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Decomposição ácida assistida por ultrassom para a determinação de Cu, Fe, Mg e Zn por F AAS em cerâmicas de uso doméstico Acid decomposition assisted by ultrasound for determination of Cu, Fe, Mg and Zn by F AAS in domestic ceramics |
Eliézer Quadro Oreste#; Alexander Ossanes de Souza#; Camila Corrêa Pereira#; Mariana Antunes Vieira#; Anderson Schwingel Ribeiro*,#
Centro de Ciências Químicas, Farmacêuticas e de Alimentos, Universidade Federal de Pelotas, Campus Capão do Leão, 96160-000 Capão do Leão - RS, Brasil Recebido em 27/09/2016 *e-mail: andersonsr@pq.cnpq.br This paper describes a sample preparation method for domestic ceramics, based on the acid decomposition assisted by ultrasound for further determination of Cu, Fe, Mg and Zn by Flame Atomic Absorption Spectrometry technique. The main optimized conditions were: particle size (25 µm); sample mass (25 mg) and the acid volume (0.5 mL of HNO3 and 0.5 mL of HF). The samples were placed in an ultrasonic bath for 2 hours at 40 °C. The method was employed for eight commercial samples of domestic ceramic, which showed different concentrations for all analytes investigated, showing the existing variety of raw materials. The method showed good accuracy and precision, attested by the addition and recovery test, with values of 87 to 112% for all analytes and relative standard deviation lower than 3.0%. INTRODUÇAO As cerâmicas sao definidas como sólidos inorgânicos com estrutura cristalina e que sao formadas através de ligaçoes químicas entre metais e nao metais.1,2 Embora algumas cerâmicas sejam quebradiças, elas possuem, dentre outras características, elevada dureza e resistência a altas temperaturas, o que lhes conferem inúmeras aplicaçoes em vários setores, tais como: elétrico, magnético, ótico, automotivo, biomédico, construçao, químico e doméstico.3 De modo geral, os processos de fabricaçao das cerâmicas variam de acordo com o tipo de peça ou de material desejado, os quais envolvem a preparaçao da matéria prima, o tratamento térmico e o acabamento final.4 A primeira aplicaçao dos materiais cerâmicos ocorreu no período neolítico, em que eram fabricados de argila e cuja utilizaçao servia para a conservaçao de água e de alimentos.5,6 Dentre as suas utilidades, destacam-se no setor doméstico, em que, atualmente, sao utilizados principalmente em louças de mesa (aparelhos de jantar, jogos de xícaras, utensílios para acondicionar alimentos e outros).7 Sao fabricados em quase todos os países, a partir de matéria prima local. No Brasil, existem inúmeras indústrias responsáveis pela produçao de materiais cerâmicos para uso doméstico, as quais estao predominantemente distribuídas nas regioes Sul e Sudeste.7,8 Para o acabamento, alguns materiais cerâmicos passam por uma etapa de recobrimento com esmalte, que propicia um aumento da resistência química e mecânica, além de diminuir a permeabilidade. O acabamento, ademais, melhora o aspecto estético, já que é possível obter materiais com diferentes desenhos e cores. A cerâmica final pode apresentar uma gama de elementos metálicos em sua composiçao, os quais nao sao constantemente monitorados durante o seu processo de produçao. A falta de uniformidade com relaçao à composiçao química dos materiais cerâmicos é indesejada para a sua aplicabilidade no setor doméstico, já que pode haver, por exemplo, possibilidade