JBCS



15:28, qui nov 21

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Assuntos Gerais


Panorama da química inorgânica no Brasil revisitado: período de 2002 a 2016
Overview of the inorganic chemistry in Brazil revisited: the 2002 to 2016 period

Shirley Nakagaki1*; Geani Maria Ucoski1; Julio S. Rebouças2; Ana Maria da Costa Ferreira3

1Departamento de Química, Universidade Federal do Paraná, 81531-980 Curitiba - PR, Brasil
2Departamento de Química, Universidade Federal da Paraíba, 58051-900 João Pessoa - PB, Brasil
3Instituto de Química, Universidade de São Paulo, 05513-970 São Paulo - SP, Brasil

Recebido em 16/03/2017
aceito em 02/05/2017

Endereço para correspondência

*e-mail: shirleyn@ufpr.br

RESUMO

The present article describes the development of the Inorganic Chemistry in Brazil in the last 15 years, using as starting point the scientific contributions of a group of 405 researchers selected among the members of the Inorganic Chemistry Division of the Brazilian Chemical Society (SBQ), and active participants of both SBQ Annual Meetings and Brazilian Meetings on Inorganic Chemistry. A total of 3006 articles, representative of the Brazilian scientific production on Inorganic Chemistry from 2002 to January 2017, was analyzed. Among the various aspects evaluated are: prevalent research topics, production impact, geographic distribution within Brazil, international collaborations, and human resource background, development, and perspectives. The evolution of the Inorganic Chemistry production in Brazil in the last 15 years was analyzed considering the concurrent expansion of Brazilian graduate and post-graduate educational system along with availability of funding resources. Information from sources such as CAPES, Sucupira database, eMEC, Web of Science, and CNPq, complemented the scientific production data gathered from the Curriculum Vitae (Lattes Curriculum database) of the 405 representative inorganic chemistry researchers. The present analysis expands the previous 1977-2001 study by Toma, Ferreira, and Serra (Quim. Nova 2002, 25, 66), depicting, thus, a 40-year scenery of Inorganic Chemistry in Brazil, which overlaps with the period of activity of SBQ.

Palavras-chave: inorganic chemistry; research in Brazil; 40th SBQ, scientific production; international cooperation.

INTRODUÇAO

No ano de 2002, os Professores Henrique E. Toma (USP/SP), Ana Maria da Costa Ferreira (USP/SP) e Osvaldo A. Serra (FFCL-USP/RP) publicaram na Química Nova o artigo intitulado "DESENVOLVIMENTO DA QUIMICA INORGANICA NO BRASIl".1 Esse artigo tinha como meta, nas palavras dos próprios autores, "Compor um panorama da evoluçao da Química Inorgânica nos últimos 25 anos",1 compreendendo o período de 1977 a 2001.

Pioneiramente, esses autores analisaram o desenvolvimento da Química Inorgânica no Brasil por meio da participaçao de pesquisadores nas Reunioes Anuais da Sociedade Brasileira de Química (SBQ) e a sua produçao científica no período. Os dados entao coletados indicaram uma área pujante e bastante diversificada em termos de temas abordados nos estudos, apesar de sua menor dimensao se comparada a outras áreas na Química Brasileira. Já naquela época, era preocupante o número limitado de grupos de pesquisa atuantes e o incentivo à renovaçao dos pesquisadores.

Em comemoraçao aos 40 anos da Sociedade Brasileira de Química (SBQ) retomamos o tema para fazer uma reavaliaçao da área nos últimos 15 anos, complementando a avaliaçao anteriormente realizada, visando atualizar esses dados e, eventualmente, verificar possíveis mudanças de rumo nos principais focos de interesse dos pesquisadores. Dessa forma, esperamos contribuir para se ter um panorama geral e atualizado do que tem sido desenvolvido na área de Química Inorgânica no Brasil ao longo dos últimos 40 anos, isto é, durante o período de atuaçao da SBQ.

