JBCS



16:09, qui nov 21

Acesso Aberto/TP




Assuntos Gerais


A Divisão de Físico Química e os 40 anos da SBQ
The Physical Chemistry Division and the forty years of the Brazilian Chemical Society (SBQ)

Nelson H. Morgon1,*; Gustavo F. S. Andrade2

1Departamento de Físico Química, Instituto de Química, Universidade Estadual de Campinas, CP 6154, 13083-970 Campinas - SP, Brasil
2Departamento de Química, Instituto de Ciências Exatas, Universidade Federal de Juiz de Fora, 36036-900 Juiz de Fora - MG, Brasil

Recebido em 31/03/2017
aceito em 13/06/2017

Endereço para correspondência

*e-mail: morgon@iqm.unicamp.br

RESUMO

One of the goals of this manuscript is to celebrate the forty years of the SBQ (Sociedade Brasileira de Química). We believe using historical analysis could benefit our researchers to overcome the challenges ahead, look into the future, to the scientific progress and the way science increases its problem-solving ability. There are several topics covered by the challenges in Physical Chemistry: nanoscience and nanotechnology, single molecule studies, gas phase photochemistry and photophysics, molecular structure, spectroscopy, reaction dynamics, interfacial phenomena, energy, and so on. However, the critical challenge for our Division still is to create a desired link between experimental approaches and theoretical knowledge.

Palavras-chave: Physical chemistry division; Forty years of the SBQ; Experimental approaches; Theoretical knowledge

INTRODUÇAO

O pensamento científico é relativamente jovem considerando‑se a presença humana no planeta. E a ciência como a conhecemos, com observaçao, experimentaçao e proposta de modelos tem 200 ou no máximo 300 anos. No entanto, a massificaçao do conhecimento científico é um fenômeno muito mais recente. Após a segunda guerra mundial a humanidade experimentou e, desde entao, tem experimentado, transformaçoes sociais e tecnológicas significativas. Nenhum período da evoluçao humana tem sido, em termos de avanços tecnológicos, mais profícuo que os últimos 100 anos. Em parte, isso se deve ao fato de que inúmeras teorias e formalismos metodológicos terem surgido ou se consolidados no século passado.

Os países desenvolvidos, de um modo geral, tem presenciado nos últimos 70 ou 80 anos uma explosao "do fazer ciência" e suas implicaçoes nas indústrias e tecnologias. Todavia, no Brasil e em outros países em desenvolvimento, esse fenômeno aconteceu um pouco mais tardiamente, no período que se inicia a partir da década de 1970, embora já a partir da década de 1930 o país tenha presenciado mudanças no perfil do modelo econômico de agrário-exportador para industrial. Graças ao governo Vargas, precisamente no começo da década de 1940, houve um maior incentivo industrial, com a presença marcante do Estado, criando empresas estatais relevantes, como a Companhia Vale do Rio Doce (hoje conhecida como Vale) a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e a Fábrica Nacional de Alcalis (as atividades da empresa foram interrompidas em 2006), entre outras.

Para o estabelecimento de uma base industrial nacional, forte e competitiva, transformadora do perfil sócio-econômico do país, foi necessário o surgimento de recursos humanos qualificados. E dentre os vários segmentos que colaboraram para essa transformaçao, o setor Químico teve um papel importante e de destaque. É nesse contexto que a Química Brasileira nas últimas décadas tem mostrado ser imprescindível e possuir expressiva importância para o desenvolvimento industrial do país.