de migraçao dos elementos para os alimentos e bebidas.2,9,10 No Brasil, ainda nao existem normas para o controle das concentraçoes de metais nas cerâmicas de uso doméstico. Esse fato resultou na chamada MCTI/CNPq/ANVISA Nº 23/2012, em que um dos objetivos foi receber propostas que viabilizassem avaliar a concentraçao de metais em utensílios usados para o preparo de alimentos (porcelanas), incluindo produtos importados. Diante disso, fica evidente a necessidade e a importância do desenvolvimento de metodologias analíticas para a determinaçao de metais em utensílios cerâmicos de uso doméstico. Para a determinaçao de metais, a técnica de espectrometria de absorçao atômica em chama (F AAS) caracteriza-se por apresentar uma boa sensibilidade, seletividade e baixo custo. Essa técnica geralmente utiliza um nebulizador pneumático para introduçao de amostras, o que requer que estas estejam em soluçao e livre de materiais particulados que possam causar entupimento do sistema.11,12 Para definir o método de preparo mais adequado, e que promova uma completa decomposiçao, é necessário conhecer previamente a composiçao química da amostra.13-15 Os materiais cerâmicos geralmente sao fabricados a partir de matérias-primas à base de silicatos, o que se torna vantajoso devido à grande abundância e ao baixo custo desses materiais.16 Para a decomposiçao de amostras ricas em silício, geralmente é necessário uma combinaçao de ácidos envolvendo o ácido fluorídrico (HF).17-22 Contudo, a quantidade residual de HF nas soluçoes das amostras a serem analisadas deve ser mascarada com o ácido bórico (H3BO3) para evitar problemas como a corrosao de algumas peças instrumentais que contenham silício em sua composiçao.18,23 Como fonte de energia para os procedimentos de preparo de amostra, uma alternativa amplamente utilizada é o uso de ondas ultrassônicas que podem conduzir processos de extraçao, dissoluçao e decomposiçao quando aplicadas a amostras sólidas em pó, que se encontram dispersas em um meio líquido apropriado.24-26 Conforme descrito por Krug e colaboradores,14 "os principais efeitos do uso das ondas ultrassônicas em processos de decomposiçao sao a desagregaçao e ruptura do material pela açao de microjatos aumentando a superfície de reaçao, o aumento da atividade química a partir de espécies presentes no solvente, a renovaçao do solvente na interface solvente-soluto sólido e, até mesmo, a fusao do sólido devido às temperaturas extremas atingidas no momento do colapso das bolhas de cavitaçao". Considerando a importância da determinaçao de elementos metálicos em utensílios cerâmicos para uso doméstico, o presente trabalho tem por objetivo, portanto, apresentar um método envolvendo a decomposiçao ácida assistida por ultrassom para posterior determinaçao de Cu, Fe, Mg e Zn nessas amostras pela técnica de espectrometria de absorçao atômica em chama (F AAS).
PARTE EXPERIMENTAL Instrumentaçao Para a determinaçao dos elementos Cu, Fe, Mg e Zn, foi utilizado um espectrômetro de absorçao atômica com chama da Perkin Elmer, modelo AAnalyst 200 (Shelton, CT, EUA), equipado com lâmpadas de cátodo oco para cada analito (Perkin Elmer, Shelton, CT, EUA) e uma lâmpada de arco de deutério para correçao do sinal de fundo. A chama foi composta por uma mistura de ar (gás oxidante) e acetileno (gás combustível) (Linde, Barueri, SP, Brasil). As condiçoes operacionais estao apresentadas na Tabela 1.
