades químicas e organizados por peso atômico, o segundo membro de cada tríade era aproximadamente a média do primeiro e do terceiro elemento próximo do original, o que ficou conhecido como a Lei das Tríades.4,8

Em 1849, Germain Henri Ivanovitch Hess (1802-1850), introduziu a ideia de "família" de elementos químicos em seu livro sobre Fundamentos da Química Pura.7 Hess descreveu quatro grupos de nao metais com propriedades químicas semelhantes. Jean Baptiste A. Dumas (1800-1884), em sua busca por explicar o trabalho de Döbereiner, estabeleceu, em 1851, relaçoes numéricas entre os pesos atômicos de algumas famílias de elementos.7 Ele publicou dois artigos (em 1858 e 1859)9,10 em que tentou desenvolver a visao de que para a classificaçao dos elementos era possível descobrir relaçoes "geradoras" similares àquelas que definem a série de compostos orgânicos. Os elementos poderiam ser divididos em "famílias naturais". Os pesos atômicos de todos os membros da mesma família estavam ligados por uma simples relaçao aritmética; eles aumentavam em múltiplos de dezesseis. Outras tentativas foram feitas para sistematizar elementos químicos, contudo nenhum dos modelos apresentados, até entao, atraiu a atençao da comunidade científica.11

Após a primeira Conferência Internacional dos Químicos, em setembro de 1860 em Karlsruhe (Alemanha), ficou claro que vários cientistas notaram algumas regularidades entre os elementos químicos. A primeira tentativa de organizar os elementos em ordem crescente de pesos atômicos foi realizada pelo geólogo Alexandre-Émile Béguyer de Chancourtois (1820-1886) em 1862,8,12 que colocou os elementos ao longo da hélice (dispôs os elementos conhecidos ao longo de uma espiral cilíndrica inclinada a 45°) e observou a recorrência cíclica frequente de suas propriedades químicas ao longo do eixo vertical. Chancourtois contribuiu com o desenvolvimento da tabela periódica por meio do parafuso telúrico (vis tellurique), um arranjo tridimensional dos elementos que constituem uma forma inicial da classificaçao periódica. O parafuso telúrico traçou os pesos atômicos dos elementos na parte externa de um cilindro, de modo que uma volta completa correspondeu a um aumento de peso atômico de 16. Essa disposiçao significa que certos elementos com propriedades semelhantes aparecem em uma linha vertical. Embora o parafuso telúrico nao exibisse corretamente todas as tendências que eram conhecidas na época, Chancourtois foi o primeiro a usar um arranjo periódico de todos os elementos conhecidos, mostrando que elementos similares aparecem em pesos periódicos de átomos.

Em 1864, William Odling (1829-1921), após outras tentativas (em 1857 publicou uma classificaçao de 13 grupos baseados nas tríades), organizou um sistema de classificaçao dos elementos unindo-os em grupos com propriedades análogas (propriedades dos seus compostos) e seguindo a ordem crescente de seus pesos atômicos.7 A tabela proposta por Odling considerava as propriedades dos elementos e dos compostos, sendo discutida pela comunidade científica na época e considerada uma das precursoras da classificaçao periódica.

Em 1866, o químico e músico John Alexander Reina Newlands (1837-1898) notou que havia similaridades entre elementos com pesos atômicos que diferiam por sete (a propriedade de uma dada substância se repetia na oitava substância, seguindo a ordem crescente dos pesos atômicos).7,8 Ele chamou isso de "A Lei das Oitavas", fazendo uma comparaçao com as oitavas da música. Entretanto, Newlands nao deixou nenhuma lacuna para os elementos nao descobertos em sua tabela e, às vezes, teve que inserir dois elementos em uma caixa para manter o padrao. Newlands insistia em encontrar harmonia musical mística na tabela.11 Ademais, os gases nobres (Hélio, Néon, Argônio etc.) só foram descobertos mais tarde, o que explica o porquê havia uma periodicidade de 7 e nao 8 na tabela de Newlands. Embora tenha sido zombado pelos presentes na Chemical Society em Londres ao relatar seus achados (um deles perguntou sarcasticamente se Newlands havia tentado organizar os elementos em ordem alfabética),13 esta sociedade reconheceu seus feitos em 1887 lhe concedendo a Medalha Davy of the Royal Society.

No período de 1864-1870, o médico Julius Lothar Meyer (18301895), quatro anos mais velho que Mendeleev, produziu várias Tabelas Periódicas. Em 1864 publicou sua primeira tabela contendo apenas 28 elementos dos 56 elementos conhecidos e organizados por sua valência (com quantos outros átomos eles podem combinar). Esses elementos eram quase todos elementos do grupo principal, mas em 1868 ele incorporou os metais de transiçao em uma tabela muito mais desenvolvida. Esta tabela de 1868 listou os elementos em ordem de peso atômico com elementos de mesma valência dispostos em linhas verticais, semelhantes à Tabela de Mendeleev. Infelizmente para Meyer, seu trabalho nao foi publicado antes da publicaçao da tabela periódica de Mendeleev. Meyer reconheceu as tendências periódicas nas propriedades dos elementos. O gráfico elaborado a partir de sua tabela mostrava um padrao no volume atômico de um elemento quando plotado em relaçao ao seu peso atômico, além de Meyer admitir que sua tabela era, fundamentalmente, a mesma que fora proposta por Mendeleev.14

O dia 1º de março de 1869 é considerado como a data da descoberta da Lei Periódica. Nessa data, Mendeleev completou seu trabalho sobre "A experiência de um sistema de elementos baseado em seu peso atômico e semelhança química". Em 18 de março, uma versao melhorada foi apresentada à Sociedade Russa de Química em Sao Petersburgo.7 Mendeleev publicou seu primeiro diagrama da tabela periódica em 1869 no artigo "A Correlaçao de Propriedades com o Peso Atômico dos Elementos" (no Journal of the Russian Chemical Society).15 Ele desafiou alguns dos pesos atômicos conhecidos e previu que havia certos elementos ainda a serem descobertos (Figura 2).