Nesse cenário ocorreu a criaçao da Sociedade Brasileira de Química (SBQ) em meados da década de 1970, precisamente em 1977 "durante a Reuniao Anual da SBPC, por químicos dedicados à pesquisa e ensino em universidades e institutos oficiais, liderados pelos Professores Simao Mathias, Jacques Danon e Ricardo Ferreira".1,2 Houve também contribuiçao essencial dos Professores Eduardo Motta Alvez Peixoto e Etelvino José Henriques Bechara, respectivamente Secretário Geral e Tesoureiro da primeira gestao da Sociedade.3 Embora tenha sido um fato marcante, sua ocorrência foi natural, face aos anseios para tal. A criaçao da SBQ ocorre justamente no que é conhecido como a 3ª fase (de 1956 a 1989) do processo de industrializaçao nacional, período esse caracterizado pelo maior crescimento industrial do país em todos os tipos de indústria. Isso, associado a outro fato também muito importante que se inicia na década de 1970 e se estende pela década de 1980,4,5 que foi o grande aumento do número de cursos de pós-graduaçao no Brasil, coloca a SBQ diante de um grande desafio, o de "assumir um papel de interlocuçao com as autoridades responsáveis pelas políticas de desenvolvimento científico e tecnológico do País. "1 Além disso, a SBQ passou a atuar forte e responsavelmente junto à Academia para a discussao dos acontecimentos científicos, políticos e sociais relevantes para o Brasil. E, sem dúvida alguma, ela tem desempenhado, ambas as atribuiçoes, com responsabilidade, e além das expectativas.

A Divisao de Físico Química

Sao notórios os inúmeros benefícios que a ciência em geral, e a química em particular, têm fornecido à humanidade. No entanto, elas continuamente sofrem desafios que ameaçam seus sucessos contínuos. Para enfrentar tais desafios há necessidade constante de desenvolvimento de métodos e técnicas para novas aplicaçoes6 e na área de FQ e correlatas podem ser citados vários esforços nessa direçao, como o desenvolvimento e/ou aplicaçoes em vários tópicos: quantum dots; ciência e tecnologia de semicondutores; espectroscopia de single molecule7 e de sistemas complexos; nanociência e nanotecnologia, incluindo-se aí bionanotecnologia, nanoótica, nanofotônica, entre outras subáreas; interligaçao de dinâmica e química quântica para reaçoes8 e dinâmica quântica para sistemas de grande escala;9 sustentabilidade e tópicos relacionados à química verde; energia e catálise, como abordagens mais gerais, e dentro dessas, energia solar e fotocatálise; técnicas espectroscópicas com alta especificidade e sensibilidade química em ciência forense;10 ciência de materiais, através do desenvolvimento de dispositivos multifuncionais para conversao e armazenamento de energia;11 fenômenos de interface; teoria estatística de condensaçao;12 processos de transferências de elétrons;13 redes de polímeros e o design de novos materiais;14 entre tantos outros desafios. Mas talvez o maior deles, seja o de "interligar conhecimento teórico e abordagens experimentais".15 Sendo assim, das 13 divisoes que compoem a estrutura organizacional da SBQ, a Divisao de Físico Química (DivFQ) é a que mais se identifica com esse grande desafio. E deste modo, é a que tem contribuído mais destacadamente nesse sentido nos últimos 40 anos.

A DivFQ engloba as subdivisoes compreendidas por pesquisas nas áreas de Físico Química (FIS), Química de Superfícies e Colóides (COL) e Química Teórica (TEO). Ela possui 990 sócios efetivos cadastrados, sendo que destes, em 2017 foram identificados 221 como os sócios ativos. Sua diretoria para o biênio 2016-2018 é composta pelos Profs. Nelson H. Morgon/UNICAMP (Diretor) e Gustavo F. S. Andrade/UFJF (Vice-Diretor). O número de sócios ativos em 2017 reverte uma tendência de número de inscritos nas Reunioes Anuais da SBQ (RASBQ) como pode ser observado na Fig. 1. Ao longo dos últimos 20 anos têm acontecido oscilaçoes com tendência decrescente no número de participantes vinculados à DivFQ. Vários fatores podem ser atribuídos a esse comportamento, como a migraçao de pesquisadores para outras divisoes, surgimento de inúmeros outros eventos científicos, entre outros. Apesar de ser um fator marcante, essa migraçao nao é recente. Como notado por Santos e de Souza, já em 2002,16 no artigo sobre o desenvolvimento da área de Físico-Química no Brasil durante os primeiros 25 anos da SBQ, há presença de trabalhos relacionados à área de Físico-Química em diferentes divisoes da Sociedade durante as Reunioes Anuais, como na Química de Materiais, em Química Inorgânica e em Fotoquímica. Além disso, Santos e de Souza16 realizaram um estudo qualitativo de grande relevância sobre o desenvolvimento da Físico-Química, como uma área independente de pesquisa em nosso país, inclusive diferenciando essa físico-química, que utiliza métodos e modelos fenomenológicos, da outra denominada chemical physics, que utiliza metodologia avançada e interpretaçoes baseadas fortemente na teoria quântica. Essa, apresenta desenvolvimento menos consistente em nosso país. A opçao feita pelos autores deste artigo foi discutir o desenvolvimento da DivFQ ao longo dos anos na RASBQ. Na discussao desse desenvolvimento na próxima seçao, esforços foram feitos para mostrar que as mudanças ocorridas na DivFQ se correlacionam fortemente com o processo de desenvolvimento da área como um todo no Brasil e no exterior.