As amostras foram cominuídas em um moinho de bolas, modelo MM 400 (Retsch, Alemanha), com copos de moagem fabricados com carbeto de tungstênio e, posteriormente, peneiradas em diferentes granulometrias em um agitador de peneiras (A Bronzinox, Brasil). Além disso, as amostras foram pesadas em uma balança analítica Ohaus Adventurer, modelo Ar 2140 (Pine Brook, NJ, EUA), com uma resoluçao de 0,1 mg e tara de 210 g. No preparo das amostras por decomposiçao ácida foi utilizado um banho ultrassônico, modelo Elmasonic S 40 (H) (Elma, Alemanha), com potência de 560 W e frequência de 37 kHz, além de um bloco digestor, modelo MA 850 (Marconi, Brasil), para uso com tubos e bombas de politetrafluoretileno (PTFE) com até 50 mm de diâmetro. Materiais e reagentes Todos os reagentes utilizados foram de grau analítico e as soluçoes empregadas foram preparadas com água desionizada, obtida a partir de um sistema de destilaçao de vidro (MA078/5, Marconi, SP, Brasil) e, posteriormente, eluída em um desionizador (CS1800 Evolution, Permution, PR, Brasil). As soluçoes de calibraçao para os analitos foram preparadas em meio ácido, idêntico ao utilizado no preparo das amostras, a partir da diluiçao de uma soluçao estoque contendo 1000 mg L-1 (Merck, Darmstadt, Alemanha) em água desionizada. Para o preparo das amostras, foi utilizado ácido nítrico, HNO3 65% m/m (Vetec, RJ, Brasil), bidestilado abaixo do seu ponto de ebuliçao em um destilador de quartzo MA-075 (Marconi, SP, Brasil). Nessa etapa, também foi utilizado ácido fluorídrico 40% m/m, HF (Vetec, RJ, Brasil) e ácido bórico, H3BO3 99,5% m/m (Sigma-Aldrich, EUA). Para a determinaçao de Mg por F AAS foi utilizada uma soluçao de Schinkel composta por CsCl 1% m/v e LaCl3 10% m/v (Fluka, Alemanha) como supressor de ionizaçao e formaçao de óxidos, respectivamente. Os materiais utilizados para o preparo das soluçoes, padroes e decomposiçao das amostras foram lavados com água e detergente e, após secarem a temperatura ambiente, foram imersos em uma soluçao de HNO3 10% v/v por 48 h. Na etapa seguinte, foram enxaguados com água desionizada e secos à temperatura ambiente antes de serem utilizados. Amostras e métodos de preparo Para o desenvolvimento do método de decomposiçao ácida assistida por ultrassom e verificaçao das concentraçoes dos analitos, foram utilizadas oito amostras de louças cerâmicas importadas e de modelos diferentes, comercializadas na cidade de Pelotas/RS. Essas amostras foram denominadas como: caneca amarela (A); caneca branca com desenhos coloridos (B); xícara branca com desenhos coloridos (C); caneca azul com desenhos coloridos (D); caneca com listras em verde e marrom (E); xícara branca (F); caneca preta (G) e caneca verde (H). Em um primeiro momento, todas as amostras passaram por um tratamento preliminar, em que foram lavadas e secas para, posteriormente, serem fragmentadas e transformadas em pó utilizando-se, para tanto, o moinho de bolas. Em seguida, foram peneiradas em um sistema de agitaçao para obtençao de partículas com granulometrias que variaram de > 150 a < 25 µm. Com a finalidade de avaliar a exatidao dos resultados obtidos pelo método de decomposiçao ácida assistida por ultrassom, as amostras também foram preparadas por outros dois métodos de decomposiçao em meio ácido: um em sistema aberto (SA) e outro em sistema fechado (SF). Todos os métodos empregados sao descritos a seguir. Procedimento 1: Decomposiçao ácida assistida por ultrassom (US) Para a decomposiçao, foram pesados aproximadamente 25 mg de amostra, com granulometria inferior a 25 µm, diretamente em frascos volumétricos de polipropileno (PP) e, posteriormente, fez-se a adiçao de uma mistura ácida contendo 0,50 mL de HNO3 e 0,50 mL de HF. Subsequentemente, as soluçoes foram colocadas em um banho ultrassônico a uma temperatura de 40 ºC e sonificadas por 2 horas. Após esse período, as soluçoes resultantes mostraram-se totalmente límpidas. O volume final de 20,0 mL foi completado com uma soluçao de H3BO3 4,5% m/v a fim de complexar o HF remanescente. A quantidade necessária de HF foi calculada seguindo a estequiometria da