 


Figura 2. Tabela proposta por Mendeleev. Fonte: Mendeleev, 186915

 

O avanço decisivo de Mendeleev reside no fato de que ele previu propriedades de cinco elementos e seus compostos, e deixou espaços na tabela de elementos a serem desvendados no futuro,16 três foram descobertos em um período de 15 anos (enquanto Mendeleev era vivo): o eka-alumínio denominado de Gálio (1875), o eka-boro chamado de Escândio (1879) e o eka-silício nomeado como Germânio (1886). Essa tabela (Figura 2) representava alguns avanços científicos, pois apresentava alguns espaços vazios, prevendo a existência de outros elementos, até entao nao descobertos; permitia prever as propriedades de alguns elementos ainda nao descobertos, e; considerava várias propriedades químicas e físicas associadas aos elementos.

As observaçoes publicadas em 1869 por Mendeleev, primeiro numa ordem vertical, mais tarde naquele ano em um arranjo horizontal, foram precedidas por descobertas de "regularidades" similares as de Chancourtois, Newlands, Odling e Meyer.11 Apenas Meyer produziu um arranjo tabular bastante similar (logo após) ao de Mendeleev, na qual publicou uma versao atualizada de sua tabela, que foi muito semelhante à de Mendeleev, em 1870. Mendeleev e Meyer foram homenageados por suas descobertas sobre as "relaçoes periódicas dos pesos atômicos", compartilhando a Medalha Davy of the Royal Society em 1882.11 Contudo, atualmente, Mendeleev é quase universalmente aceito como o criador da Tabela Periódica dos Elementos, talvez porque ele incluísse todos os elementos conhecidos e porque ele usou a Tabela de forma preditiva. Mendeleev escreveu as propriedades dos elementos em pedaços de cartas, e a tradiçao diz que, depois de organizar as cartas enquanto jogava paciência, "de repente" ele percebeu que, organizando as cartas do elemento em ordem crescente de peso atômico, certos tipos de elementos ocorriam regularmente. Nas palavras do próprio Mendeleev "Vi num sonho uma tabela em que todos os elementos se encaixavam como requerido. Ao despertar, escrevi-a imediatamente numa folha de papel"13 (p. 246). Apesar do fato de que algumas dessas previsoes estavam incorretas e que em seu sistema nao havia lugar para os Gases Nobres, ele ainda é geralmente aceito como "arquiteto-chefe", desde que descobriu o "sistema" periódico; somente mais tarde foi alterado para "Tabela", como usamos agora na Tabela Periódica dos Elementos.

A Tabela Periódica foi descoberta em uma época em que estruturas atômicas e elétrons eram desconhecidos e equipamentos para purificar e separar elementos ainda eram primitivos.11 As descobertas de Mendeleev, Meyer e outros, portanto, devem ser vistas como imensas. As histórias das descobertas dos elementos químicos da tabela periódica sao muitas vezes uma ótima inspiraçao para os "iniciantes" na Química. O fato de William Ramsey conseguir acrescentar uma nova coluna à tabela periódica é de se admirar. Muitos desconhecem que Ramsey originalmente pensava que o argônio era uma mistura de três gases com pesos atômicos quase idênticos que ele denominou de Anglium, Scotium e Hibernium.17 De maneira similar desconhecem o fato de várias mulheres terem contribuído significativamente para a descoberta de elementos da tabela periódica,4 alguns exemplos foram:

Marie Sklodowska-Curie (1867-1934) pela descoberta do rádio (Ra) e polônio (Po). Além de ter recebido o prêmio Nobel em 1903 e 1911, ela teve atribuído ao seu nome o elemento 96 (Cúrio);

Lise Meitner (1878-1968) que identificou um isótopo de protactínio (Pa) em 1917, o elemento 109 (Meitnério) foi nomeado em sua homenagem;

Ida Noddack (1896-1978) pela descoberta do rênio (Re) em 1925;

Berta Karlik (1904-1990) pela descoberta de isótopos do astato (At);

Marguerite Catherine Perey (1909-1975) que em 1939 descobriu o elemento frâncio (Fr), baseada no preenchimento das lacunas na tabela periódica de Mendeleev.4

A construçao da Tabela Periódica ilustra o modo pelo qual a química se desenvolveu. Nos últimos 150 anos de desenvolvimento e diversas modificaçoes sugeridas, o sentimento geral sobre a Tabela Periódica parece ser que a "forma longa" comumente encontrada nas paredes da sala de aula e em quase todos os livros de química é razoavelmente satisfatória. Mas isso nao significa que nao ocorreram tentativas de modificá-la. Diferentes sugestoes para um novo arranjo da Tabela Periódica foram propostas, desde um período zero com neutrino (υ) e neutrônio (Nn)18 até elementos hipotéticos do final do 7º e 8º períodos.19 Incontestavelmente, a Tabela Periódica é um dos mais importantes instrumentos de trabalho para os químicos e sua construçao representa um marco na história da Ciência.