É importante destacar que nesses últimos 15 anos o país experimentou uma grande mudança nas políticas públicas associadas ao acesso à educaçao superior gratuita, à fixaçao de doutores no magistério superior, às linhas de financiamento da pós-graduaçao e à renovaçao, consolidaçao e distribuiçao geográfica da infraestrutura de pesquisa no Brasil. Dentre os principais aspectos pode ser citada a expansao da Rede Federal de Educaçao Superior que teve início em 2003, com a interiorizaçao dos campi das universidades federais, a partir do Programa de Apoio a Planos de Reestruturaçao e Expansao das Universidades Federais (Reuni). No âmbito do Reuni, o número de municípios atendidos pelas universidades federais mais que dobrou.2 Além da criaçao de novos campi, possibilitando a ampliaçao de vagas de graduaçao, criaçao de novos cursos e fixaçao de doutores na graduaçao e na pós-graduaçao, o número de universidades federais cresceu de 45 em 2013 para 63 em 2017.2,3 Os Institutos Federais de Educaçao, Ciência e Tecnologia e Centros Federais de Educaçao Tecnológica se estabeleceram como agentes de formaçao superior no nível de graduaçao e alguns também começaram a oferecer cursos de pós-graduaçao. Em 2017, o número de cursos de Química oferecidos em todos os estados da Federaçao nas modalidades presenciais ou à distância, nos graus de Bacharelado, Licenciatura ou Tecnológico, chegou a 811, que é um número sem precedentes nesses 40 anos de Química no Brasil.3

Estas expansoes atingiram, em maior ou menor grau, todas as áreas do conhecimento e, evidentemente, beneficiaram significativamente a Química Inorgânica no Brasil. A contribuiçao da evoluçao da Pós-Graduaçao em Química para a pesquisa em Química Inorgânica será tratada mais adiante.

Estratégias adotadas no levantamento das informaçoes

Neste trabalho foram adotadas basicamente as mesmas estratégias de pesquisa utilizadas no trabalho pioneiro precedente.1 Essas estratégias estao descritas no tópico denominado "Estratégias adotadas no levantamento das informaçoes"nomaterial suplementar. Nessa pesquisa foram levantados um total de 405 pesquisadores. Esse conjunto de 405 pesquisadores brasileiros atuantes na Química Inorgânica no âmbito dos trabalhos submetidos à Divisao de Química Inorgânica das Reunioes Anuais da SBQ (da 25ª RA/SBQ até a 39ª RA/SBQ) e aos eventos Brazilian Meeting on Inorganic Chemistry (BMIC, da 11ª até a 18ª ediçao) serao doravante referidos neste trabalho como o conjunto "PQ-INO-SBQ/BMIC".

Já se observa que esse número é inferior ao número de 700 pesquisadores levantado anteriormente.1 A principal explicaçao para esse fato é que a pesquisa foi feita agora apenas entre os pesquisadores (docentes) que submeteram seus trabalhos à atual Divisao de Química Inorgânica da SBQ, nao considerando trabalhos submetidos a outras Divisoes, como anteriormente. No período, houve ainda ampliaçao do número de Divisoes na SBQ, que atraiu parte dos químicos inorgânicos, como as divisoes de Química Biológica, Química Medicinal, Química dos Materiais ou Catálise. Além disso, o novo período focalizado compreende somente 15 anos, em vez de 25.