reaçao, na qual para cada 1 mL de HF 40% m/m, seriam necessários 8 mL da soluçao 4,5% m/v de H3BO3 para a reaçao entre o HF e o H3BO3. Entretanto, em todos os métodos de preparo utilizados neste trabalho foi adicionado um excesso de H3BO3, visto que nao apresenta prejuízo aos resultados das determinaçoes, apenas garante que todo HF esteja complexado evitando, desse modo, danificar o sistema de introduçao de amostra do espectrômetro. Procedimento 2: Decomposiçao ácida em sistema aberto (SA) Este foi adaptado a partir do procedimento descrito por Santos e colaboradores.22 Pesaram-se, aproximadamente, 100 mg de amostra, com granulometria inferior a 25 µm, diretamente em frascos de PTFE e, posteriormente, fez-se a adiçao de uma mistura ácida contendo 3,0 mL de HNO3 e 1,0 mL de HF. Os frascos abertos foram encaminhados diretamente a um bloco digestor aquecido a uma temperatura de 150 °C no qual permaneceram até quase a secura dos ácidos. Após arrefecimento até a temperatura ambiente, a soluçao foi transferida para frascos volumétricos de PP e o volume de 30,0 mL foi completado com uma soluçao de H3BO3 4,5% m/v. Procedimento 3: Decomposiçao ácida em sistema fechado (SF) Para a decomposiçao ácida em sistema fechado, foi seguido o procedimento descrito pela Environmental Protection Agency (EPA),27 com a substituiçao do forno micro-ondas pelo bloco digestor. Foram pesados aproximadamente 250 mg de amostra, com granulometria inferior a 25 µm, diretamente nos frascos confeccionados em PTFE. Em seguida, foi adicionada uma mistura ácida contendo 9,0 mL de HNO3 e 3,0 mL de HF. Após, os frascos foram completamente fechados e encaminhados a um bloco digestor, no qual permaneceram por 3 horas a uma temperatura de 120 °C. Após o resfriamento do sistema, as soluçoes obtidas foram transferidas para frascos volumétricos de PP e o volume de 40,0 mL foi completado com uma soluçao de H3BO3 4,5% m/v.
RESULTADOS E DISCUSSAO Avaliaçao de massa e granulometria de amostra Para este estudo, uma amostra de louça cerâmica foi selecionada de forma aleatória e preparada seguindo o Procedimento 1. Três massas foram usadas para o preparo das amostras (25, 100 e 250 mg) em três granulometrias (< 25, entre 25 e 53 e 53 - 150 µm) e o volume final das soluçoes foi de 20 mL. Para este estudo, o volume de ácido foi fixado a fim de avaliar a quantidade máxima de amostra que poderia ser utilizada com um mesmo volume de ácido para o preparo. A Figura 1 apresenta os resultados que foram obtidos para este estudo levando em consideraçao a concentraçao de amostra no final (massa/volume). O sinal de absorvância para cada analito foi normalizado em funçao da massa da amostra introduzida no atomizador (Abs g-1).
Figura 1. Efeito da concentraçao de amostra no sinal de absorvância dos analitos Cu, Fe, Mg e Zn em soluçoes de diferentes granulometrias: (□) <25 µm; (○) entre 25 a 53 µm e (△) entre 53 a 150 µm
A condiçao que apresentou uma melhor sensibilidade, dada pelos maiores valores de absorvância obtidos, foi aquela em que se empregou a menor massa de amostra (25 mg) e granulometrias menores que 53 µm. Já para as soluçoes com maiores massas (100 e 250 mg), foi obtida uma menor relaçao do sinal de absorvância por grama de amostra, principalmente para os analitos Cu, Mg e Zn. Esse fato pode ser explicado pelo aumento da presença da matriz da amostra, que pode causar um efeito no transporte da soluçao da amostra e, também, pode causar interferência de atomizaçao devido ao aumento da quantidade de matriz no atomizador. De acordo com os resultados obtidos, as soluçoes foram preparadas com amostras cujas partículas eram inferiores a 25 µm, uma vez que, assim, é possível aumentar a sensibilidade, além de facilitar o processo de decomposiçao das amostras, melhorando a atomizaçao dos analitos. Avaliaçao da concentraçao de ácido para o preparo das amostras Para o método de decomposiçao ácida assistida por ultrassom, fez-se a variaçao do volume de ácido para 25 mg e, desse modo, da concentraçao de cada ácido empregado nas soluçoes finais, de acordo com as proporçoes apresentadas pela Tabela 2.
