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José Israel Vargas: essências da vida e obra de um líder da ciência no Brasil José Israel Vargas: essences of the life and work of a science leader in Brazil |
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Luiz C. A. Barbosa I. Departamento de Química, Instituto de Ciências Exatas, Universidade Federal de Minas Gerais, 31270-901 Belo Horizonte - MG, Brasil Recebido: 27/08/2024 *e-mail: lcab@outlook.com A brief overview of the long-standing and rich academic and scientific career of Professor José Israel Vargas is presented, along with some of his thoughts and notable achievements since obtaining his university degree in Chemistry from Federal University of Minas Gerais (UFMG) in Belo Horizonte, Brazil. He received his doctorate from the Faculty of Physical Chemistry (1960, Cambridge University, UK), working with radiochemistry and hyperfine interactions. Six years after his return to Brazil, he began working as a leading researcher at the Centre d'Études Nucléaires de Grenoble, France, where he stayed until 1972. He then once more returned to Brazil and initiated a time of intense scientific activity at the Department of Chemistry, UFMG, as well as of great involvement in science and technology policy in Brazil. In 1977, he was appointed the first state secretary for Science and Technology in Minas Gerais; from 1994 to 2000, he served as the Brazilian Minister of Science, Technology, and Innovation. The present paper will highlight his key role in fostering the scientific careers of numerous young scientists and also pay him homage to recognize his significant contributions to Brazilian and French science, particularly in chemistry and physics. INTRODUÇÃO A trajetória acadêmico-científica de José Israel Vargas (Figura 1) é parte expressiva da história do surgimento, sobretudo a partir de meados do século XX, da construção e, a partir daí, do desenvolvimento da química nuclear e da tecnologia nuclear no Brasil. J. I. Vargas é uma personalidade genuína. Guarda em sua invejável memória os fatos e os feitos por talentos da sua época, sob a permanente visão crítica da sua ampla cultura. Seus interesses intelectuais vão muito além da química e passam pelas formas de expressão em tantas atividades humanas, incluindo artes plásticas, literatura, sociologia, filosofia e política científica. Intelectualmente eclético, pessoalmente íntegro e determinado, tem aguçado pensamento crítico, criativo e frequentemente bem-humorado. É o que se confirma logo depois de alguns minutos de conversa com ele. Tem sido, por longo tempo, e é uma riquíssima fonte de inspiração para tantos cientistas e intelectuais, há pelo menos seis décadas.
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A intenção aqui não é esmiuçar plenamente a tão rica trajetória de vida de José Israel Vargas, mas de destacar alguns fatos essenciais, personagens e situações que o levaram a se dedicar sistematicamente à química. Sua sólida formação científica e a sua inquietude intelectual, associadas a uma energia pessoal invejável, transformaram-no em um profissional de referência no ensino, na pesquisa, no desenvolvimento tecnológico, na formulação e na gestão pública da política nacional de ciência e tecnologia. Apesar de ter passado por diversas instituições acadêmicas e científicas, no Brasil e no exterior, foi na Universidade Federal de Minas Gerais, onde se graduou e onde ainda continua ativo, orientando estudantes e compartilhando com vários colegas suas ideias para o desenvolvimento de novas tecnologias de valor para a humanidade, que sua atuação se fez e se faz mais intensamente. Foi atuante na política de ciência e tecnologia: na década de 1970, foi presidente da Fundação João Pinheiro (1975-1976), fundou a secretaria e foi o primeiro secretário (1977-1979) de Ciência e Tecnologia de Minas Gerais, a convite do governador Aureliano Chaves. Na década seguinte, foi secretário de Tecnologia Industrial do Ministério da Indústria e do Comércio (1979-1984). Foi membro do Conselho Executivo da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO, 1982-1989). Vice-Presidente do Conselho Executivo da UNESCO (1983-1985) e seu Presidente eleito (1987-1989). Presidente do Comitê Consultivo para Ciência e Tecnologia da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Genebra (Suíça), 1987-1989. Foi Ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação, de 1992 a 1998, tendo ainda ocupado muitos cargos em comissões nacionais e internacionais. De 2000 a 2003 foi embaixador do Brasil junto à UNESCO. Um testemunho de sua marcante atuação e prestígio recebido em todo o mundo ao longo dessa trajetória pode ser avaliada por sua enorme coleção que ultrapassa 60 condecorações concedidas por inúmeros países, destacando-se nesse grupo a Grand Officier de la Légion d'Honneur, conferida pelo presidente da República Francesa Jaques Chirac (1996) (Figura 2), bem como o título de Knight Commander of the British Empire (1997), outorgado pela Rainha Elizabeth II (Figura 3).
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J. I. Vargas tem relatado em diversas ocasiões aspectos da sua trajetória acadêmica e da sua atuação na política científica brasileira. São depoimentos concedidos em entrevistas ou em publicações, na forma de livros ou artigos. Destacam-se os livros (i) Vida e Ciência: Entrevista com JoséIsrael Vargas, por José Carlos Sebe Bom Meihy;1 (ii) Ciência em Tempo de Crise 1974-2007,2 organizado pelo Professor Márcio Quintão Moreno, que coleta palestras e discursos apresentados entre os anos 1974 e 2007, e (iii) o livro Desafiando Fronteiras, Trajetória de Vida do Cientista JoséIsrael Vargas,3 de autoria da historiadora Lígia M. L. Pereira, que aborda as origens de J. I. Vargas, a sua matriz familiar, a sua formação e a sua longa e extraordinária carreira acadêmico-científica. Outros depoimentos foram expressos em palestras, em cerimônias de outorga a agraciados com a Medalha Professor José Israel Vargas, criada pelo Departamento de Química da UFMG em 2018. Como exemplo, o discurso feito pela Professora Alaíde Braga de Oliveira, em 2022, foi publicado recentemente.4 Pudemos conhecer ainda outros dados, obtidos diretamente de duas entrevistas que nos foram concedidas pelo próprio J. I. Vargas, nos dias 15 e 20 de julho de 2023.