Em seguida, foi feito um levantamento no WEB/ISI, WEB of Science e Currículo Lattes/CNPq da produçao científica de todos os membros do grupo PQ-INO-SBQ/BMIC arrolados no período de 2002 até o presente (incluindo janeiro de 2017) como descrito no material suplementar. Esse levantamento resultou em 3006 trabalhos de fato relacionados a pesquisas na área inorgânica. Em uma primeira análise dos dados levantados, algumas consideraçoes já podem ser feitas a respeito da evoluçao da área de Química Inorgânica no país. No período anterior (1977 a 2001, 25 anos),1 foram publicados 2273 artigos, perfazendo um total de 91 artigos por ano e, considerando 700 pesquisadores, chegou-se a 0,13 trabalhos por autor e por ano no período. No levantamento atual, que cobriu o período de 2002 a 2016 (15 anos) foram encontrados 3006 registros, perfazendo cerca de 200 publicaçoes ao ano e, considerando os 405 membros do grupo PQ-INO-SBQ/BMIC identificados, cerca de 0,50 trabalhos por autor e por ano, no período. Esses números, embora relativos e sujeitos às ressalvas já levantadas no trabalho prévio, quanto aos cuidados com o levantamento de autores e produçao, sao reveladores e parecem indicar uma real evoluçao na área de pesquisa de Química Inorgânica e, portanto, da Química brasileira, ao longo destes 40 anos. Essa melhoria em termos numéricos reflete o crescimento da comunidade científica brasileira, balizada principalmente pela atuaçao da SBQ, entre outras entidades, proporcionando interaçoes regulares entre os pesquisadores por meio das Reunioes Anuais e de congressos específicos como BMIC, e ainda mantendo revistas nacionais para divulgaçao dos trabalhos, em inglês ou em português. Também é decorrente das maiores possibilidades de financiamento proporcionadas pelos principais órgaos federais (CNPq, CAPES e Finep) e as diversas fundaçoes estaduais (FAPs), ao longo desse período.

Considerando que a pesquisa e a produçao científica da Química Inorgânica no Brasil estao fortemente associadas à produçao da pós-graduaçao, o aumento da produçao por pesquisador no levantamento atual (2002 a 2016) em relaçao período anterior (1977 a 2001) reflete também a consolidaçao da pós-graduaçao no país. Enquanto na avaliaçao trienal 2001 (1998 a 2000) feita pela CAPES havia um total de 23 cursos de doutorado na área de Química,4 esse número praticamente dobrou na avaliaçao trienal mais recente (2010 a 2012).5 Esse indicador indireto de melhoria de qualidade da pós-graduaçao em química no país é justificado pelo fato de que a regulamentaçao de cursos de doutorado pela CAPES é mais rigorosa que aquela para criaçao de cursos de mestrado acadêmico e implica corpo docente com produçao qualificada e infraestrutura adequada. Este aumento quantitativo ocorreu sem prejuízo aos indicadores de qualidade, sendo observado um aumento no número de cursos de doutorado de excelência (conceito 7) de 3 (avaliaçao trienal 2001) para 9 (avaliaçao atual); o número de cursos de doutorado nos extratos de conceitos 5+6 permaneceu essencialmente inalterado (ligeiro aumento de 13 para 14 cursos).4,5

Avaliaçao dos resultados

Os resultados obtidos no levantamento da produçao científica dos membros do grupo PQ-INO-SBQ/BMIC, nos últimos 15 anos, foram organizados de tal forma a compará-los aos dados de 2002, complementando e atualizando aqueles resultados. A Tabela 1 apresenta a distribuiçao das publicaçoes encontradas por ano de publicaçao, indexadas no período (total de 3006).

 

 

Observa-se que a distribuiçao de publicaçoes por ano a partir do ano de 2006 é consideravelmente estável, em torno de 210 a 220 publicaçoes por ano. Essa relativa estabilidade do número de publicaçoes anuais está relacionada muito provavelmente à também relativa estabilidade verificada nas fontes de financiamento pelas agências, especialmente no Estado de Sao Paulo; à crescente internacionalizaçao da Ciência, especialmente nos últimos anos, por meio de vindas de pesquisadores visitantes estrangeiros e possibilidades de estágio ou visitas de alunos e pesquisadores brasileiros a centros de pesquisa no exterior; além da constante interaçao entre os pares por meio de reunioes da SBQ e outros congressos nacionais e internacionais. Essa constante interaçao entre diferentes grupos, em diferentes realidades, estimula uma maior produçao científica. Também merece destaque o agrupamento de pesquisadores em torno de objetivos comuns. Isso ocorreu por meio dos projetos temáticos, projetos em rede, Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs) e Centros de Excelência em Pesquisa, Inovaçao e Difusao (CEPIDs), o que incentivou a investigaçao de temas mais abrangentes e mais significativos, realizada por equipes com competência em áreas complementares, num esforço multidisciplinar focalizado e com uso mais racional de recursos instrumentais compartilhados.