 


Figura 1. Número de inscritos nas Reunioes Anuais da Sociedade Brasileira de Química vinculados à Divisao de Físico Química no período de 1996 a 2016.

 

A Divisao de Físico Química em Foco

Na Fig. 2 tem-se a evoluçao do número de resumos submetidos às RASBQ nos últimos 20 anos (1996 a 2016). O ano de 2011 mostra uma grande participaçao de pesquisadores vinculados à Divisao. O número de resumos apresentados na 34ª Reuniao Anual, em Florianópolis - SC, deveu-se à comemoraçao do Ano Internacional da Química. Novamente observa-se um declínio nos últimos anos na submissao de resumos, cujas razoes foram descritas acima, aliadas também em parte, à diminuiçao do financiamento à pesquisa no país.

 


Figura 2. Número de resumos submetidos às Reunioes Anuais da Sociedade Brasileira de Química vinculados à Divisao de Físico Química no período de 1996 a 2016.

 

Após dez anos de um crescimento rápido, mobilizando químicos de todo o país em suas Reunioes Anuais, como parte integrante das programaçoes das reunioes anuais da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), pode ser observado que a DivFQ manteve a chama da qualidade em sua participaçao, quer como parte das reunioes anuais, inicialmente da SBPC e posteriormente nas reunioes independentes organizadas pela SBQ.

A seguir serao destacados alguns aspectos dessa participaçao ao longo dos últimos anos. A seleçao apresentada foi feita do ponto de vista cronológico, relevante e/ou aleatório, sem preocupaçao com algum rigor científico na sua escolha. Deseja-se nessa discussao apresentar qualitativamente um panorama dos desenvolvimentos e das tendências da área, a partir da participaçao da DivFQ nas RASBQ.

Na 39ª RASBPC realizada em 1987 em Brasília, DF, os tópicos em destaques dentro da DivFQ da SBQ eram "Cristais líquidos e detergentes, Eletroquímica, Espectroscopia e Cinética e Catalisadores". Foram apresentados 133 resumos em FQ, como o que trata da "Cinética de oxidaçao de d(-) frutose pelo vanádio (V) em meio ácido", de Takashima17 ou o de Quezado sobre "Espectro infravermelho e ligaçoes de hidrogênio em polímeros perfluorados".17 Dos 29 resumos de Química Teórica, tem-se o de Degréve, sobre "Aglomerados iônicos em soluçoes de eletrólitos"17 e o de Livotto e Takahata abordando o "Estudo do substituinte sobre a afinidade eletrônica de derivados de p-benzoquinona".17 Outro destaque nessa reuniao foi a Sessao Especial sobre "Os 10 anos da SBQ", coordenada pelo Prof. Angelo. C. Pinto.