A JUVENTUDE DO FUTURO CIENTISTA José Israel Vargas nasceu em Paracatu, noroeste do estado de Minas Gerais, em 9 de janeiro de 1928. Seu avô era o que podemos hoje entender como "caixeiro viajante" e herdeiro de uma tradição de explorar os sertões, do ermo interior de Minas Gerais. Gente sertaneja de verdade, que lidava com as rudes ferramentas manuais, às quais pudessem ter acesso, ou mesmo as que se podiam ser localmente construídas. Por imposição da sua consciência ou da sua própria índole ou, mais objetivamente, por toda a sua trajetória de vida acadêmica, J. I. Vargas voltaria a explorar os vazios conceituais da natureza, durante o seu doutorado na Universidade de Cambridge, Reino Unido, no período de 1957 a 1960, para entender o intrincado comportamento da matéria, por desafios a que se autopropusera. Alternava as suas férias juvenis entre as estradas que partiam de Belo Horizonte para sua cidade natal, Paracatu, e, de lá, para Pirapora, onde o rio São Francisco, "o rio-mar", era a sua nova opção de caminho a ser percorrido, para a manutenção da tradição empresarial da família. No início do século XX, a família Vargas fornecia bens mais gerais de consumo, os que eram demandados pela comunidade da região em torno de Paracatu e isso era feito por transporte fluvial. O jovem José Israel ajudava a família sempre que era requisitado no trabalho e, com isso, pegou gosto pelas técnicas da navegação a vapor. Por trabalhar desde cedo com mecânica e funilaria, tomou gosto e interesse pela carreira técnica e pretendeu ser engenheiro, ainda mais sob o incentivo que ganhava de seu pai, João Vargas, um pensador livre, que, por algum tempo, trabalhou em extração e venda de quartzo, um mineral com valor destacado na exportação. Àquela época, havia interesse especial no quartzo, estrategicamente usado na fabricação de radiotransmissores, direcionados à demanda militar americana, durante a Segunda Guerra Mundial. Os caminhos profissionais do moço pareciam ter algo da premonição sugerida pelo seu próprio nome, mas também no interesse do pai de ver o filho cursar engenharia, conforme nos relatou durante a entrevista:
Com incentivo de seus pais e familiares, a mudança do jovem José Israel Vargas para a efervescente capital mineira, em 1939, marcou o início de seus contatos com as ciências naturais, nos primeiros passos rumo à trajetória do futuro cientista. Parte da sua vida colegial - o equivalente ao nosso atual ensino fundamental - foi cursada no Colégio Arnaldo, uma das melhores escolas privadas de Minas Gerais (se não a melhor da época), e sua matrícula foi uma conquista familiar, dadas as dificuldades financeiras sentidas naquele tempo. Foi no Colégio Arnaldo, provavelmente, o seu encontro mais direto com disciplinas como Química, Física e Biologia, ministradas em salas específicas para cada conteúdo. O Colégio havia sido criado a partir do interesse de uma associação confessional católica, a Congregação do Verbo Divino, originada na Holanda, Bélgica e Alemanha. O nome do colégio homenageia o sacerdote alemão Arnaldo Janssen (1837-1909), fundador da Congregação, que incentivava o ideário científico em suas práticas pedagógicas.6 O Colégio, que passou por algumas hostilidades durante o período da Primeira Guerra Mundial (por ter sido intitulada a "Escola dos Alemães"), mantém ativo até hoje o belo prédio na região central de Belo Horizonte. Conta-se que o colégio mereceu uma visita de Marie Curie quando esteve em Belo Horizonte em 1926, dois anos antes do nascimento de Vargas. À época, a proposta pedagógica de conteúdos científicos era acompanhada de intenso rigor e rigidez disciplinar, na forma do internato semi-integral, que era adotada pela Direção do Colégio Arnaldo. José Israel Vargas tinha algumas objeções à disciplina rígida adotada pelos padres, mas considera até hoje que o Colégio era muito bom.7 No ano de 1944, o estudante J. I. Vargas transferiu-se para o Colégio Marconi, um educandário fundado com o apoio do governo da Itália, que focava a formação de filhos de imigrantes italianos em Minas Gerais. O governo da Itália também contribuiu ao financiamento da construção do prédio, da montagem de salas de aula e dos laboratórios. Apoiou também a contratação dos melhores professores descendentes de italianos, da capital mineira. O nome do Colégio é inspirado em Guglielmo Marconi (1874-1937), considerado um dos maiores físicos de sua época, que rivalizou com Nikola Tesla (1856-1943), de origem austro-húngara, na disputa pelo pioneirismo da transmissão de sinais de radiofrequência a longas distâncias, em uma das mais acirradas disputas pela conquista do avanço tecnológico mundial. O italiano sagrou-se "vencedor" da peleja ao transmitir, através do oceano Atlântico, entre o Reino Unido e o Canadá, sinais de telégrafo, sem que fosse necessário o uso de cabos metálicos: um marco extraordinário, que inaugurou a transmissão sem fio intercontinental, que até hoje utilizamos.8 Não era surpreendente que os ex-alunos do Marconi buscassem seguir os passos do patrono do Colégio, uma instituição da qual J. I. Vargas ainda guarda memórias juvenis, vivas e afetivas. A estrutura da escola, que adotava uma abordagem liberal no tratamento dos alunos, cativava os jovens e seus pais, em um período marcado pelas ditaduras em países europeus do Eixo (Itália e Alemanha), na Segunda Guerra Mundial, irrompida em 1939. O Colégio Marconi contava também com docentes de destacado nível intelectual da época, como o Professor Arthur Versiani Velloso (1906-1986). Velloso era inspiração para os alunos que almejavam mudanças no cenário catastrófico em que viviam e se questionavam sobre a forma capitalista de domínio mundial. Formado em Direito, lecionava Filosofia no terceiro ano e era também responsável pela formação artística de alguns dos alunos ao apresentá-los aos clássicos da literatura, como nos relata o Professor J. I. Vargas:
Ficamos admirados ao ver que, mesmo com poucas falhas na citação dos versos do poema original de Luís Vaz de Camões,9 o Professor Vargas mantém nítidas lembranças das aulas do professor A. V. Velloso, que teve influência fundamental e definitiva em sua carreira, sendo o principal responsável por sua escolha de formação em ciência Química, alterando os planos que seu pai havia traçado para vê-lo tornar-se engenheiro:
A premonição do Professor Velloso de que a verdadeira vocação de J. I. Vargas não seria a Engenharia e do fato de ele logo ter-se voltado à ciência, à química e à física, o sonho de seu pai vê-lo engenheiro teve uma associação circunstancial curiosa, em 1979. Naquele ano, quando foi nomeado para ocupar o cargo de Secretário de Tecnologia Industrial, do Ministério da Indústria e do Comércio, o despacho presidencial, incidentalmente, refere-se a ele como "Engenheiro" (Figura 4).