Esses resultados também atestam uma maior maturidade da comunidade científica brasileira em geral e, particularmente, na área de Química Inorgânica. O número de alunos interessados e o número de pesquisadores atuantes na área cresceram, muitos grupos se consolidaram e, consequentemente, a produçao acompanhou esse desenvolvimento, tendo melhorado os indicadores de publicaçoes, apresentaçoes em congresso e formaçao de recursos humanos.

A análise das principais revistas utilizadas pelos membros do grupo PQ-INO-SBQ/BMIC para inserir seus trabalhos (Tabela 1S, material suplementar), permite algumas conclusoes interessantes. De um total de 364 revistas nas quais os 3006 artigos estao distribuídos, cerca de 10% (35 revistas) concentram aproximadamente metade da produçao (1544 artigos). Estas 35 revistas apresentaram 20 ou mais artigos do grupo PQ-INO-SBQ/BMIC, no período focalizado. É evidente a maior diversificaçao dos trabalhos realizados neste período, em comparaçao com o período anteriormente analisado, a partir do aparecimento de outras revistas na lista tabelada, além das tradicionais, como, Polyhedron, Inorg. Chim. Acta, Inorg. Chem. , Dalton Trans. ou J. Luminescence, que mantiveram aproximadamente o mesmo número de publicaçoes brasileiras ao longo dos dois períodos. Na área de Catálise, apareceu produçao significativa (25 a 30 artigos) em revistas como J. Catal. (29 artigos) ou crescimento em outras que já apareciam na Tabela no período anterior,1 como Appl. Catal. A: Gen. (51 vs. 12) e J. Mol. Catal. A: Chem. (53 vs. 41). Houve também aumento de publicaçoes em revistas de áreas correlatas, como eletroquímica (Electrochim. Acta, 35 artigos vs. 18), bioinorgânica (J. Inorg. Biochem. , 60 artigos vs. 41) e espectroscopia (Spectrochim. Acta Part A, 50 vs. 16). Uma diminuiçao acentuada foi verificada em revistas que focalizam mais em sínteses e caracterizaçoes, como Thermochim. Acta (22 vs. 115), J. Alloys Compd. (23 vs. 90) ou J. Non-Cryst. Solids (26 vs. 77). Adicionalmente, publicaçoes em número marcante apareceram em revistas na área de materiais, como Microporous Mesoporous Mater. (30), Mater. Chem. Phys. (21), Mater. Lett. (21) e Mater. Res. Bull. (20). Também apareceram revistas de Físico-Química que nao constavam anteriormente da lista, como J. Phys. Chem. C (28) e Phys. Chem. Chem. Phys (23) e revistas com enfoque ambiental, como J. Hazardous Materials (30) ou de polímeros, como Carbohydrate Polymers (33). Merece ainda destaque o aparecimento de artigos em outras revistas conceituadas mais novas, como RSC Advances (25), Inorg. Chem. Commun. (42) e Eur. J. Inorg. Chem. (21), que nao constavam da lista anterior. Desta maneira, percebe-se que o foco das pesquisas continuou a se diversificar, abrangendo diferentes áreas, além da Inorgânica clássica, e que o número de artigos publicados cresceu nas revistas com maior índice de impacto.

As publicaçoes nas revistas da SBQ continuaram a aumentar, comparando-se os dois períodos, com Química Nova apresentando 138 artigos no período mais recente vs. 84 no período anterior, e J. Braz. Chem. Soc. apresentando 137 vs. 102, respectivamente nos mesmos períodos. Entretanto, enquanto no período anterior as publicaçoes nestas duas revistas representavam 12,2% do total, neste novo período elas representam apenas 9,1%.