Passados mais dez anos, há sem dúvida alguma um amadurecimento da comunidade dos químicos brasileiros o que acaba refletindo nas reunioes anuais. Na 19ª RA, a primeira em Poços de Caldas, MG, Prof. Marco Chaer em sua Conferência Convidada (CC) sobre "Modelagem Molecular: do Sonho à Realidade", apresenta os avanços que estao por vir na "utilizaçao de MM nas áreas de catálise, corrosao, propriedades mecânicas de polímeros, enovelamento de proteínas e de fenômenos interfaciais", (CC07). Isso hoje é fato corriqueiro em diversos laboratórios de simulaçao computacional, e até mesmo como ferramenta de bancada. Nessa reuniao já pode ser observado um fenômeno característico que é a geraçao de novas divisoes da sociedade. Pode ser observado no programa da RA a presença das divisoes de Catálise, Eletroquímica e Eletroanalítica e Fotoquímica, além da própria DivFQ; que foram, dez anos antes, grande parte da temática da DivFQ na 39ª RA da SBPC, como citado anteriormente.

A Profa. Schor na 20ª RA fala sobre o tema "Dinâmica Química", destacando-a como uma área vigorosa e emergente em química; por sua vez a femtoquímica, um ramo daquela, permitirá o acompanhamento de reaçoes em tempo real (CC08). Na mesma RA, o Prof. Galembeck ministrou um curso denominado "Nanopartículas e sistemas organizados", antevendo a importância da nanociência. Atualmente, pesquisas em nanociência e nanotecnologia permeiam diversas áreas da SBQ.

A DivFQ, desde sua criaçao, tem tido uma preocupaçao constante com dois aspectos: a divulgaçao científica oriunda de pesquisas de qualidade, e a qualidade do ensino. Esse último tema tem sido abordado em diversos momentos ao longo desses 40 anos, quer em Sessoes Coordenadas, Workshops ou em CC. Na CC07 da 21ª RA proferida pelo Prof. Donald A. McQuarrie, o tema "Quanta matemática deve ser ensinada em um curso de Físico-Química?", ilustra bem essa preocupaçao. McQuarrie falou sobre tópicos básicos de matemática que sao corriqueiramente usados para resolver muitos problemas em cursos introdutórios de FQ e discutiu o uso de alguns métodos numéricos em várias aplicaçoes. Além dessa demonstraçao da importância do ensino na área de Físico-Química, também nessa RA houve a apresentaçao do Prof. J. M. Riveros. Na conferência plenária "O renascimento da Química em fase gasosa: reatividade e estrutura de espécies simples até agregados moleculares", ele descreve novas metodologias envolvendo a forte interaçao entre técnicas experimentais avançadas e de alta resoluçao e cálculos computacionais de alto nível, que em diversos aspectos define a pesquisa em Físico Química nesse início de século XXI.

"Química Computacional" foi o destaque na Conferência de Abertura (CA) da 22ª RA. Na palestra, o Prof. Roy E. Bruns destaca, entre outros assuntos relevantes sobre o uso de computadores em química, que a pesquisa quimiométrica tem sido importante para o desenvolvimento de modelos empíricos em diversas áreas. Hoje se vê em muitos laboratórios de pesquisa e em indústrias a quimiometria como uma ferramenta útil no tratamento de dados.

O que de relevante aconteceu na CA da 23ª RA foi sinalizaçao de que à próxima geraçao de profissionais da química caberia a tarefa de implementar açoes que fortalecessem a ligaçao Brasil-Portugal. Mas, além disso, em termos experimentais, notou-se qualitativamente que tanto a sessao coordenada como os painéis apresentados pela DivFQ trataram temas como: aspectos espectroscópicos de diversos sistemas, como efeitos de solvente e confinamento, monitorados por técnicas como a espectroscopia Raman e a apresentaçao da técnica de lentes térmicas para a caracterizaçao de filmes e diâmetro de feixe de lasers. Também houve a apresentaçao na forma de painéis de diversos trabalhos relacionados à Química de Superfícies e Colóides.