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SUA GRADUAÇÃO E SEUS AMORES PELA QUÍMICA E PELA FÍSICA Segundo a pesquisadora Maria de Lourdes Amaral Haddad,
Para isso, o grupo foi autorizado a utilizar toda a estrutura física do Colégio Marconi. A iniciativa foi ainda incentivada pelo adido cultural da Itália em Belo Horizonte, Vicenzo Spinelli, que, futuramente, também se tornaria professor dos cursos da Fafi-MG. Entre o desejo de criação da Faculdade de Filosofia e o reconhecimento do novo estabelecimento de ensino superior, restavam o cumprimento das condições legais para a abertura das turmas e matrículas dos alunos. A revista Kriterion,11 fundada pelos professores da Fafi-MG, traz na apresentação de seu primeiro número, de 1947, um breve relato histórico da regularização formal da faculdade. Em função de diversas dificuldades e da burocracia à época, o início do funcionamento da Faculdade somente ocorreu em 1941.12 Os doze cursos da Fafi-MG foram formalmente reconhecidos somente em 1946. É interessante ainda observar que, nos "moldes da Faculdade Nacional de Filosofia do Rio de Janeiro", implicava a Fafi-MG ter preceitos de formação parecidos, com demandas de disciplinas e cargas horárias, de acordo com o determinado pelo Decreto-Lei 1.190, de 4 de abril de 1939. Para o curso de Química, as disciplinas eram:13
É muito provável que o jovem J. I. Vargas não tenha cursado todas as disciplinas do conteúdo apresentado na tabela acima, base da estrutura curricular do curso de Química, uma vez que, ele mesmo assim afirma, se punham à disposição dos alunos duas opções de integralização do curso: Bacharelado ou Licenciatura. No caso do curso de Licenciatura, algumas disciplinas voltadas à didática também faziam parte da grade curricular. Além disso, a Licenciatura era entendida como estratégica para o estado de Minas Gerais, conforme seu depoimento:
Em seu Currículo Lattes, o professor Vargas registra que, inicialmente, concluiu a graduação em "Licenciatura em Química" em 1952; no ano seguinte, obteve o "Bacharelado em Química".14 Apesar das críticas que fez em relação às disciplinas de didática e à forma como a licenciatura era concebida, Vargas destaca que, na Faculdade e em outras instalações em Belo Horizonte, as oportunidades de pesquisa e desenvolvimento intelectual na Fafi-MG eram invejáveis. Um dos locais em que realizou estágio, por exemplo, foi o Instituto de Tecnologia Industrial (ITI), um dos órgãos estaduais voltados para o apoio e incentivo ao avanço das indústrias mineiras e responsável por avaliações técnicas de produtos e equipamentos (semelhante ao que o Instituto Nacional de Tecnologia e o INMETRO se propõem a fazer em nível federal nos dias atuais). Além disso, o ITI desempenhou papel fundamental em fazer de Minas Gerais um estado de destaque na descoberta e exploração de novas reservas minerais, como o fosfato e o nióbio, notadamente em Araxá, pelo geólogo Djalma Guimarães, ativo naquela instituição. Segundo o Professor Vargas, além dele, vários outros de seus colegas do Colégio Marconi tiveram forte influência do Arthur V. Velloso e também decidiram pelo curso de Química da Fafi-MG:
Entre os seis colegas de turma do Colégio Marconi, como já afirmou o Professor Vargas, "o mais vocacionado para Química" foi o Herbert Magalhães Alves (1929-2011), que se tornou importante professor de Química Orgânica na UMG.15 O Professor Herbert foi o mais jovem catedrático na Universidade, na Escola de Engenharia, que era a mais prestigiada, e a mais rica unidade acadêmica da universidade. Junto com a Fafi-MG, ambas já faziam parte da Universidade de Minas Gerais (UMG), a partir da federalização, que ocorreu no ano de 1949. Sobre Herbert Magalhães, o Professor Vargas acrescenta:
O Professor Herbert Magalhães havia estabelecido uma parceria com o químico brasileiro Otto Richard Gottlieb (1920-2011).16 Essa colaboração não apenas possibilitou sua interação com o grupo da Universidade de Sheffield, no Reino Unido, onde trabalhou na equipe do Professor William David Ollis (1924-1999), mas também garantiu uma intensa cooperação na análise e descoberta de produtos naturais de plantas brasileiras, como as avocatinas, isoladas da semente do abacate.17 Como Professor Titular do Departamento de Química da UFMG, Herbert Magalhães foi (1967-1968) um dos fundadores da Pós-Graduação em Química, em que atuou nas áreas de Química Orgânica e Química de Produtos Naturais. Nesse processo, muito contribuiu o Professor José I. Vargas, então consultor da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP). A implantação da pós-graduação resultou também do empenho do Professor Ruy Magnane Machado, Doutor pela Universidade de Grenoble, França, que foi orientado pelo Professor Vargas e, posteriormente, tornou-se seu colaborador científico. Retornando mais uma vez ao termo, "o mais vocacionado para a química ter sido o Herbert Magalhães" significa, para o Professor Vargas, que sua própria formação sempre se inclinou mais para a Física, que teria sido sua primeira alternativa, caso a Fafi-MG oferecesse a opção. Inconformado com a falta da opção de formação em Física, o jovem J. I. Vargas requereu sua transferência da Faculdade de Filosofia de Minas Gerais para uma instituição equivalente em São Paulo, a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCLH), fundada em 1934, como parte do projeto de criação da Universidade de São Paulo (USP).18 Sem precisar ano ou data corretos de sua transferência para a FFCLH, J. I. Vargas afirmou que "... como podia transferir, eu me transferi para lá. Porque eu imaginava que foi na Faculdade de Filosofia (de São Paulo) que a química e toda a física brasileira nasceu." A transferência foi possível graças à ajuda de seu amigo Francisco Iglesias - famoso historiador e geógrafo, nascido em Pirapora, MG, e egresso da Fafi-MG12 - que tinha contatos na USP. Em seu depoimento, Vargas afirma:
Com os documentos da transferência devidamente organizados, J. I. Vargas sai de Belo Horizonte, em direção a São Paulo, em busca de seu objetivo de conhecer outras universidades e aumentar seu contato com a Física, oferecida pela USP. Em sua entrevista, Vargas nos relatou que, após um interregno de dois anos na USP, voltou a Belo Horizonte e concluiu a Licenciatura em Química na UFMG, em 1952.
