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É com imensa alegria que introduzimos o Número Especial (NE) da Química Nova com foco na Década da Ciência Oceânica e o desenvolvimento sustentável. A Década da Ciência Oceânica é uma iniciativa das Organização das Nações Unidas (ONU), iniciada em 2021 e se estendendo até 2030, e que favorece as interações entre diferentes áreas das ciências na direção do gerenciamento sustentável dos oceanos abertos e regiões costeiras, trazendo benefícios para as gerações atual e futuras. Do ponto de vista biogeoquímico, os oceanos vem sendo o reservatório final de um imenso grupo de substâncias químicas de origem antrópica, mesmo daquelas geradas muitos quilômetros de distância da costa. Além disso, a entrada massiva de substâncias antrópicas no ambiente marinho, associada ao crescimento exponencial da população mundial (e o consequente aumento da demanda por geração de energia, alimentos e fibras), vêm contribuindo para alterar os ciclos biogeoquímicos de substâncias de origem biogênica, alterando o fluxo de matéria e energia das cadeias alimentares bem como a biodiversidade marinha.

Do ponto de vista global, além da Década das Ciências Oceânicas, outras iniciativas vêm sendo propostas com objetivo da garantia de conservação do meio ambiente e bem-estar da sociedade através da sustentabilidade, tais como os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU (no qual a ODS 14 - Vida debaixo d'água, está diretamente relacionada aos oceanos, além das interações deste com os demais ODS), o movimento Net Zero 2050 com propostas de meios de geração de energia baseadas na descarbonização e/ou desfossilização da matriz energética mundial, contribuindo para ações de mitigação das mudanças climáticas.

O presente número especial está inserido nas ações dos seguintes projetos: (i) INCT em Energia e Ambiente; (ii) Projeto MEPHYSTO - Biocomplexidade e Interações Físico-Químico-Biológicas em Múltiplas Escalas no Atlântico Sudoeste (integrante do Programa Antártico Brasileiro, PROANTAR 2019); e (iii) Pesquisando Kirimurê: Convergindo Educação, Ciência, Tecnologia e Inovação (fase 3), todos financiados pelo CNPq.

Este número especial (NE) consiste em onze artigos originais que são contribuições de pesquisadores brasileiros sobre a pesquisa oceânica. Um diferencial importante deste NE é a disponibilização de estudos consistentes e de elevado rigor científico sobre os oceanos em língua portuguesa, que facilita as discussões associadas à Década da Ciência Oceânica ao público em geral, e não apenas de cientistas. Dentre esses artigos, em Noriega et al.¹ estão incluídos estudos sobre o transporte de nitrogênio e fósforo proveniente de diferentes rios da Região Nordeste do Brasil para o Oceano Atlântico, bem como em Braga et al.² os efeitos de variação do pH pode impactar a biodisponibilidade de fósforo. Por sua vez, o estudo de Marins et al.³ inclui ainda estudos sobre avaliação do fluxo de CO₂ em águas estuarinas enquanto em Oliveira et al.⁴ na plataforma continental brasileira. Em Lacerda et al.⁵ são discutidos a ocorrência de metais em sedimentos da interface talude-plataforma continental da região do Rio Grande do Norte, que é uma área onde ocorre exploração de petróleo e gás natural offshore e no estudo de de Oliveira et al.⁶ são investigados os processos de formação de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs) em sedimentos da bacia do Rio Solimões, enquanto em de Souza et al.⁷ é avaliada a presença de microplásticos em rios, estuários e sedimentos da Região Amazônica.

Adicionalmente, Santana et al.⁸ apresentam estudos que envolvem a avaliação de fontes da matéria orgânica para sedimentos do estuário do Rio Itapicuru, Bahia, Nascimento et al.⁹ focam na ocorrência de compostos policíclicos aromáticos não convencionais e de mercúrio em água, sedimentos e biota provenientes da Baía de Todos os Santos, Bahia. Por outro lado, Leonel et al.¹⁰ apresentam uma revisão de compostos perfluorados no ambiente marinho enquanto Martinez et al.¹¹ focam os biomarcadores orgânicos e inorgânicos de aerossóis atmosféricos de regiões marinhas.

Acreditamos que este Número Especial de Química Nova representa o esforço de pesquisadores, do CNPq, da SBQ e, em especial da Editoria de Química Nova em contribuir para a contextualização da importância dos Oceanos para os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), bem como para a sustentabilidade do planeta.

REFERÊNCIAS

1. Noriega, C.; Araújo, M.; Varona, H. L.; Costa, M.; Calzada, A. E.; Medeiros, C.; Silva, A. X.; Portela, L. P.; Jeronimo, R.; Barros, P. P.; Araujo, J.; Rollnic, M.; Quim. Nova 2023, 46, 616. [Crossref]

2. Braga, E. S.; Lucena, L. M.; Almeida, A. J. M.; Pires, M. L. T.; do Nascimento, J. E. F.; Sutti, B. O.; Berbel, G. B. B.; Chiozzini, V. G.; Quim. Nova 2023, 46, 591. [Crossref]

3. Marins, R.; Carvalho, A. C. C.; da Silva, A. R.; Cavalcante, M. S.; Quim. Nova 2023, 46, 582. [Crossref]

4. Oliveira, R. R.; Affe, H. M. J.; Avelina, R.; Pinho, L. Q.; Franklin, T. V.; da Cunha, L. C.; Quim. Nova 2023, 46, 561. [Crossref]

5. Lacerda, L. D.; Godoy, J. M. O.; Gonçalves, R. A.; Rocha, M. F.; Dutra, B. F.; Quim. Nova 2023, 46, 554. [Crossref]

6. de Oliveira, T. C. S.; Scofield, A. L.; Silva, L. M.; Lopes, A. P.; Wagener, A. L. R.; Quim. Nova 2023, 46, 573. [Crossref]

7. de Souza, M. T. V.; Sales-Shimomoto, V.; da Silva, G. S.; Val, A. L.; Quim. Nova 2023, 46, 655. [Crossref]

8. Santana, J. S.; Leal, I. D. G.; Queiroz, A. F. S.; Assumpção, H. C. P.; de Souza, J. R. B.; Zucchi, M. R.; Albergaria-Barbosa, A. C. R.; Quim. Nova 2023, 46, 608. [Crossref]

9. Nascimento, M. M.; Menezes, N. Martinez, S. T.; Machado, M. E.; da Rocha, G. O.; de Andrade, J. B.; Quim. Nova 2023, 46, 668. [Crossref]

10. Leonel, J.; Nascimento, R. A.; Miranda, D. A.; Quim. Nova 2023, 46, 627. [Crossref]

11. Martinez, S. T.; dos Anjos, J. P.; Pereira, P. A. P.; Guarieiro, L. N. L.; da Rocha, G. O.; Quim. Nova 2023, 46, 636. [Crossref]