De modo geral, estes dados indicam um amadurecimento dos pesquisadores, que passaram a produzir trabalhos com abordagens mais interdisciplinares, seguindo a tendência geral da Ciência, e a publicar em revistas mais diversificadas. Percebe-se na Tabela 1S que a gama de revistas contendo cerca de 30 a 50 artigos publicados no período é bastante ampla, abrangendo tópicos como catálise, espectroscopia, cristalografia, eletroquímica, polímeros, química ambiental e materiais. Algumas destas revistas nao apareciam no levantamento anterior.

Para aqueles que acompanham e participam dessa comunidade, é patente nas publicaçoes (sejam artigos ou apresentaçoes em congressos) a evoluçao das pesquisas em termos de temas focalizados e principalmente nas abordagens e recursos instrumentais utilizados ao longo desses 40 anos. Seguindo a tendência mundial, as publicaçoes de brasileiros também passaram a dar maior ênfase na justificativa dos estudos e nas suas possíveis aplicaçoes.

Principais linhas de pesquisa

A Tabela 2S (material suplementar) ilustra as principais palavras-chave encontradas nos trabalhos analisados nos últimos 15 anos. Esse levantamento foi feito para, a exemplo do trabalho de 2002,1 tentar estabelecer os principais temas e tendências de trabalhos que originaram as publicaçoes dos membros do grupo PQ-INO-SBQ/BMIC. Enquanto no trabalho anterior os autores testaram diferentes palavras-chave para classificar os trabalhos selecionados, na abordagem atual as palavras-chave com as quais se trabalhou foram as encontradas nas publicaçoes analisadas.

Os dados apresentados na Tabela 2S permitem identificar os temas mais estudados na área ao longo desses 15 anos e, associados aos principais periódicos utilizados pela comunidade (Tabela 1S), mostram uma clara tendência à ampliaçao da abrangência e multidisciplinaridade dos principais temas nos quais os pesquisadores da área têm se envolvido.

Os termos "Complex/coordination/ligand", "Spectroscopy/FTIR/Raman/EPR/RMN/UV-Vis", "Crystal structure/X-ray structure/X-ray-diffraction" e "Compound preparation", típicos da Inorgânica, apareceram em 25,7%, 20,4%, 18,9% e 15,7%, respectivamente, do total de artigos analisados. Adicionalmente, trabalhos contendo os metais cobre (6,8%), rutênio (5,9%) e ferro (2,7%) como palavras-chave perfazem um total de 15,4% dos artigos analisados. Esse mesmo comportamento já havia sido destacado nas pesquisas até 2002. Compostos de outros metais, como níquel (4,8%) e európio (4,8%) que mereciam destaque na pesquisa de 2002, no levantamento atual aparecem como palavras-chave em pouco mais de 2% do total de trabalhos analisados. Outros 13 metais diferentes foram citados, ainda que poucas vezes nas palavras-chave (ver Tabela 2S).

O termo denominado "Medicinal", que agrega uma série de palavras-chave, nao apareceu na análise anterior e foi citado agora em 16,4 % dos artigos selecionados. Ao se incluir termos como "Nitric-oxide/nitrosyl complexes" (4,2%) a percentagem cresce para >20%. O termo correlato "Bioinorganic/mimic/biomimetic" passou de 0,7% do total de publicaçoes no período anterior,1 para 4,4% na avaliaçao atual. O crescimento da Química Inorgânica Medicinal e Química Bioinorgânica nos últimos 15 anos no Brasil acompanha a tendência global de preocupaçao com a saúde, com o funcionamento dos sistemas biológicos e com a necessidade de inovaçao no desenvolvimento de novos fármacos.