Abrindo um parêntese para falar um pouco sobre o futuro relacionamento com o Presidente Geisel, J. I. Vargas recorda a ocasião em que o conheceu pessoalmente. Isso ocorreu enquanto ele era presidente da Fundação João Pinheiro em Belo Horizonte (03/1973 a 01/1997) e foi prestar depoimento em Brasília junto à Comissão do Programa Nuclear. Após o depoimento, foi convidado pelo Senador Franco Montoro para participar de um almoço no clube dos parlamentares cristãos. Em seguida, durante o café, o Senador Gustavo Capanema o apresentou ao Presidente Geisel. Ao saber da especialidade do Professor Vargas, o presidente lhe perguntou: "Professor, como vai o programa nuclear brasileiro?" Como é de seu estilo, J. I. Vargas não se intimidou diante da presença do general e foi direto em sua resposta: "Vai muito mal, Presidente. " Surpreso, o presidente reagiu, dizendo que se tratava de uma afirmação muito grave. Acrescentou que iria instruir o Ministro das Minas e Energia, Shigeaki Ueki (1974-1979), a procurá-lo na semana seguinte. Conforme Vargas nos informa, ele de fato foi procurado pelo ministro, e dessa conversa surgiu um projeto que foi financiado pelo CNPq para a capacitação, no exterior, de um grande número de especialistas na área nuclear. Esse projeto foi fundamental para dar sustentação ao programa nuclear brasileiro a partir de então. Retornando ao assunto da transferência para São Paulo, Vargas imaginava que a estrutura acadêmica da USP seria diferenciada em relação ao que se estudava na Fafi-MG. Contudo, muito provavelmente devido ao seu espírito inquieto e à sua inteligência, não considerava que os conteúdos com os quais estava tendo contato na FFCLH eram melhores do que os ministrados pelo Professor Cássio Mendonça Pinto em Belo Horizonte. Nessa sua primeira permanência no estado de São Paulo, J. I. Vargas estabeleceu vários contatos, possibilitados pelos movimentos estudantis, que teriam influência para moldar o seu futuro, e conheceu seu contemporâneo de faculdade, Fernando Henrique Cardoso, que, mais tarde, seria eleito o 34º Presidente do Brasil, em 1995, com seu segundo mandato encerrado em 2003. Segundo Vargas,
Ainda na capital paulista, Vargas foi "seguido" por Virgílio Possas, mais um dos brilhantes alunos do Colégio Marconi (o que aumentou para sete o número de ex-alunos que foram cursar Química na Fafi-MG). Daquela época, Vargas ainda tem boas lembranças de um caso pitoresco envolvendo esse colega dos tempos de sua passagem pela USP:
Após sua experiência na USP, onde foi aluno de Heinrich Rheinboldt e Heinrich Hauptmann, expoentes da Química alemã, Israel Vargas retorna a Belo Horizonte, em 1952. Logo após chegar, adoeceu e desistiu de integralizar sua formação em Física, completando finalmente sua Licenciatura em Química; em 1953, recebeu o título de Bacharel em Química (Figura 5). Segundo nos relata, a diplomação atrasou por motivo de uma greve. Com o apoio inesperado do colega Virgílio Hudson, ele foi eleito o orador da turma durante a cerimônia.
OS PRIMEIROS ANOS DE DOCÊNCIA E CONTINUIDADE DOS ESTUDOS Com o diploma em mãos, não lhe faltaram opções para começar sua carreira em sala de aula, e a primeira oportunidade surge em Belo Horizonte, conforme relata em duas ocasiões:
Seu período no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) foi marcado por dois momentos. Primeiro, após ser enviado de Belo Horizonte a São José dos Campos, SP, como aluno de uma série de cursos que eram ministrados para o aperfeiçoamento de professores de Física de cursos secundários, junto com Beatriz Alvarenga, da Escola de Engenharia e do Colégio Mineiro. Nesse primeiro momento, J. I. Vargas fez curso de especialização na USP, em "Mecânica analítica e estatística", sob a orientação de Abraão de Moraes (1917-1970), professor de Física da USP que sucedeu Wataghin,23 em 1949, na Chefia do Departamento de Física. Segundo Vargas,
Em um segundo momento, a convite de Paulus Aulus Pompéia (1911-1993), um daqueles que foram seus professores, J. I. Vargas ingressou como "Auxiliar de Ensino" no corpo docente do ITA, aproximadamente entre 1951 e 1952. Porém, sua permanência naquele Instituto não durou muito tempo, pois, diante da doença e morte consequente do pai, J. I. Vargas retorna para Belo Horizonte. De pronto, consegue aprovação em um concurso para prover professores ao recém-criado Colégio Municipal de Belo Horizonte e se tornar "Professor Catedrático de Física" do mesmo. Naquela época, o cargo de Professor Catedrático do Colégio Municipal era de grande prestígio, e o processo seletivo correspondia praticamente ao que era demandado para uma Cátedra Universitária. Para alcançar aprovação, Israel Vargas apresentou uma tese intitulada "Aspectos Didáticos sobre a Determinação de e/m do Elétron". Como pode ser observado na Figura 6, a tese está datada de 1953. Na mesma figura, pode-se também verificar que o ponto sorteado para a prova de didática foi o de número 4, correspondendo a "Movimento harmônico simples".