 

CAMINHOS METODOLOGICOS

Optou-se pela revisao sistemática de literatura como procedimento metodológico a fim de investigar as produçoes no ensino de Química relacionadas com a tabela periódica, de forma a conhecer as discussoes que permeiam estas produçoes. Esta pesquisa possui natureza exploratória e descritiva, pois tem como procedimentos técnicos na coleta de dados um processo de busca sistemática.

Revisao sistemática de literatura

A revisao sistemática de literatura é um tipo de investigaçao científica que tem por objetivo reunir, avaliar criticamente e conduzir uma síntese dos resultados de múltiplos estudos primários.20 Estudos primários sao estudos individuais que contribuem para uma revisao sistemática que se caracteriza por ser objetiva, sistemática, transparente e replicável. Assim, essa revisao é uma forma de estudo secundário que "utiliza a literatura sobre determinado tema como fonte primária de dados, a fim de obter um resumo de evidências, mediante a sistematizaçao e aplicaçao de métodos explícitos de busca, apreciaçao crítica e síntese de informaçao selecionada"21 (p.3). Segundo Leite22 essa metodologia "tem como objetivo abordar problemas específicos, identificando, avaliando criticamente e integrando os resultados de todas as questoes relevantes" (p.3). Para Kitchenham,23 uma revisao sistemática é "um meio de identificar, avaliar e interpretar toda a pesquisa disponível relevante para uma questao de pesquisa específica, ou área temática ou fenômeno de interesse" (p.1).

Em linhas gerais, a revisao sistemática de literatura consiste em uma pergunta norteadora (uma pergunta de pesquisa claramente formulada) que faz uso de métodos sistemáticos para identificar, selecionar e avaliar criticamente estudos publicados anteriormente relacionados à pergunta em questao.22 Os métodos para elaboraçao de revisoes sistemáticas preveem algumas etapas: Pergunta de revisao; Pesquisas na literatura; Avaliaçao crítica; Extraçao de dados; Síntese de dados.22-25

Com base nisso, passamos a apontar os caminhos seguidos para esta pesquisa: a) definiçao do objetivo, da pergunta de pesquisa, de banco de dados, dos critérios de inclusao e exclusao, das palavras-chaves; b) seleçao de trabalhos; c) análise e síntese dos estudos incluídos na revisao sistemática de literatura; d) redaçao; e) publicaçao dos resultados.22-24,26,27 Nesse sentido, o objetivo definido foi investigar trabalhos que envolvem a tabela periódica no ensino de Química. As perguntas de pesquisa foram: (i) Como a tabela periódica tem sido utilizada no ensino de Química? (ii) Quais foram as estratégias didáticas? De modo a responder esses questionamentos, esta investigaçao foi realizada em 5 etapas: 1) levantamento das publicaçoes envolvendo tabela periódica no ensino de Química; 2) Leitura dos trabalhos. Para buscar as evidências, foi necessário realizar a leitura dos títulos, resumos e palavras-chaves, além da leitura na íntegra do texto quando apresentavam fragilidades (por exemplo, omissao de informaçoes essenciais para a pesquisa); 3) Análise das publicaçoes no que diz respeito a temática pesquisada; 4) Categorizaçao das publicaçoes nos periódicos. Baseando-se na leitura e características dos textos, observamos quatro categorias (Quadro 1) nos trabalhos publicados. Em algumas publicaçoes, nao foi possível observar ou nao se aplicavam as categorias descritas; 5) Análise das estratégias didáticas utilizadas no uso da tabela periódica no ensino de Química.

 

 

Coleta e análise dos dados

Para a coleta de dados selecionamos inicialmente artigos de 22 periódicos. Os critérios para escolha inicial destes periódicos pautaram-se naqueles que: a) publicam artigos em Educaçao/Ensino de Química com estratos indicativos de qualidade (Qualis-periódicos), conforme quadriênio 2013-2016 na plataforma Sucupira (dentro das áreas de avaliaçao: Química, Educaçao e/ou Ensino); b) devem apresentar o nome "Química" no seu título. Após o primeiro levantamento dos periódicos, para a análise dos dados, optamos pelo período de publicaçoes do último decênio (2009-2018), dessa forma, os critérios de inclusao para a escolha dos periódicos foram:

i. Critério 1 (C1): ter todas as ediçoes atualizadas;

ii. Critério 2 (C2): ter no mínimo 10 anos de publicaçoes;

iii. Critério 3 (C3): ter no mínimo duas áreas de avaliaçao das três consideradas (Química, Educaçao e Ensino) com estratos entre A e B (periódicos avaliados em apenas uma área nao serao considerados para a análise);

Além dos critérios acima descritos, durante o levantamento e seleçao dos periódicos, tivemos como orientaçao para critérios de inclusao na escolha dos artigos:

iv. Critério 4 (C4): apresentar discussoes sobre a Tabela Periódica com foco no ensino de Química (artigos que nao envolvam o ensino de Química serao desconsiderados da análise);

v. Critério 5 (C5): ter como objetivo o uso da Tabela Periódica como recurso didático para o ensino de Química (trabalhos que fazem mençao da Tabela Periódica sem utilizá-la como um recurso didático serao desconsiderados da análise).

