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Carta ao Editor


Eduardo Motta Alves Peixoto (20/10/1939 - 23/07/2021) idealizador e fundador da Química Nova

Henrique E. Toma

Instituto de Química - USP

Endereço para correspondência

Email: henetoma@iq.usp.br


O Peixoto, se autodenominava um baiano. Nascido em Salvador, em 20 de outubro de 1939, formou-se no curso de Química da Faculdade de Filosofia Ciências de Letras da Universidade de São Paulo em 1961. Como bacharel atuou na Elekeiroz/Ucebel na área de poliésteres e materiais de construção, exerceu a chefia do controle de qualidade da empresa Orquima do saudoso Prof. Pawell Krumholz, voltada para a separação de Urânio e Terras Raras. Também foi chefe de produçào na empresa Christehnsen/Roder - Diamantes Industriais. No período de 1964 a 1969 fez doutorado na Indiana University, e pós-doutorados nessa mesma universidade e na Universidade da Flórida, com bolsas da Fundação Rockefeller. Voltando ao Brasil, foi contratado como professor no Instituto de Química da USP, para iniciar atividades na área de Química Quântica.

Quando o conheci em 1971, ele ainda estava montando seu laboratório de espalhamento de elétrons no IQ.USP. Vindo do Laboratório de Russell A. Bonham, da Universidade de Indiana, foi um dos pioneiros no Programa National Academy of Sciences/Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (NAS/CNPq) que renovou a Química Brasileira no período de 1969 a 1976. Formou uma geração de brilhantes pesquisadores, incluindo Lee Mu Tao (UFSCar), Ione Iga (UFSCar), José Carlos Nogueira (UFSCar) e Gerardo Gerson Bezerra de Souza (UFRJ). Seu laboratório tornou-se um dos mais sofisticados do país, com uma eletrônica e mecânica de precisão realmente impressionante. Como cientista e palestrante, Peixoto sempre muito eloquente. Conseguia hipnotizar o auditório com sua incrível oratória, contando fatos e parábolas, sempre muito imaginativas. Era muito bom vê-lo falar com tanto brilho. Em 1978 foi um dos articuladores e fundadores da SBQ, destacando sua grande proximidade ao saudoso Professor Simão Mathias, então eleito para a Presidência da Sociedade. Foi o primeiro Secretário Geral da Sociedade, e responsável pela criação da revista Química Nova, que entrou em cena já em 1978, reproduzindo o cartaz que marcou o surgimento da SBQ (Figura 1). Sua atuação sempre teve o importante suporte da Dirce Campos, que ainda cuida e mantém a memória viva da SBQ.

 


Figura 1. Ata da fundação da Sociedade Brasileira de Química, aos 08/07/1977, redigida por Eduardo Motta Alves Peixoto, na Reunião Anual da SBPC, em São Paulo

 

Em 1985 foi criado o Programa Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico, do CNPq (PADCT - 1985/1995), que injetou U$ 87,5 milhões na área de Química e Engenharia Química. O Peixoto tornou-se o Diretor do Programa nessa área, e eu participei como membro do Grupo Técnico. Foi assim que recebi do Peixoto uma importante incumbência: trabalhar na fundação de uma revista científica da SBQ. Atuando na Diretoria da SBQ, juntamente, com o Prof. Ricardo Bicca de Alencastro (UFRJ), elaboramos uma proposta competitiva de criação do JBCS, que acabou sendo contemplado pelo PADCT. O Peixoto tornou-se o primeiro Diretor Científico da Revista que foi lançada oficialmente em 1990. Eu atuei no Corpo Consultivo, e mais tarde, também como Editor, substituindo o Peixoto. Outro fato marcante de sua gestão no PADCT, foi a criação da Biblioteca Principal de Química, que depois foi convertida na atual Biblioteca do Conjunto das Químicas. Em 1988 Peixoto escreveu e publicou seu livro de Teoria Quântica, de edição própria (https://repositorio.usp.br/item/000798843).

O Peixoto sempre esteve presente nos eventos de Química da SBQ, sendo bastante homenageado por suas contribuições (Figura 2).

 


Figura 2. Homenagem durante a 20ª Reunião Anual da SBQ em Poços de Caldas (1997)

 

Por vários anos, Peixoto ausentou-se do Instituto de Quimica da USP para exercer funções como superintendente da Consultoria Técnica da Presidência do BNDES, Presidente Executivo da FIOCRUZ/MS - produção e controle de qualidade e medicamentos e vacinas, Diretor do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde, Diretor do Centro de Informações Toxicológicas e representante do Brasil na OMS. Porém ao retornar para o IQ.USP, não conseguiu superar as dificuldades de recomeçar, com ferramentas ultrapassadas e sem equipe, em uma área extremamente complexa e competitiva. Como aposentado, procurou novos rumos, migrando para atividades de consultoria, como no INPEV/SP, SIDDHI Solutions, e várias agroindústrias. Periodicamente eu recebia sua visita no Instituto de Química, e o auxiliava em suas análises químicas. Foram bons bate-papos. Agora o mestre Peixoto se foi... Mas seu brilho, entusiasmo e eloquência sempre permanecerão na memória de quem que o conheceu.

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