Os termos "Nano" (15,9%), "Materials" (15,2%), "Catalysis/ catalyst/ kinetics/ active-site" (14,5%), "Electrochemical/ ecletrode/ voltammetry/ redox" (13,5%), "Oxidation" (11,4%), "Porphyrin/metalloporphyrin/phthalocyanine" (10,2%) e "Sol-gel/silica/mesoporous silica" (9,7%) mereceram destaque neste novo período. Particularmente, trabalhos com porfirinóides passaram de 4,2% no período anterior para 10,2% no período atual.

Alguns termos, ao contrário, apresentaram queda de citaçao nas palavras-chave ao longo destes 15 anos, como "rare earth/lanthanides", "luminescence" e "thermal/thermochemistry". A primeira (antes 10,4%) nao aparece como tal nesta análise, enquanto as outras duas aparecem com 5,2 (vs8,6%) e 2,3% (vs10,4%), respectivamente. Nao obstante, "Europium" (1,1%) aparece como um dos 8 metais explicitamente identificado como palavra-chave nos trabalhos analisados.

Muitas palavras-chave puderam ser agregadas em grupos mais gerais abrangendo preparaçao e/ou aplicaçao, como é o caso dos termos "Oxidation" (11,4%), "Magnetic properties" (3,2%) e "Nitric-oxide/nitrosyl complexes". Digno de nota é o aparecimento do grupo "Calculation/DFT/ab-initio/molecular calculations", agregando palavras-chave vinculadas à química computacional e/ou teórica, correspondendo a 4,9% dos trabalhos analisados e mostrando uma tendência importante dos trabalhos de pesquisa dos últimos 15 anos.

Particularmente, a análise cruzada dos grupos da Tabela 2S sugere grandes temas de pesquisa ocorrentes na área. Por exemplo, as palavras-chave agregadas nos grupos "Carbon/graphene/carbon nanotubes", "Clay/kaolinite/montmorillonite/perovskite", "Nano", "Sol-gel/silica/mesoporous silica", "Polymer" e "Film/thin films/monolayers/Langmuir-Blodgett" sugerem uma grande quantidade de trabalhos voltados para o tema de Materiais e Química do estado sólido. Além disso, os termos "photochemistry /photosensitizers /PDT /TiO2", "Electrochemical/ electrode/ voltammetry /redox", "Oxidation" e "Biodiesel/esterification/transesterification" se relacionam fortemente ao tema Catálise. O mesmo pode ser visto no tema "Porphyrin/metalloporphyrin/phthalocyanine" em conjunto com "Bioinorganic /mimetic/ biomimetic" e "Nitric oxide/nitrosyl complexes" que podem ser em parte relacionados à Química Medicinal.

Produçao científica nas diferentes instituiçoes de ensino do país nos níveis federal, estadual e privado

A Tabela 2 apresenta os porcentuais referentes ao número total de artigos publicados pelos pesquisadores nas várias instituiçoes federais, estaduais e privadas, no universo de membros do grupo PQ-INO-SBQ/BMIC considerados nos últimos 15 anos. Como estratégia de apresentaçao e análise dos dados, foram tabeladas individualmente as instituiçoes que apresentavam no período, porcentagem de membros do grupo PQ-INO-SBQ/BMIC com produçao indexada, no período, superiores a 0,5% (cerca de 2 pesquisadores) do total analisado (405 pesquisadores). Abaixo desse valor, as instituiçoes foram agrupadas por semelhança, como por exemplo, Universidades Federais variadas, demais universidades estaduais, etc.

 

 

Na publicaçao de 2002 foi observado que um total de 16 universidades federais participou com 36% da produçao científica analisada, enquanto que as universidades estaduais paulistas foram responsáveis por 53%. Nao foram apresentados resultados de outras instituiçoes.1