Nesse contexto, tivemos durante a seleçao dos artigos a orientaçao de palavras-chaves correlatas ao tema: Tabela Periódica, sistema periódico, periódico, Elemento Químico, além de suas variaçoes no plural, em inglês e espanhol. Considerando que os resumos dos artigos apresentam uma boa forma de identificar os objetivos do texto, realizamos a leitura de todos os resumos encontrados após a seleçao dos artigos. Ao observarmos que a informaçao nao estava explícita no resumo, realizamos a leitura na íntegra do texto, possibilitando verificar se os artigos se encaixavam em alguns dos critérios estabelecidos (C4 e/ou C5). Ao final, foram analisados seis (06) periódicos (Quadro 2) que contemplavam os critérios de inclusao (C1, C2 e C3).

 

 

Finalizada a revisao sistemática, utilizamos uma abordagem quanti-qualitativa.32 A abordagem quantitativa justifica-se como uma pesquisa de levantamento que proporciona uma descriçao quantitativa de tendências.32 Já a abordagem qualitativa envolve descriçoes, compreensoes e análises de informaçoes, ou seja, nao se expressa por números,33,34 além de ser interpretativa, que segundo Creswell32 "os pesquisadores fazem uma interpretaçao do que enxergam" (p.209). Como resultado desse processo, foi analisado cada volume/ediçao dos periódicos no último decênio, sendo selecionados 48 artigos (dos 5016 artigos publicados neste período pelas revistas), que após o refinamento durante a leitura do texto completo totalizaram 28 trabalhos envolvendo o uso da Tabela Periódica no ensino de Química. Na análise e síntese dos dados foram extraídos trechos de alguns artigos que responderam às perguntas de pesquisa desta revisao sistemática. Na próxima seçao esses resultados sao expostos e discutidos.

 

RESULTADOS E DISCUSSAO

Esta seçao está dividida em duas partes, na primeira delineamos os dados observados a partir dos trabalhos primários selecionados; na segunda descrevemos as análises realizadas a partir dos resultados encontrados nos trabalhos primários selecionados. Os resultados obtidos durante a pesquisa permitiram a realizaçao de uma série de reflexoes, como as que serao expostas a seguir. A discussao aqui proposta encontra-se segmentada conforme os tópicos de análise descritos.

Descriçao dos trabalhos primários analisados

Os resultados obtidos nesta pesquisa permitiram identificar um perfil das produçoes analisadas. Nesse sentido, realizamos uma análise com relaçao à quantidade de artigos envolvendo a Tabela Periódica ao longo dos dez anos. Além disso, apresentamos uma síntese do número total de trabalhos analisados, que realizamos para todas publicaçoes a leitura do título, do resumo e das palavras-chaves de cada um dos 5016 artigos publicados.

A Tabela 1 apresenta os resultados quantitativos referentes às publicaçoes dos periódicos no último decênio. Durante a seleçao dos artigos encontramos trabalhos sobre a Tabela Periódica que nao eram publicaçoes envolvendo o ensino de Química. De modo a atender os critérios 4 e 5, esses foram descartados posteriormente.

A partir dos 48 trabalhos primários pré-selecionados encontrados na análise das plataformas dos periódicos, 28 artigos científicos contemplavam todos os critérios necessários para a pesquisa. Embora seja amplamente discutido nos encontros científicos, observamos que o uso da Tabela Periódica no ensino de Química é relativamente pouco abordado (menos de 1%) quando comparado ao número de trabalhos publicados nas seis revistas investigadas. Ressaltamos que nos periódicos com publicaçoes voltadas exclusivamente para a educaçao/ensino de Química (QNEsc, EQ e RBEQ) o periódico QNEsc apresenta maior percentual (4,2%) de publicaçoes sobre a temática, todavia, ainda é um número relativamente baixo. Destacamos também que a QNEsc foi o único periódico que apresentava pelo menos uma publicaçao anualmente sobre a Tabela Periódica.

Considerando as categorias descritas nesta pesquisa (Quadro 1), a Figura 3 apresenta os resultados referentes ao tipo de abordagem encontrada nos artigos (valores arredondados).

 


Figura 3. Percentual de abordagens envolvendo a Tabela Periódica

 

Os dados revelados neste gráfico descrevem que cerca de 40% das publicaçoes sao de abordagem didática/pedagógica. Consideramos nesta pesquisa que abordagem didática/pedagógica sao açoes que envolvem (concomitante ou nao): teoria e prática no processo de ensino e aprendizagem; diversos tipos de saberes como integrantes da prática docente; construçao do conhecimento do conteúdo abordado; objetivos, valores e propósitos educacionais; diferentes teorias sobre ensino.28-31 De maneira geral o resultado é interessante, pois demonstra que boa parte dos trabalhos buscam nao apenas falar sobre a Tabela Periódica, mas utilizá-la dentro de uma proposta didática que contribua para a aprendizagem dos envolvidos. Nessa categoria, a QNEsc apresentou maior número de publicaçoes (42%) com esse objetivo, seguida da RBEQ (26%). Cabe ressaltar que, dos 48 trabalhos publicados relacionados a Tabela Periódica, 20 (41,6%) nao apresentavam temas que envolviam o ensino de Química e nenhum dos critérios utilizados, assim denominamo-nos de "outros".

A segunda categoria identificada na pesquisa discutia sobre o "nível de ensino" que as publicaçoes eram abordadas. Observamos que 57% destas publicaçoes estavam voltadas para estudantes do Ensino Médio. Os trabalhos categorizados como "Nao se aplica" representavam 25% das publicaçoes. Destacamos que nesta categoria (Nao se aplica) foram incluídas as pesquisas teóricas, levantamentos bibliográficos, entre outros que nao estavam relacionados com as demais categorias. Apenas 7% dos trabalhos discutiam sobre o uso da Tabela Periódica no ensino de Química com foco no ensino superior. As categorias "estratégias" e "Recurso didático/pedagógico" serao discutidos na seçao "Quais foram as estratégias?".