A Figura 2 apresenta os resultados obtidos deste estudo para definir a melhor condiçao da mistura ácida a ser empregada para decomposiçoes de amostras de materiais cerâmicos.
Figura 2. Efeito da concentraçao de HF e de HNO3 para o preparo de amostras de cerâmicas na determinaçao de Cu (○), Fe (△), Mg () e Zn ()
Verificou-se que nao houve diferenças significativas no sinal de absorvância na medida em que a composiçao ácida foi variada para a determinaçao de Cu, Fe, Mg e Zn. Dessa forma, para o preparo das amostras, foi adotada a menor concentraçao dos ácidos: 1,6 % m/v HNO3 e 1,0 % m/v HF. É importante ressaltar que sem o uso do HF nao há uma completa decomposiçao, dado que as amostras de cerâmicas sao ricas em silício, o que resultaria em um procedimento de extraçao. Paralelamente, foi preparado um experimento no qual uma replicata da amostra foi deixada durante a noite à temperatura ambiente e na presença dos ácidos. Após pelo menos 12 h nao foi observada nenhuma alteraçao, tendo em vista que permaneceu uma quantidade de sólido no fundo do frasco, comprovando, assim, a açao do ultrassom para a completa decomposiçao das amostras de cerâmicas. Avaliaçao da concentraçao de CsCl/LaCl3 para a determinaçao de Mg A ionizaçao e a formaçao de compostos refratários sao interferências do tipo nao espectral e que podem ser consideradas comuns em análises por F AAS. Na interferência de ionizaçao, os metais alcalinos e alcalinos terrosos, como o Na, K, Ca e Mg, sao considerados os elementos mais suscetíveis a interferências desta natureza, devido a seus baixos potenciais de ionizaçao em relaçao aos demais elementos. Para a minimizaçao dessa interferência, é possível adicionar junto às amostras e às soluçoes de calibraçao outro elemento mais facilmente ionizável (como, por exemplo, o Cs). Para as interferências de formaçao de compostos refratários, é comum a utilizaçao de outro elemento capaz de formar, com o interferente, um composto mais estável. O elemento mais utilizado para esses casos é o La, conhecido como "agente liberador" justamente pelo fato de competir pelos compostos interferentes, liberando o analito de interesse para ser atomizado.11 Para a determinaçao de Mg em cerâmica foi avaliada a concentraçao a ser usada de CsCl e LaCl3 (soluçao de Schinkel) em soluçoes ácidas após a decomposiçao assistida por ultrassom, com diferentes concentraçoes de HF. Os resultados obtidos deste estudo estao apresentados na Figura 3.
Figura 3. Absorvância de Mg em funçao da concentraçao de CsCl e LaCl3 em soluçoes de amostras de cerâmica em meio de ácido. Concentraçao de HNO3: 1,6 % m/v. Concentraçao de HF: (□) 1,0; (○) 2,0 e (△) 4,0 % m/v
É possível perceber uma concordância entre as intensidades dos sinais para as diferentes soluçoes ácidas a partir da concentraçao de 0,05% m/v de CsCl e 0,5% m/v de LaCl3, mesmo variando a concentraçao de HF. Sendo assim, essa concentraçao foi escolhida para as posteriores determinaçoes desse analito por F AAS. Concentraçao de Cu, Fe, Mg, e Zn em cerâmicas de uso doméstico Após estabelecer as melhores condiçoes para o preparo de decomposiçao ácida assistida por ultrassom (US), o método foi aplicado em oito diferentes amostras de louças cerâmicas para a determinaçao de Cu, Fe, Mg e Zn por F AAS. As amostras também foram preparadas usando os procedimentos 2 e 3, envolvendo a decomposiçao em sistema aberto (SA) e a decomposiçao em sistema fechado (SF), respectivamente. Os parâmetros de mérito obtidos para essas determinaçoes estao dispostos na Tabela 3. A faixa linear de trabalho para os analitos foram: 1,0 a 4,0 mg L-1 para Cu; 1,0 a 6,0 mg L-1 para Fe; 0,1 a 0,4 mg L-1 para Mg e 0,5 a 2,0 mg L-1 pra Zn. Os valores de coeficiente de correlaçao linear foram todos maiores que 0,99.