Esse último documento é datado de 26 de outubro de 1955 e vem assinado pelos membros da banca examinadora: Francisco de Assis Magalhães Gomes (Presidente), Rui Ferreira da Cunha, Oromar Moreira, Caio Libano de Noronha Soares e Alberto Teixeira Paes. Segundo o Professor Israel Vargas, a diferença entre as datas da tese e do concurso se deveu ao fato de que, mesmo tendo concluído a tese em 1953, o concurso permaneceu aberto por um longo tempo, tendo apenas sido efetivamente realizado no final de 1955. A tese (Figura 6) é dedicada a Francisco Iglesias e a Newton Bernardes. No Prefácio, Vargas faz outros agradecimentos, inclusive ao seu mestre Arthur Versiani Velloso, como se pode ler:
Segundo Vargas, ocupar a Cátedra de Física do Colégio Municipal lhe proporcionou a oportunidade do exercício do magistério em sua mais alta expressão, ou seja, a promoção de alunos de classes sociais muito baixas aos postos mais elevados da carreira universitária, tendo muitos de seus alunos, inclusive, realizado doutoramento na França. Ele se lembra de que, entre seus alunos do curso noturno que se destacaram, havia filhos de sapateiro, lavadeira e mestre de obra. Um episódio que o Professor Vargas fez questão de destacar foi o caso de um aluno que, em certa ocasião, estava com problemas de visão e, ao ser levado para uma consulta com um oftalmologista famoso à época, foi diagnosticada a causa do problema de visão: cegueira noturna devido à má alimentação. Entre os alunos com os quais se ocupou o Professor Vargas, três concluíram o doutorado na França, dois se tornaram Professores Titulares da UFMG e, o terceiro, da Escola de Minas de Ouro Preto. Um dos alunos menos carente formou-se em Engenharia, tendo sido discente do Professor Herbert Magalhães Alves. Todos frequentavam, aos sábados e domingos, os cursos práticos que Vargas oferecia no Laboratório de Física da Faculdade de Filosofia da UFMG, onde era assistente de Física do Professor Schmidt. Outra oportunidade lhe bate à porta e, dessa vez, sua formação eclética entre Química e Física o capacita para ser selecionado a realizar um curso de "Especialização em Radioquímica e Química Nuclear" na Universidade de Concepción, no Chile (Figura 7). Esse curso foi ministrado por professores da Universidade de Cambridge e financiado pelo British Council, em 1956. A participação no curso teve grande impacto na futura carreira de Vargas, uma vez que foi durante a sua estada no Chile que ele foi convidado por um professor da Universidade de Cambridge para fazer o doutorado na Inglaterra, conforme seu relato:
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No ano em que parte para a Inglaterra para o doutorado em Cambridge, em 1957, é instalado em Belo Horizonte um dos três reatores nucleares obtidos pela parceria estadunidense com o programa "Átomos para a Paz".26 O Instituto de Pesquisas Radioativas - IPR (hoje, Centro de Desenvolvimento de Tecnologia Nuclear - CDTN) é um dos institutos capacitados para o importante papel de desenvolvimento das aplicações das técnicas nucleares, principalmente, para áreas que envolviam a utilização dos isótopos radioativos na indústria. Entre outras necessidades, seria preciso formar os profissionais que iriam trabalhar no IPR e, para isso, somado ao seu salário de professor da UFMG, J. I. Vargas receberia também o salário como funcionário do IPR, conforme relata em entrevista, em 2014.
Foi nos laboratórios de Cambridge (Figura 8), sob a orientação de Aldred Maddock, que Vargas realizou, com sucesso, pesquisas que resultaram em sua tese de doutorado. Seu primeiro trabalho de pesquisa versou sobre a influência de defeitos cristalinos em sólidos sobre o processo Szilard-Chalmer. Essa pesquisa resultou em sua primeira publicação científica, que se deu em 1959, na prestigiosa revista Nature.28 Com a ética e o respeito que sempre manteve em suas relações sociais e no trabalho, o artigo se encerra com os seguintes dizeres: "Um de nós (J. I. V. ) deseja agradecer a licença do Instituto de Pesquisas Radioativas e da Faculdade de Filosofia da Universidade de Minas Gerais, Brasil."28
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Seu certificado de conclusão do doutorado foi emitido pela Universidade de Cambridge, em 30 de abril de 1960 (Figura 9). Com isso, J. I. Vargas completa sua formação acadêmica e retorna ao Brasil para assumir seu cargo de Catedrático Interino na Universidade de Minas Gerais para o qual havia sido nomeado em 1956. Quatro anos após seu retorno, logrou aprovação em concurso para o cargo de Professor Catedrático Interino de Físico-Química e Química Superior na Faculdade de Filosofia na Universidade Federal de Minas Gerais. Para isso, submeteu a tese "Contribuição ao Estudo das Consequências Físico-Químicas da Captura Radioativa de Nêutrons Térmicos nos Sólidos" (Figura 10).
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A sólida formação científica em Cambridge permitiu a Vargas continuar, a partir de 1960, seus trabalhos na área de Química Nuclear na UFMG, criando uma linha de pesquisa que permitiu a formação de diversos Mestres e Doutores.29 Além disso, Vargas passou a ter papel central no desenvolvimento do programa nuclear brasileiro, ocupando importantes cargos de gestão e de representação em órgãos nacionais e internacionais. Essas representações o levaram a ter contato com cientistas ilustres do Brasil e em diversos países. Detalhes desses cargos são encontrados na sua biografia publicada pela Editora UFMG.3 Com o advento do golpe militar em 1964, quando se instalou um regime ditatorial no país, Vargas passou a ser perseguido de várias formas. Nessa época, ele ocupava importante posição junto à Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN). Nesse contexto, ele foi o primeiro presidente da Associação Brasileira de Energia Nuclear (Aben), em 1963, representando o Brasil na Junta de Governadores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), em Viena, na Áustria.30 Sobre esse período, ele próprio nos relata:
Diante da situação de perseguição e da crise financeira por que passava, Vargas aceitou o convite feito por Pierre Balligand e partiu para a França, numa estadia que viria a perdurar por vários anos.