Dados obtidos com a análise dos trabalhos primários

Silva e Brito35 afirmam que, ao analisar os trabalhos primários através da leitura na íntegra de seu conteúdo, algumas características podem ser extraídas a fim de auxiliar o desenvolvimento de atividades de pesquisas posteriores.

Na leitura dos artigos buscamos identificar se havia a presença de um dos dois critérios (C4 e C5). Os resultados obtidos revelaram que 67,8% dos trabalhos investigados possuíam como objetivo o uso da Tabela Periódica como recurso didático no ensino de Química (C5). Já 32,2% refletiam sobre a Tabela Periódica com foco no ensino de Química (C4). Destacamos que durante toda a pesquisa nao encontramos qualquer revisao sistemática de literatura ou similar sobre o uso da Tabela Periódica como recurso didático no ensino de Química (dentro de nossos objetivos), o que enaltece o caráter inédito e investigativo desta pesquisa.

Tabela Periódica com foco no ensino de Química

A Tabela periódica é importante para a compreensao de vários conceitos químicos. Nesse sentido, esta seçao destaca resumidamente alguns artigos que foram categorizados em nossa pesquisa pertencentes ao critério 4 (C4).

O primeiro artigo a ser discutido brevemente foi publicado pela revista QN e tratava sobre a "Análise da abordagem histórica para a tabela periódica em livros de química geral para o ensino superior usados no Brasil no Século XX".14 Esse trabalho analisa as abordagens históricas da tabela periódica em livros de química geral utilizados nas universidades brasileiras revelando diferentes abordagens em períodos específicos do século XX. Observamos que o trabalho enfatiza que a maior parte das alteraçoes temporais na abordagem da tabela periódica em livros didáticos de química geral se deve à incorporaçao de novos conceitos, que foram sendo desenvolvidos no século XX.14 Embora trate-se de uma pesquisa do tipo levantamento bibliográfico,33 os autores propoem uma estratégia para se discutir o desenvolvimento da Tabela Periódica. Tal estratégia configura-se como um estudo de caso14 que poderia propiciar a compreensao da ciência como uma construçao coletiva e permanente e que está sujeita às condiçoes conceituais e sociais da época que sao evidenciadas.

Na QNEsc, temos o artigo de Flôr.36 A autora utiliza aspectos da epistemologia fleckiana para compreender como ocorreu a ampliaçao da Tabela Periódica por meio da descoberta de elementos transurânicos. Ademais, destaca quando Seaborg19 propoe uma nova configuraçao da Tabela Periódica permitindo a identificaçao de numerosos elementos transurânicos e consequentemente possibilitando a explicaçao das propriedades químicas tanto de elementos já identificados quanto os ainda nao identificados. O texto ainda reflete sobre o contexto da extensao da Tabela Periódica e os conceitos fleckianos envolvidos, suscitando que a história da Tabela Periódica em si apresenta grandes possibilidades de explorar a dimensao epistemológica da Ciência.36 Além disso, aponta para a necessidade de reflexoes epistemológicas que questionem a Educaçao Científica. Segundo Flôr,36 textos que abordam episódios históricos podem e devem ser utilizados na licenciatura, desde que considerem algum referencial epistemológico. Nesse sentido, uma estratégia apresentada sugere que os professores ao abordarem esses episódios possam esclarecer e/ou revisar suas visoes acerca da Ciência.

Na EQ, dois artigos foram publicados com o objetivo de realizar uma revisao das principais fontes bibliográficas da literatura sobre o uso de jogos no ensino e aprendizagem da Tabela Periódica.37,38 No primeiro artigo,37 considera-se que é importante ensinar os estudantes, desde o primeiro contato com a química, o nome e símbolo dos principais elementos químicos e como eles aparecem agrupados na Tabela periódica. Segundo os autores,37 um dos recursos mais utilizados para ensinar Tabela Periódica é por meio da formaçao de palavras e frases a partir dos símbolos químicos. Esses trabalhos têm recebido grande atençao do ponto de vista da linguística, através da transposiçoes dos elementos químicos.37 Ademais, os jogos de palavras (em que o estudante deve associar o elemento químico mais adequado à imagem) estao em amplo crescimento. Por fim, o artigo destaca o papel dos jogos no conhecimento do Sistema Periódico dos elementos como um recurso destinado à familiarizaçao dos estudantes com a Tabela Periódica, à memorizaçao dos nomes e símbolos químicos, e à sua localizaçao dentro da Tabela Periódica atual. Nesse sentido, diferentes jogos (de formaçao de palavras, anagramas, regras mnemônicas, palavras cruzadas, desenhos, cançoes, jogos de cartas ou humor etc.) têm como propósito principal familiarizar os estudantes com os nomes e símbolos dos elementos químicos mais importantes, ajudando-os a aprender e memorizá-los.37 Ressalta-se que algumas propostas de computador, jogos de cartas ou recortes tridimensionais buscam fortalecer o aprendizado da disposiçao dos elementos na Tabela Periódica nos períodos e nas famílias.