Na 24ª RA novamente Prof. Riveros, em sua palestra na CA, trata da questao "Estrutura e reatividade em química", e reforça a necessidade das metodologias experimentais e teóricas na caracterizaçao de reatividade e estrutura em fase gasosa, permitindo a análise individual de moléculas. De certa maneira isso contempla parte do desafio de "interligar conhecimento teórico e abordagens experimentais". Esse aspecto foi também abordado pelo Prof. Paulo S. Santos em sua CC "Espectroscopia Raman: Uma viagem no Espaço e no Tempo", sobre os avanços e desafios das interaçoes computacional e experimental, além do desenvolvimento instrumental da técnica no Brasil.

Na 25ª RASBQ, na esteira da comemoraçao dos 25 anos da entidade, a palestra de Chaer novamente tratou de desenvolvimentos recentes na conceituaçao de estrutura e ligaçao química, pontuando perspectivas para a área; já Tada e El Seoud apresentaram trabalho na sessao de pôsteres de Química de Superfícies e Colóides sobre o "Solvatocromismo em agregados micelares demonstrando o efeito da transiçao de micela esférica para cilíndrica", (QC-011). Silva e de Torresi apresentaram a aplicaçao de NOESY RMN e XPS, na caratecrizaçao de processos envolvendo polímeros em soluçao.

Sem dúvida alguma os estudos sobre nanomateriais de carbono (NC) tornaram-se relevantes nos últimos anos. Assim, em sintonia com avanços tecnológicos recentes o tema foi tratado na CC05 da 26ª RA. Pimenta em sua conferência sobre "Nanotubos de Carbono" enfatizou que a espectroscopia Raman é uma ferramenta bastante útil no estudo de propriedades estruturais e eletrônicas de tais sistemas, bem como descreveu aplicaçoes que tem despertado o interesse da comunidade científica desde entao.

A questao energética nao foi deixada de fora das discussoes da Divisao. Na 27ª RA "A Química e a físico química na produçao e no uso do biodiesel", foi abordada considerando-se o desenvolvimento do conhecimento da cadeia produtiva e de utilizaçao de combustíveis alternativos. O tema foi tratado na palestra proferida por Prof. Miguel J. Dabdoub Paz. Nessa RA houve a presença de pesquisadores de outros países da América Latina, uma vez que se tratava de um congresso em conjunto com o XXVI Congreso Latinoamericano de Química.

Prof. Samios na 28ª RA apresenta em sua conferência (CC09) "A evoluçao da Química: da simplicidade à complexidade", traçando uma visao evolutiva da química em relaçao à sociedade. Pode-se destacar também a CA proferida por Dupont, que versou sobre estrutura e propriedades de líquidos iônicos, um tema que vinha interessando à comunidade tanto nas abordagens teóricas quanto nos aspectos experimentais já havia algum tempo. No Workshop da DivFQ versando sobre "Técnicas Avançadas em Espectroscopia usando a Luz Síncrotron", foi novamente possível a divulgaçao das enormes potencialidades da radiaçao Síncrotron na soluçao de problemas químicos.

Dois destaques podem ser citados na participaçao da DivFQv na 29ª RA. O Workshop "Boltzmann e a química moderna", sob a coordenaçao do Prof. L. C. G. Freitas e na Sessao Coordenada, a apresentaçao de C. A. Silvério da "Proposta de modelo cinético para a reaçao foto-fenton na presença de íons cloreto".

Os Workshops da Divisao passaram a ter cada vez maior destaque nas reunioes anuais. Na 30ª RA sob a coordenaçao do Prof. M. E. Zaniquelli, o tema "Aspectos Dinâmicos da Físico Química" foi discutido por um bom número de participantes.