O TEMPO NO CENTRO DE ESTUDOS NUCLEARES DE GRENOBLE E SUAS REPERCUSSÕES DIRETAS NA UFMG Tendo chegado ao Centre d'Études Nucléares de Genoble (CENG), França, em 1966, J. I. Vargas engajou-se na equipe científica do Laboratoire d'Interactions Hiperfines (LIH), do Département de Recherches Fondamentales (DRF). No tempo em que lá permaneceu, trabalhou com metodologias nucleares, para estudos de vários problemas químicos, em particular sobre as consequências dos efeitos da radiação neutrônica em sólidos, tema no que havia trabalhado em Cambridge (Reino Unido), anos antes.28 Os fundamentos conceituais do correspondente efeito Szilard-Chalmers foram abordados por Maddock em 1953.31 No período em Grenoble, até 1971, liderou a orientação acadêmica de estudantes de doutorado da Université Scientifique et Médicale de Grenoble (USMG),32 que desenvolveram seus trabalhos experimentais de tese no LIH/CENG: Machado;33 Duplâtre;34 Tissier;35 Oliveira;36 Vulliet;37 Sette-Câmara;38 Boyer39 e Dimitropoulos40. Outros estudantes, de outras instituições, inclusive da UFMG, foram também orientados pelo Professor J. I. Vargas, nesse mesmo período: Tupynambá41 e Guimarães.42 São destacáveis as principais técnicas nucleares usadas na exploração dos problemas químicos, nesses trabalhos: correlação angular perturbada e variação da meia-vida de decaimento radiativo do núcleo-sonda.43 Os trabalhos científicos correspondentes às teses foram reportados em diversos periódicos científicos.44 Na sua volta ao Brasil, em 1972, J. I. Vargas procurou implantar laboratórios baseados nas técnicas físicas, do seu tempo no CENG, para estudos sobre vários problemas químicos, no Departamento de Química da UFMG, a começar pela correlação angular perturbada.45 Mais laboratórios para instalação de outras técnicas nucleares estavam também em mente. Criou a oportunidade de um evento internacional na UFMG, de 8 a 26 de agosto de 1977, intitulado "Tópicos Avançados em Química Nuclear e Interações Hiperfinas". Foram palestrantes, além do próprio J. I. Vargas, Alfred Gavin Maddock (Universidade de Cambridge, Reino Unido); André Leon Baudry (Centro de Estudos Nucleares de Grenoble, França); Jacques Abufalia Danon (Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, Rio de Janeiro, Brasil) e Jean-Pierre Adloff (Universidade Louis Pasteur, Estrasburgo, França). A partir daí, surgiu o estímulo necessário para que grupos dentro do próprio Departamento de Química da UFMG tomassem a iniciativa de estruturarem os laboratórios de aniquilação de pósitron,46 pioneiramente, por José Caetano Machado (1935-2014), Antônio Marques Netto (1938-2015) e, depois, também Welington Ferreira de Magalhães. Em meados dos anos 1980, foi iniciado o laboratório de espectroscopia Mössbauer, pelo Milton Francisco de Jesus Filho (1947-1996). As iniciativas de implementação dos novos laboratórios baseados nas metodologias físicas, até meados da década de 1980, vieram, pois, essencialmente, em consequência das ideias e convicções de J. I. Vargas. Com vistas a exemplificar um pouco mais a diversidade de atividades realizadas pelo Professor Vargas, transcrevemos aqui parte do discurso que ele proferiu durante a cerimônia em que recebeu o título de Professor Emérito, em 11 de maio de 1990 (disponível no Material Suplementar). No discurso, logo no segundo parágrafo, ele faz menção à influência que Arthur Versiani Velloso teve sobre sua trajetória acadêmica. Mais ao final, ele descreve resumidamente sua carreira assim:
Após sua aposentadoria na UFMG em 1986, o Professor Vargas continuou exercendo muitos cargos no governo federal, como o de Ministro de Ciência e Tecnologia, nos governos dos Presidentes Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, de 1992 até 1999. No ano 2000, durante o governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso, foi nomeado Embaixador e Delegado Permanente do Brasil na UNESCO.48 Nos últimos 10 anos, o Professsor Vargas vem orientando vários estudantes de iniciação científica, em projetos relacionados ao uso da modelagem matemática desenvolvida pelo físico e matemático italiano Cesare Marchetti (1927-2023), de quem havia se tornado amigo. O modelo matemático desenvolvido por Marchetti é capaz de descrever as mais variadas ações humanas ao longo do tempo, a exemplo da destruição de debulhadoras pelos trabalhadores agrícolas ingleses no século XIX e da construção de catedrais góticas entre os séculos XII e XIV. Seu trabalho mais recente nessa área corresponde ao capítulo intitulado "Ciência, Liberdade e Tráfico de Escravos", em colaboração com o estudante de Engenharia Química Pedro Augusto F. Borges. O trabalho foi apresentado em palestra, durante evento comemorativo dos 200 anos da Independência do Brasil, em setembro de 2022.49 Nesse trabalho, esses autores ilustram diversas aplicações do modelo marchettiano, incluindo dados sobre a evolução histórica da eficiência termodinâmica em três tecnologias (máquina a vapor, produção de luz e síntese industrial de amônia), bem como a eficiência de dispositivos geradores de energia (mecânica, térmica e elétrica). O trabalho é complementado com dados coletados sobre a evolução anual do número de escravos embarcados para o Brasil, no tráfico transatlântico, entre 1501 e 1866. Os dados foram analisados segundo o modelo de Marchetti, e os autores mostraram, pela primeira vez, que existe correlação clara entre a crescente eficiência termodinâmica das máquinas a vapor e a redução do tráfico de escravos. O auge do tráfico ocorreu em 1800, caindo a partir de então e sendo totalmente extinto por questões legais em 1866.49
CONSIDERAÇÕES FINAIS Mantendo-se fiel à Química e à Física, José Israel Vargas trabalhou exatamente na fronteira das duas ciências e, dessa forma, trouxe a Minas Gerais o estudo das consequências químicas das transformações nucleares nos sólidos e as interações hiperfinas, usando métodos físicos (correlação angular diferencial perturbada e variações das meias-vidas de isótopos pesados). Israel Vargas trabalhou com esses métodos físicos em Grenoble, onde liderou o Grupo de Interações Hiperfinas do Centro de Estudos Nucleares, e do Grupo Recherche et Coopération sur Programme do Conseil National de la Recherche Scientifique, envolvendo os grupos de estudos das interações hiperfinas de Lyon, Paris (Orsay), Oxford (Inglaterra) e Grenoble. José Israel Vargas manteve, ao longo de sua extensa e rica formação nas ciências Química e Física, as características de seus objetos de estudo. Soube se transformar, ao longo dos anos, sem nunca perder seu ímpeto ou sua intensidade intelectual. No âmbito das imprevisibilidades, não se perdeu nem mesmo diante dos maiores percalços enfrentados e soube criar, na sua trajetória profissional, com maestria, avanços ao conhecimento científico, para oferecer oportunidades de expressão e formar novos profissionais talentosos. A estatura intelectual do nosso Professor Emérito transcendeu as fronteiras nacionais, para ser referência aos nossos jovens estudantes de Química. Suas contribuições foram amplamente decisivas e permeiam a consciência e as aspirações das nossas novas gerações de talentos em ciência da UFMG, no desenvolvimento da Química Nuclear no Brasil. Em 2018 o Departamento de Química da UFMG instituiu uma medalha que leva seu nome e efígie, e desde então tem sido atribuída anualmente a químicos que se destacam para o progresso desta ciência no Brasil.