O segundo artigo38 apresenta uma revisao de estudos que auxiliam os estudantes a conceituar, compreender e aplicar a Tabela Periódica no ensino de Química. Apresenta-se uma classificaçao para os tipos de propostas lúdicas (sobre a etimologia dos elementos químicos e a presença deles no meio ambiente; em torno das propriedades físicas e químicas dos elementos; sobre os diferentes modelos atômicos e propriedades atômicas, e; sobre a ideia de periodicidade e as diferentes tentativas de classificar os elementos químicos ao longo da história).38 Especificamente, o artigo38 apropria-se dos diferentes recursos que abordam a compreensao, aplicaçao e/ou uso da Tabela Periódica no ensino de Química, indo além do simples conhecimento da estrutura, aparência e composiçao do Sistema Periódico. Em vista disso, Franco-Mariscal, Oliva-Martínez e Bernal-Márquez38 afirmam desconhecerem trabalhos sobre a utilidade dos jogos analisados, indicando a necessidade do desenvolvimento de novas pesquisas neste campo no ensino da Química.

Em suma, os artigos utilizados como exemplos demonstram a preocupaçao das pesquisas (de seus autores) em apresentar discussoes sobre a Tabela Periódica com foco no ensino de Química, conforme classificamos o critério 4.

Uso da Tabela Periódica como recurso didático no ensino de Química

Em relaçao ao critério 5 (C5) destacamos o artigo que a QNEsc publicou intitulado "Tabela Periódica Interativa".39 Esse artigo teve como objetivo apresentar a exposiçao Tabela Periódica Interativa do Centro de Ciências/UFJF, explorando suas potencialidades e repercussoes no ensino básico e superior. A Tabela consiste de "um móvel com o formato de uma tabela periódica, no qual amostras de 83 elementos químicos, em sua forma elementar, estao dispostas em caixas fechadas com vidros em que estao jateados símbolo, nome e número atômico dos elementos"39 (p.182). Na parte superior central do móvel está localizado um monitor touch screen com uma tabela periódica virtual, que oferece opçoes de interaçoes. No local em que a tabela foi desenvolvida (Centro de Ciências/UFJF), professores e estudantes participam de quatro atividades propostas para a visitaçao: 1) interaçao com a Tabela Periódica; 2) apresentaçao de vídeos sobre os elementos químicos (vídeos sobre os metais alcalinos, gases e os elementos magnésio, ferro, fósforo e enxofre); 3) interaçao com uma Tabela Periódica virtual na sala de informática por meio do software Periodic Table®, explorando uma tabela virtual com diferentes informaçoes sobre propriedades físicas e químicas; 4) uma atividade experimental no laboratório de química (relacionada a um dos assuntos explorados anteriormente durante a visita, podendo os participantes escolherem uma das sete diferentes atividades experimentais disponíveis). Os autores39 destacam as várias contribuiçoes da exposiçao Tabela Periódica Interativa para estreitar as relaçoes entre escola e o espaço nao formal de ensino. Ademais, a participaçao de professores e estudantes na proposta da Tabela Periódica Interativa pode possibilitar a apropriaçao de temas e conceitos químicos no ensino de forma cooperativa entre diferentes espaços de ensino.

Na QN, um dos artigos descrevia o uso do software Quiptabela,40 em que estudantes da disciplina de química geral de um curso à distância se apropriavam de uma tabela digital, analisando a capacidade dos estudantes criarem e analisarem tabelas e gráficos correlacionando as propriedades dos elementos químicos. A estratégia utilizada foi por meio da resoluçao de uma atividade disponibilizada no Moodle. O intuito era "dar significado ao termo periódico, mostrando que fenômenos presentes no cotidiano também podem apresentar variaçao periódica"40 (p.476). As respostas fornecidas pelos estudantes a cada uma das questoes da atividade destacaram as dificuldades apresentadas por eles. Embora soubessem o significado do termo periódico, 41% deles nao conseguiram utilizar o conceito para explicar e diferenciar a variaçao da massa com o número atômico dos elementos.40 É pujante esclarecer que o uso de um software de Tabela Periódica configura-se como um recurso didático digital,41 na qual ocorre a incorporaçao da Tabela Periódica em um recurso digital com objetivos didáticos.

Outro artigo que podemos também fazer referência é o da RVQ, intitulado "Perfil Químico: Um Jogo para o Ensino da Tabela Periódica".42 Esse artigo teve como objetivo a utilizaçao de um jogo didático para auxiliar o ensino da Tabela Periódica, fazendo mençao sobre a contribuiçao das mulheres no desenvolvimento da Química. Relata-se que muitos alunos afirmaram desconhecer essas contribuiçoes, o que, segundo Romano et al.,42 o jogo possibilitou resgatar a memória delas. O jogo foi aplicado no 1º ano do Ensino Médio e é baseado no jogo Perfil®, marca registrada da companhia de brinquedos Grow®, tendo o tabuleiro do jogo original substituído por uma Tabela Periódica. Ademais, a estratégia utilizada no jogo foi a simples execuçao do jogo seguido de um questionário avaliativo. Em decorrência disso, embora nao seja nosso objetivo, é importante reforçar que a apropriaçao de um recurso didático nao deve limitar-se ao mero uso deste, é preciso se preocupar com as estratégias que serao utilizadas, quem irá utilizar e como vai ser utilizado. A proposta do trabalho pautou-se na formaçao de grupos de trabalho que proporcionou uma maior integraçao entre os estudantes, a partir da cooperaçao e criou um clima para a investigaçao.