Verificou-se um menor limite de detecçao (LD) e limite de quantificaçao (LQ) para a decomposiçao em sistema fechado, uma vez que, nesse procedimento, utiliza-se uma massa de amostra maior para a etapa de decomposiçao. Já para o método de decomposiçao ácida assistida por ultrassom, é requerida uma pequena quantidade de massa de amostra, o que reflete em limites de detecçao e quantificaçao maiores, mas, ainda assim, extremamente adequados para as determinaçoes dos analitos Cu, Fe, Mg e Zn nessas amostras. Os resultados encontrados, em relaçao à concentraçao dos analitos nas amostras que foram preparadas pelos três métodos, estao apresentados na Tabela 4.
Para a determinaçao de Cu na amostra A e de Zn na amostra C, ambas preparadas pelo método US, os valores obtidos ficaram abaixo do limite de detecçao do analito quando se utilizou uma massa de 25 mg. Essas amostras foram preparadas novamente pelo mesmo método e foi possível quantificar esse analito, uma vez que foi utilizada uma maior massa (aproximadamente 100 mg). Os resultados obtidos, portanto, foram concordantes com aqueles dos demais métodos utilizados, que utilizam maior massa de amostra. Dessa forma, é possível mostrar que o método proposto envolvendo a decomposiçao assistida por ultrassom é robusto, ou seja, é susceptível a variaçoes experimentais, como no caso da variaçao de massa, propiciando uma melhora de 4 vezes nos valores de LD e LQ. Para a comparaçao de métodos, foi aplicado o teste estatístico t, pareado para um limite de confiança de 95%, pelo qual foi possível verificar que nao há diferenças significativas entre os resultados encontrados com o método proposto envolvendo o uso do ultrassom em relaçao aos métodos comparativos (sistema aberto e sistema fechado). Com relaçao à precisao, todos os métodos apresentaram resultados próximos e com baixos valores de desvio padrao relativo (RSD, %), uma vez que as médias desses desvios foram de 3,0; 2,7 e 3,0 para os métodos de US, SF e SA, respectivamente, confirmando que todos os procedimentos fornecem uma completa decomposiçao da matriz das amostras de cerâmica de uso doméstico. Conforme os resultados apresentados na Tabela 4, de um modo geral, o Cu foi o elemento que apresentou as menores concentraçoes nas amostras de cerâmica de uso doméstico analisadas. Essa baixa concentraçao pode ser oriunda de algum pigmento utilizado para a decoraçao das louças. Já o Mg foi obtido em uma concentraçao elevada em todas as amostras, quando comparado com os demais analitos determinados, mas com destaque para a amostra B, que apresentou uma concentraçao de aproximadamente 150 mg g-1 para esse analito. Essa concentraçao é de origem, possivelmente, da massa cerâmica industrial, que pode conter Mg em sua composiçao devido aos ingredientes que sao adicionados durante o processo de produçao (sais e óxidos) ou diretamente da matéria-prima (como, por exemplo, a magnesita).28-30 Além disso, a presença desse analito pode ser devido à adiçao de óxido de magnésio, que é vantajoso devido ao aumento da propriedade de refratariedade das peças.28-31 Para o Fe, as concentraçoes encontradas mostraram-se próximas para todas as amostras, variando de 2,0 a 9,8 mg g-1. Uma concentraçao baixa é esperada para esse analito, uma vez que o óxido de ferro pode influenciar na brancura do produto cerâmico queimado, afetando, assim, a eficácia dos pigmentos que sao adicionados para dar coloraçao aos utensílios cerâmicos.32 Para Zn, duas amostras, B e H, apresentaram concentraçoes semelhantes e superiores