MATERIAL SUPLEMENTAR O material suplementar desse trabalho está disponível em http://quimicanova.sbq.org.br/, na forma de arquivo PDF, com acesso livre.
AGRADECIMENTOS Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelo constante apoio ao desenvolvimento de nossas pesquisas (CNPq 306873/21-4 e 308411/2021-8) e à Rebeca Dwayne Vieites Scarabelli pelo preparo de algumas figuras. Os autores expressam ainda especial gratidão à Márcia Cavalcanti Moreira, bibliotecária, e ao Sérgio Ferreira da Silva, bibliotecário, ambos, do Sistema de Bibliotecas da UFMG, no Departamento de Química do ICEx, pelo inestimável pronto apoio de identificação de obras e de endereços URL, para acesso remoto diretamente aos textos dos trabalhos acadêmicos de tese, citados neste artigo.
REFERÊNCIAS 1. Meihy, J. C. S. B.; Vida e Ciência: Entrevista com JoséIsrael Vargas, Série Diálogos 1; Editora Pontocom: Duque de Caxias, 2014. 2. Vargas, J. I.; Ciência em Tempo de Crise - 1974-2007; Moreno, M. Q. , org.; Editora UFMG: Belo Horizonte, 2007. 3. Pereira, L. M. L.; Desafiando Fronteiras - Trajetória de Vida do Cientista JoséIsrael Vargas; Editora UFMG: Belo Horizonte, 2015. 4. Oliveira, A. B. Em Artífices do Sonho - Oitenta Anos do Curso de Química da UFMG; Barbosa, L. C. A. , ed.; LF Editorial: São Paulo, 2024, cap. 3. 5. Israel Pinheiro da Silva (1896-1973) é mais conhecido por ter sido governador de Minas Gerais entre 1966 e 1971, mantendo tradição familiar, uma vez que seu pai, João Pinheiro (1860-1908), também já havia ocupado tal cargo. Israel Pinheiro formou-se em 1919 em Engenharia Civil e de Minas pela Escola de Minas de Ouro Preto (EMOP). Recebeu como prêmio uma viagem à França, Inglaterra e Alemanha, onde efetuou estudos de aperfeiçoamento no setor siderúrgico. Conforme as datas apresentadas acima, é mais fácil depreender que Israel Pinheiro foi "o primeiro ou de destaque de sua turma", uma vez que a EMOP foi fundada em 1876. Além do nome, Israel Vargas e Israel Pinheiro dividem também o mês de nascimento - o primeiro nasceu no dia 04 de janeiro e o segundo no dia 09. Israel Pinheiro se tornou muito conhecido, antes de ser Governador, por ter sido o Presidente da Novacap, a companhia estatal que geriu a construção da cidade de Brasília, na segunda metade dos anos de 1950. 6. Cançado, J. M.; Colégio Arnaldo: Uma Escola nos Trópicos; Editora Arte: Belo Horizonte, 1999; Leite, G. L.: Juventude e Socialização: Os Modos de ser Jovem Aluno das Camadas Médias em uma Escola Privada de Belo Horizonte - MG; Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, 2011. [Link] acessado em Novembro 2024 7. Pereira, L. M. L.; op. cit. , 2015, p. 51-52. 8. O'Sheil, T.; Marconi and Tesla: Pioneers of Radio Communication(Inventors who Changed the World); MyReportLinks.com Books: Berkeley Heights, 2008. 9. Pensador, https://www.pensador.com/poemas_de_luis_camoes_amor, acessado em Novembro 2024. 10. Haddad, M. L. A.; Faculdade de Filosofia de Minas Gerais: Sementes do Espírito Universitário; BH Press Comunicação: Belo Horizonte, 2015. 11. Pellegrino, B.; Kriterion 1947, 1, 1. 12. Santos, A. S.; História da Historiografia 2013, 11, 104. [Link] acessado em Novembro 2024 13. Câmara do Deputados; Decreto Lei No. 1.190, de 4 de abril de 1939, Dá Organização à Faculdade Nacional de Filosofia; Diário Oficial da União (DOU), Brasília, seção I, de 06/04/1939, p. 7929. [Link] acessado em Novembro 2024 14. Sistema Currículo Lattes, Currículo Lattes de JoséIsrael Vargas, http://lattes.cnpq.br/9416971538888241, acessado em Novembro 2024. 15. O nome Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) somente veio a ser utilizado em 1965. [Link] acessado em Novembro 2024 16. O Professor Otto Richard Gottlieb, por iniciativa do Professor Herbert Magalhães, tornou-se professor visitante do Departamento de Química, onde orientou muitos professores e ministrou diversos cursos. O Professor Otto muito contribuiu para a implantação de uma forte linha de pesquisa em Química de Produtos Naturais na UFMG. 17. Blackburn, G. M.; Sutherland, I. O.; Biogr. Mem. Fellows R. Soc. 2001, 47, 395. [Link] acessado em Novembro 2024 18. Senise, P.; Origem do Instituto de Química da USP - Reminiscências e Comentários; Instituto de Química da USP: São Paulo, 2006. 19. Vargas e FHC se encontrariam vezes mais tarde quando o primeiro foi indicado para lecionar, como auxiliar de ensino, no Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), entre 1954 e 1955. 20. BBC News, https://www.bbc.com/portuguese/geral-57730270, acessado em Novembro 2024. David Joseph Bohm (1917-1992) foi um físico americano cassado pelo governo americano por seus ideais comunistas. Sempre manteve ótima relação com Albert Einstein em comunicações que se faziam por cartas. 