No PTQ temos o artigo "Desenvolvendo a tabela periódica e um jogo didático a partir de materiais alternativos: Propostas metodológicas para o ensino de ciências",43 que teve como objetivo a construçao de uma Tabela Periódica a partir de materiais alternativos. A proposta metodológica, segundo os autores,43 permitiu aos alunos a oportunidade de vivenciar uma aula diferenciada aprendendo conceitos sobre os elementos químicos e compreendendo cada posicionamento deles na Tabela Periódica. O jogo de cartas é composto por 15 elementos da Tabela Periódica, que foi construído a partir de materiais alternativos. A estratégia didática desse trabalho foi realizada em duas etapas, a primeira com a resoluçao de um questionário que tinha como intuito compreender as concepçoes prévias dos estudantes. Na segunda etapa os estudantes foram divididos em grupos para aplicaçao do jogo. Segundo os autores,43 a aplicaçao do jogo permitiu que os estudantes assimilassem melhor os conteúdos, contribuindo para o processo de ensino e aprendizagem.

Na RBEQ, o artigo "A aplicaçao de softwares como uma estratégia didática para abordar o conteúdo da tabela periódica e as propriedades dos elementos químicos"44 destaca o uso de softwares relacionados com a Tabela Periódica. A escolha dos softwares foi baseada nas recomendaçoes dos Parâmetros Curriculares Nacionais45 e seu uso ocorreu por meio de uma sequência didática aplicada a estudantes do Ensino Médio. A sequência didática buscava "verificar se o uso de softwares poderia auxiliar no ensino do conteúdo associado à tabela periódica dos elementos de modo significativo"44 (p.85). A estratégia didática utilizada nesta pesquisa foi a aplicaçao dos softwares educativos sobre a Tabela Periódica. Destaca-se que o uso destes softwares como parte da sequência didática proposta contribuiu para uma aprendizagem mais dinâmica, além de despertar o interesse dos discentes para a compreensao dos conceitos trabalhados em sala de aula, facilitando, assim, na construçao do conhecimento.44 Como já destacado anteriormente, o software de Tabela Periódica é um recurso didático digital e neste artigo ele é utilizado com o objetivo de ensinar conteúdos de Química (Tabela Periódica).

Em relaçao à revista EQ destacamos a publicaçao sobre a utilizaçao do bingo como recurso didático.46 A própria Tabela Periódica é usada como a cartela do bingo e as bolas sao selecionadas através de um aplicativo de computador. As cartelas utilizavam símbolos dos elementos químicos. O formato das cartelas coincidia com uma Tabela Periódica convencional em que estao todos os elementos químicos, exceto os de transiçao interna. Esse formato tem o intuito de facilitar o desenvolvimento do jogo para que o estudante se familiarizasse com este recurso didático, assim como com os conceitos de grupo e família. Além disso, o bingo apresenta três níveis para ser jogado. Participaram da intervençao alunos da educaçao secundária obrigatória (Ensino Médio). A estratégia utilizada pelos autores foi a realizaçao de uma sequência didática com três etapas. A primeira constava de uma prova preliminar de conteúdos (aplicada dias antes da realizaçao da atividade lúdica), a segunda da realizaçao do bingo em sala de aula e a terceira a aplicaçao da mesma prova um mês depois dos estudantes terem jogado o bingo. Segundo Franco-Mariscal e colaboradores,46 os estudantes melhoraram a aprendizagem dos conteúdos relacionados com a Tabela Periódica, além de proporcionar motivaçao neles.

Dos 48 artigos inicialmente analisados com a temática sobre a Tabela Periódica, 28 artigos foram classificados em um dos dois critérios pré-estabelecidos. Os 20 artigos restantes foram excluídos após o refinamento durante a análise do texto completo, pois nao foi observado, durante a leitura, nenhum dos critérios propostos. A título de exemplo, destacamos alguns desses artigos.

O artigo "Classificaçao periódica: um exemplo didático para ensinar análise de componentes principais"47 tem como objetivo introduzir a atualizaçao da Tabela Periódica e aplicar a análise de componentes principais a uma série de propriedades dos elementos e verificar a consistência das atribuiçoes dos elementos aos grupos como proposto. Ademais, destacam a análise de componentes principais como uma proposta para a utilizaçao em disciplinas sobre quimiometria. Outro artigo também teve como foco uma disciplina denominada de "Periodicidade".48 Atribuímos a justificativa para esse trabalho aparecer nos resultados de nossa busca o fato de uma das palavras-chaves ter sido "periódico". O trabalho nao apresenta nenhum dos critérios propostos (C4 e C5), pois discute como deve ser a abordagem da ligaçao química apresentando uma proposta de construçao dos níveis de energia produzindo um material didático.

Quais foram as estratégias?

Considerou-se que uma revisao sistemática apresenta um processo na qual os estudos primários sao resumidos para formar o resultado final,23 relatando os principais achados, avaliando se esses estudos sao suficientes para se chegar a uma conclusao. Nesta seçao expomos brevemente quais foram as estratégias didáticas utilizadas no uso da Tabela Periódica no ensino de Química.

É imprescindível destacar que nesta pesquisa consideramos como estratégias quaisquer meios que sao utilizados para promover o processo de ensino e aprendizagem. Segundo Ferreira, Correa e Dutra,49 as estratégias de ensino sao desenvolvidas de modo a auxiliar na construçao do conhecimento visando alcançar melhores resultados do que aqueles obtidos com a abordagem tradicional. A Figura 4 expoe o percentual (valores arredondados) dos 28 trabalhos publicados nos periódicos investigados.