às demais. Essa concentraçao pode estar associada ao esmalte cerâmico, que pode conter óxido de zinco como um de seus componentes.33 Todas as amostras avaliadas sao fabricadas em indústrias distintas, o que explica a grande discrepância na concentraçao dos analitos quantificados. Isso se deve, ainda, a diferentes processos industriais utilizados por cada fabricante, incluindo desde a matéria prima, fundentes, ingredientes refratários, até as tintas utilizadas, o que acaba deixando os utensílios cerâmicos aparentemente iguais, contudo com composiçoes químicas diferentes. Para avaliar a exatidao do método proposto de decomposiçao ácida assistida por ultrassom, testes de adiçao e recuperaçao dos analitos foram realizados em três níveis de concentraçao. Ressaltamos que esse teste pode ser utilizado com segurança pelo método proposto, uma vez que foi assegurada a completa decomposiçao das amostras. Os resultados obtidos para a concentraçao total (amostra + adiçao) estao apresentados na Tabela 5.
Verificou-se que foram obtidas ótimas recuperaçoes dos analitos adicionados, ficando em uma faixa de 87 a 112%. Isso mostra que a exatidao do método usando a energia ultrassônica foi assegurada pelo procedimento acima, como também pelo estudo comparativo com outros procedimentos de preparo de amostras descritos na literatura e reconhecidos para a decomposiçao completa de amostras ricas em silicatos. Dessa forma, o método desenvolvido neste trabalho pode ser empregado para o controle de Cu, Fe, Mg e Zn em amostras de cerâmicas.
CONCLUSAO A metodologia apresentada mostrou-se com um grande potencial para a determinaçao de metais em amostras de cerâmica de uso doméstico. Embora o método necessite do emprego de ácidos concentrados, bem como que a amostra esteja finamente moída, viabiliza a utilizaçao de condiçoes mais brandas, possibilitando maior segurança, praticidade e uso de equipamentos de baixo custo. Além disso, mostrou resultados precisos e exatos, com base nos desvios padroes relativos obtidos, comparaçao entre os métodos, além do teste de adiçao e recuperaçao. Com relaçao aos resultados das concentraçoes dos analitos nas amostras avaliadas, é possível ter indícios da composiçao química da matéria prima utilizada na fabricaçao de produtos cerâmicos, bem como de possíveis contaminaçoes por elementos tóxicos. Sendo assim, essa metodologia se torna imprescindível de ser aplicada para o controle desse tipo de amostra, a fim de assegurar a qualidade do produto. Os resultados obtidos apontam, certamente, que o método de preparo de amostra desenvolvido poderá ser aplicado nas determinaçoes de outros elementos por técnicas analíticas mais sensíveis e com caráter multielementar, como ICP-MS e ICP OES, uma vez que ficou comprovado que, utilizando-se o ultrassom, ocorre a decomposiçao total e, assim, uma minimizaçao de interferências durante as análises. Além disso, o método também poderá ser facilmente implementado em laboratórios de controle de qualidade e de fiscalizaçao por parte do governo brasileiro para avaliar a qualidade dos produtos cerâmicos importados destinados ao uso doméstico.
AGRADECIMENTOS Os autores agradecem à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e ao Conselho Nacional de Pesquisa Científica (CNPq), através da Chamada MCTI/CNPq/ANVISA No 23/2012 (Processo 403403/2012-0), pelo auxílio financeiro, e à Coordenaçao de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e ao CNPq pelas bolsas concedidas.
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