As Sessoes Coordenadas (SC) também têm tido um destaque maior nos últimos tempos. Nas SC da DivFQ tem se procurado envolver cada vez mais os jovens pesquisadores, principalmente pós-graduandos e pós-doutores. Tem-se também realizado esforços para divulgar trabalhos de Iniciaçao Científica, já vislumbrando o futuro da Divisao. Na 31ª RA, na SC de FIS/TEO, mesclaram-se apresentaçoes de trabalhos experimentais, como o F. C. de Oliveira sobre o "Estudo da aniquilaçao de pósitron em misturas mecânicas e soluçoes sólidas formadas por Tb(dpm)3 e Eu(dpm)3", e trabalhos teóricos, exemplificado pelo apresentado por L. H. K. Queiroz Jr. chamado "Cálculos teóricos de δ e J do epóxido de α-pireno: atribuiçao inequívoca dos sinais de RMN e da estereoquímica relativa". O Workshop da DivFQ nessa RA foi dedicado ao tema "Interaçoes entre moléculas e partículas: implicaçoes em biofísica e materiais", com apresentaçoes sobre a temática por pesquisadores de destaque no cenário nacional.

Prof. J. Hofkens, na 32ª RA, em sua apresentaçao sobre espectroscopia de molécula única (single molecule spectroscopy - SMS) relatou que a técnica tem se estabelecido como uma nova ferramenta especialmente útil para estudar sistemas biológicos, que por sua natureza altamente heterogênea sao alvos perfeitos para SMS. Na SC, a apresentaçao de dos Santos sobre "Espectroscopia Raman Intensificada pela superfície no regime de uma única molécula", tratou da técnica de espectroscopia vibracional para single molecule.

Na 33ª RA ocorreram dois Workshops patrocinados pela Divisao de Físico Química. Um que celebrou as conquistas científicas do Prof. José Manuel Riveros, por ocasiao do seu 70º aniversário, sob a coordenaçao do Prof. Sérgio Galembeck. E outro sobre os "Avanços e Perspectivas em Físico Química de Colóides e Superfícies", coordenado pelo Prof. Fernando Galembeck. Além do Workshop, a "Ciência de Superfícies e Colóides", tiveram destaques a CC de Loh, "A relaçao entre termodinâmica e a estrutura de agregados de surfactantes: quem controla quem?", e a Sessao Temática coordenada por Sabadini "Interfaces: onde teoria e experimento se encontram", onde foram discutidos aspectos de técnicas avançadas em conjunçao com métodos teóricos para o estudo desses sistemas.

Além do caráter educativo assinalado em vários momentos pela Divisao ao longo desses 40 anos, outra preocupaçao de caráter formador foi o de apresentar às novas geraçoes proeminentes pesquisadores que deram contribuiçoes fundamentais para a área. Na 34ª RA foi organizado o Workshop "Grandes nomes que influenciaram a Química atual" sob a coordenaçao da Profa. Nadya Pesce da Silveira. As palestras apresentadas por pesquisadores de destaque da Divisao trataram das obras e da vida de nomes como: Boltzmann, Langmuir, Helmholtz, Gibbs, Ostwald, entre outros.

A questao da integraçao teoria e experimento tem sido um desafio constante, e considerado em vários momentos pela Divisao. Foi dado destaque tanto no minicurso "Fundamentos e aplicaçoes de espectroscopia eletrônica nas regioes do VIS-UV-Raios-X", por Lago e Riveros, como em trabalhos selecionados para participaçao nas sessoes coordenadas, como o apresentado por Ivania Ferreira na 35ª RA, abordando a "Espectroscopia SERS e cálculos teóricos de agentes quelantes de metais para aplicaçao na Doença de Alzheimer".

Espectroscopia é uma área de pesquisa extremamente relevante, importante e atual dentro da FQ. Na 36ª RA o tópico foi tema do Workshop "Recentes avanços da espectroscopia na caracterizaçao de materiais e sistemas", coordenado pelo Prof. Paulo Netz. O tema também foi destaque nas CC apresentadas por Berberan e Santos e Martinho, relacionados aos desenvolvimentos da espectroscopia de fluorescência.