Conforme afirmado na metodologia, apresentamos uma interpretaçao do que observamos em nossa análise.32 Nesse contexto, os dados obtidos nesta investigaçao nos permitem inferir que, de maneira geral, a estratégia didática mais utilizada nos periódicos analisados foi a ludicidade (atividades que envolvem jogos e/ou atividades lúdicas), seguida do levantamento bibliográfico e de propostas envolvendo sequências didáticas. Nesse contexto, pesquisas50-52 destacam que os jogos (digitais ou nao) e atividades lúdicas no ensino de Química têm possibilitado maior envolvimento dos estudantes no processo de ensino e aprendizagem, acrescentando-se que estao mais presentes nas salas de aulas de química. Esse tipo de estratégia envolvendo a ludicidade é vista como um recurso facilitador no processo de construçao do conhecimento. Partindo desta premissa, o uso de estratégias no ensino de Química deve vir incorporada de objetivos pedagógicos claros do que se pretende obter com o ensino do conteúdo (em nosso caso, da Tabela Periódica).

Durante a pesquisa, emergiu dos dados obtidos na abordagem didática/pedagógica a categoria "recurso didático/pedagógico". Esta categoria reforçou as informaçoes identificadas nas estratégias escolhidas. Assim, dentro da estratégia ludicidade, observamos que os recursos mais utilizados foram: jogo de cartas (38,8%), jogo de tabuleiro (14,3%) e bingo (3,6%). Outros recursos contemplados nas publicaçoes analisadas referiam-se aos recursos didáticos digitais (27,8%), principalmente, o uso de softwares, as aulas expositivas (3,6%) e aos mapas conceituais (3,6%).

É interessante destacar que os jogos (cartas/tabuleiros) totalizam mais da metade (53,1%) dos recursos didáticos/pedagógicos utilizados nas estratégias das publicaçoes. Os jogos digitais representam 22,2% das publicaçoes. Isso significa que cerca de 75% das propostas nas publicaçoes envolvem algum tipo de jogo. Esses jogos didáticos têm como objetivo atingir conteúdos específicos, nesse caso sobre a Tabela Periódica no ensino de Química. O jogo didático é considerado educativo ao desenvolver habilidades cognitivas importantes no jogador, tais como raciocínio rápido, resoluçao de problemas, criatividade, percepçao etc.49,50 O uso do jogo é uma boa estratégia de ensino porque auxilia na construçao do conhecimento, além de possibilitar maior envolvimento dos estudantes. Ademais, os jogos digitais podem possibilitar que os estudantes atuem como protagonistas da sua aprendizagem, reforçando a ideia de que o uso das tecnologias digitais promovem colaboraçao no processo de aprendizagem,53 contudo, é preciso destacar que nao é o recurso que os tornam agentes ativos, e sim a forma como ele é utilizado.

Mediante o exposto, esta pesquisa revelou que desde trabalhos envolvendo cartas a trabalhos envolvendo o digital, a Tabela Periódica sempre esteve presente nas publicaçoes dos periódicos de Química.

 

CONSIDERAÇOES FINAIS

A Tabela Periódica construída há 150 anos por Mendeleev ainda é um notável recurso que tem contribuído para o ensino de Química. Ela é um ícone de nossa civilizaçao.54 Embora tenha sofrido vários ajustes e rearranjos, as versoes modernas da Tabela Periódica continuam incontestavelmente baseadas sobre a estrutura essencial concebida por Mendeleev. O que Mendeleev descobriu "no dia 17 de fevereiro de 1869 foi a culminaçao de uma epopeia de dois mil e quinhentos anos: uma parábola obstinada da aspiraçao humana"13 (p. 252).

Esta pesquisa visou apresentar uma revisao sistemática da literatura sobre a Tabela Periódica abordada no ensino de Química buscando responder aos seguintes questionamentos: Como a tabela periódica tem sido utilizada no ensino de Química? Quais foram as estratégias didáticas utilizadas? Ao fazer o levantamento das publicaçoes dos 5016 artigos publicados, analisamos 28 artigos classificando-os em dois critérios de apropriaçao: apresenta discussoes sobre a Tabela Periódica com foco no ensino de Química (C4) e/ou tem como objetivo o uso da Tabela Periódica como recurso didático (C5).

Em relaçao ao primeiro questionamento, analisando as publicaçoes identificamos que boa parte das propostas fazem uso da Tabela Periódica em abordagens didáticas/pedagógicas (40%). Dessas abordagens, cerca de 75% sao de jogos (cartas, tabuleiro, digitais). No segundo questionamento observamos que a estratégia mais utilizada envolvia a ludicidade (43%). Ademais, inferimos que na categoria "ludicidade" os jogos na maioria das vezes só foram aplicados após a aula sobre o assunto relacionado à Tabela Periódica. Tal utilizaçao torna o recurso uma simples ferramenta, alguns autores acreditavam que os estudantes ao se divertirem estavam aprendendo, desconsiderando seu efetivo potencial na construçao do conhecimento. Em relaçao ao uso do jogo digital, ressaltamos que há uma grande potencialidade para seu uso, o que pode facilitar no processo de ensino e aprendizagem, principalmente quando torna o aluno centro do processo de aprendizagem, proporcionando-lhe autonomia. Nesse sentido, o uso das tecnologias digitais com metodologias ativas tem contribuído para melhores resultados na construçao do conhecimento.53

Concretizada na década de 60 do século XIX (mas nao finalizada), a Tabela Periódica desde entao tem auxiliado como guia nas pesquisas em química, além de ter se tornado um importante instrumento didático no ensino de Química, quer seja no uso das cartas, quer seja no uso do digital.

 

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