21. Vargas, J. I.; JoséIsrael Vargas I (depoimento, 1977); Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC): Rio de Janeiro, 2010. [Link] acessado em Novembro 2024 22. Paulos Aulus Pompéia, um dos descobridores do chuveiro de raios cósmicos, primeira demonstração da complexidade de núcleos atômicos (prótons, nêutrons e mésons). Foi até então o único brasileiro Chefe do Departamento de Física do ITA. Comunicação pessoal do Prof. José I. Vargas. 23. Acervo USP, http://acervo.if.usp.br/bio01, acessado em Novembro 2024. Gleb Vassielievich Wataghin (1899-1986), físico teórico de origem russa naturalizado italiano, foi o responsável pela implantação da Seção de Ciências Físicas da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, em 1934. 24. Pereira, L. M. L.; op. cit. , 2015, p. 227. 25. Meihy, J. C. S. B.; op. cit. , 2014, p. 69. 26. Moreno, M. Q.; op. cit. , 2007, p. 181. 27. Meihy, J. C. S. B.; op. cit. , 2014, p. 27. 28. Maddock, A. G.; Vargas, J. I.; Nature 1959, 184, 1931. [Link] acessado em Novembro 2024 29. Moreno, M. Q.; op. cit. , 2007, p. 215-219. 30. Memória da Eletricidade, Personalidade Israel Vargas, https://www.memoriadaeletricidade.com.br/acervo/8332/jose-israel-vargas, acessado em Novembro 2024. 31. Maddock, A. G.; Endeavour 1953, 121, 95. 32. Université Grenoble Alpes, L'histoire de l'Université Grenoble Alpes, https://www.univ-grenoble-alpes.fr/universite/histoire-de-l-uga/l-histoire-de-l-universite-grenoble-alpes-584571.kjsp, acessado em Novembro 2024. 33. Machado, R. M.: Contribution a l'étude des Conséquences Chimiques de la Réaction (n, g) dans l'acétylacétonate de Cobalt; Tese de Doutorado, L'Université de Grenoble, França, 1968. [Link] acessado em Novembro 2024 34. Duplâtre, G.: Conséquences Chimiques de la Capture Radiative des Neutrons sur le Séléniate de Potassium; Tese de Doutorado, Université Scientifique et Médicale de Grenoble, França, 1969. [Link] acessado em Novembro 2024 35. Tissier, A.: Étude des Conséquences Chimiques de la Capture Neutronique dans le Tropolonate d'hafnium par les Corrélations Angulaires Perturbée; Tese de Doutorado, Université Scientifique et Médicale de Grenoble, França, 1970. [Link] acessado em Novembro 2024 36. Oliveira, J.: Applications des Corrélations Angulaires Perturbées à l'étude des Composés Solides du Hafnium et du Sélénium; Tese de Doutorado, Université Scientifique et Médicale de Grenoble, França, 1970. [Link] acessado em Novembro 2024 37. Vulliet, P.: Étude des Conséquences Chimiques de la Capture Neutronique dans Quelques Chelates Solides Neutres du Hafnium, par la Méthode Radiochimique et par les Corrélations Angulaires Perturbées; Tese de Doutorado, Université Scientifique et Médicale de Grenoble, França, 1970. [Link] acessado em Novembro 2024 38. Sette-Câmara, A. O. R.: Étude par Corrélation Angulaire Perturbée du Couplage Statatique et Dynamique du 181Ta dans Quelques Composés Fluorés du Hafnium; Tese de Doutorado, Université Scientifique et Médicale de Grenoble, França, 1971. [Link] acessado em Novembro 2024 39. Boyer, P.: Application de la Corrélation Angulaire Perturbée a l'étude du Couplage Quadrupolaire dans des Solides; Tese de Doutorado, Université Scientifique et Médicale de Grenoble, França, 1971. [Link] acessado em Novembro 2024 40. Dimitropoulos, C.: Contribuition à l'étude des Effets d'irradiation sur des Cristaux Ioniques et Moléculaires; Tese de Doutorado, Université Scientifique et Médicale de Grenoble, França, 1972. [Link] acessado em Novembro 2024 41. Tupynambá, G. A. C.: Análise de Rotina de Urânio e Tório pelo Método dos Nêutrons Retardados; Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, 1969. [Link] acessado em Novembro 2024 42. Guimarães, A. C.: A Decomposição Térmica do Trisacetilacetonato de Cobalto(III); Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, 1972. [Link] acessado em Novembro 2024 43. Vargas, J. I. Em Radiochemistry, Inorganic Chemistry Series One; Maddock, A. G. , ed.; Butterworth: London, 1972. 44. Auric, P.; Vargas J. I.; Chem. Phys. Lett. 1972, 15, 366 [Crossref]; Béraud, R.; Berkes, I.; Danière, J.; Lévy, M.; Marest, G.; Rougny, R.; Vargas, J. I.; Proc. R. Soc. A 1969, 311, 185 [Crossref]; Vargas, J. 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Durante décadas de intensa atividade, ele realizou expressivo número de viagens internacionais oficiais, incluindo o período em que residiu em Paris, como embaixador do Brasil na UNESCO, e inúmeras visitas ao Japão, como membro do Conselho Executivo da Universidade das Nações Unidas. 49. Vargas, J. I.; Oliveira, R. G.; Borges, P. A. F. Em Ciência e Liberdade - A Busca pelo Conhecimento da Natureza no Brasil à Época de Nossa Independência; Filgueiras, C. A. L.; Barbosa, L. C. A. , eds.; LF Editorial: São Paulo, 2023, cap. 2.
Editor Associado responsável pelo artigo: Nyuara A. S. Mesquita |
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