Nanotecnologia tem se destacado no cenário internacional nas últimas décadas. Graças à apresentaçao de Daniel Ugarte na conferência "Advanced characterization of individual nanosystems by electron microscopy techniques", da 37ª RA conheceu-se um pouco mais das "novas propriedades físicas e químicas dos nanosistemas, que os colocam como um dos elementos mais promissores para o desenvolvimento de novas tecnologias", bem como o status e perspectivas para os métodos de caracterizaçao por microscopia eletrônica e o ponto desafiador associado à formaçao de recursos humanos nesse campo

Outro tópico dentro da Divisao que tem sido lembrado sistematicamente, graças à importância que vem adquirindo nos últimos 50 anos, é o da modelagem molecular. Em duas RAs, na 38ª e 39ª o assunto foi apresentado. Primeiramente pelo Prof. Dominic Tildesley, presidente da Royal Society of Chemistry, que ministrou palestra sobre modelagem multiescala de interfaces (Multiscale Modelling of Interfaces), na qual ele discutiu e apresentou os desenvolvimentos que resultaram na modelagem precisa de interfaces e na previsao da tensao superficial de um líquido simples. Por outro lado, o Prof. Munir Skaf em "Molecular modeling for lignocellulosic biomass degradation", enfatizou que as "técnicas avançadas de modelagem também desempenham papéis fundamentais na compreensao da nanoarquitetura de polissacarídeos e montagem de lignina em paredes celulares de plantas".

Também na 39ª RA outro tópico importante, o das interfaces, foi abordado no Workshop "Química nas interfaces sólido/líquido e sólido/gás", sob a coordenaçao do Prof. N. H. Morgon, que teve apresentaçoes versando sobre tópicos experimentais e teóricos relacionados à temática.

E o que esperar da DivFQ na 40ª RASBQ?

O ano de 2017 será muito especial para a comunidade de químicos do Brasil. A 40ª Reuniao Anual da Sociedade Brasileira de Química será realizada conjuntamente com o 46th World Chemistry Congress e com a IUPAC 49th General Assembly. Grande destaque será dado à pesquisa científica brasileira na área de química, bem como aos pesquisadores do país, os quais terao a oportunidade de conhecer o que há de mais atual no cenário internacional. Uma oportunidade ímpar de fomentar e trocar ideias. E a DivFQ será atuante, discutindo, questionando, oferecendo aos associados oportunidades de conhecer grandes temas atuais da área, bem como os desafios que estarao sendo colocados para o futuro imediato ou mais além. Nesse sentido, o simpósio Physical, Biophysical and Computational Chemistry vai se dedicar à apresentaçao de temas atuais em (Bio)Físico Química, Química Teórica, Automontagem, Fronteiras em Espectroscopia e Química Atmosférica.

 

CONSIDERAÇOES FINAIS

Com este trabalho procurou-se apresentar o desenvolvimento da DivFQ, uma das Divisoes que atua na SBQ desde sua fundaçao, nos últimos 40 anos. A Divisao passou por diversas transformaçoes que aconteceram naturalmente, fruto do amadurecimento da sociedade científica como um todo. A partir da DivFQ, originou-se outras divisoes como: Fotoquímica, Eletroquímica e Eletroanalítica e Catálise. Procurou-se demonstrar que a DivFQ, em conjunto com essas e outras divisoes, possuem a percepçao de que através de seus encontros, devem promover o debate e a disseminaçao de tópicos, estudos e/ou ideias relevantes na ciência contemporânea. Deste modo, que com o passar dos anos, a DivFQ tem procurado fomentar discussoes de tópicos que apresentem o estado-da-arte da pesquisa na área de Físico-Química, Química Teórica e de Química de Superfícies e Colóides.

 

AGRADECIMENTOS

Os autores gostariam de agradecer às agências financiadoras CNPq (Procs. Nos: 472485/2013-0 e 306975/2013-0), FAPESP (Procs. Nos: 08293-7/2013 e 22338-9/2015), FAPEMIG (CEX-APQ-01283-14) e à Diretoria da SBQ pelo convite para contribuir para o número especial de Química Nova relativo aos 40 anos da SBQ em 2017.

 

REFERENCIAS

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