Na Tabela 2 podemos observar que o universo de instituiçoes que contribuíram para a pesquisa em Química Inorgânica nos últimos 15 anos é amplo, abrangendo todas as regioes do país. Foram elencadas instituiçoes federais principalmente, além de estaduais e algumas poucas privadas. Cerca de 39 universidades federais (as apresentadas individualmente na tabela, bem como aquelas agrupadas na linha "Outras UFs - IFs Variadas" e detalhadas na nota de rodapé "e") somadas a institutos federais variados perfazem um total de cerca de 57,8% de toda a produçao científica analisada. As universidades estaduais sao responsáveis por 38,7% da produçao e as instituiçoes privadas por apenas 3,5% do total. Esse resultado claramente mostra um crescimento nos últimos 15 anos da contribuiçao das universidades federais à pesquisa na área de Química Inorgânica no país. Considerando que houve um crescimento expressivo no número de instituiçoes federais nesse período, algumas inclusive com bons cursos de pós-graduaçao nessa área, esses resultados podem ser parcialmente justificados. No entanto, esse crescimento pode também ser decorrente de uma consolidaçao dos vários grupos de pesquisa e diversos programas de pós-graduaçao nas diferentes universidades federais nesta última década, aliada a um maior aporte financeiro proporcionado no período.

Quando se analisa os resultados em termos regionais, observa-se uma distribuiçao da produçao majoritariamente por 5 estados: SP (27,4%), MG (13,6%), RJ (10,4%), PR (11,1%) e RS (5,9%), perfazendo um total de 68,4% do total da produçao analisada. Esse resultado é muito diferente daquele apresentado nos 25 anos analisados anteriormente (1977-2001)1 que mostraram o Estado de SP responsável por 56% da produçao científica em Química Inorgânica, seguido do RS (6,2%) e de MG (6%). Embora a pesquisa atual mostre que a maior porcentagem de pesquisadores ainda é de SP, os dados atuais revelam uma maior consolidaçao das demais regioes e uma melhor distribuiçao geográfica da produçao, indicando que outros estados vêm contribuindo com as pesquisas nessa área de forma mais significativa. Como exemplo pode ser citado o PR, que teve um crescimento expressivo nos últimos 15 anos. No período anterior,1 o estado foi representado pela UFPR com 3,2% da produçao total de trabalhos analisada. Agora, essa mesma universidade foi responsável por 4,7% de todos os trabalhos analisados e o estado como um todo por 11,1%, em grande parte representada pela produçao científica das universidades estaduais, que nao haviam sido avaliadas na primeira análise de 2002.

Também aparecem nesta Tabela 2 algumas universidades federais ou estaduais que se destacaram individualmente em termos de publicaçoes neste novo período. Como exemplos, podem ser citadas em SP a UFABC (criada em 2005); em MG a UFJF a UFU e no RJ a UENF e a UFRRJ; responsáveis individualmente por 0,8 a 2,3% do total de publicaçoes. Em todas elas há grupos de pesquisadores da nova geraçao que se mostraram muito atuantes nos últimos anos.

As universidades federais UFPE, UFPB, UFC e UFBA, apesar da renovaçao considerável do quadro de docentes de Química Inorgânica observada em algumas delas nos últimos 10 anos, continuam se destacando na produçao científica em Química Inorgânica no Nordeste, sendo responsáveis individualmente por 0,8 a 2,0% do universo de publicaçoes considerado neste levantamento. Talvez nao coincidentemente, essas quatro universidades sao as únicas na Regiao a oferecerem cursos de doutorado em Química desde as décadas de 80 (UFPE) ou 90 (UFC, UFBA e UFPB). Por outro lado, cursos de doutorado em Química foram criados muito recentemente (2015-2016) nas universidades UFPI, UFS e UFRPE, enquanto que no Maranhao sequer há curso de doutorado em Química. Três novos cursos de mestrado em Química foram criados na Bahia, mas estes nao contemplam a área de Química Inorgânica.

Na regiao Centro-Oeste, destacam-se a UnB e a UFG. Além disso, nessa regiao, o curso de doutorado em Química na UFMS teve início em 2013, enquanto a UFGD começou a oferecer o curso de mestrado em Química a partir de 2011. O estado de MT nao possui curso de doutorado em Química, tendo o curso de mestrado sido estabelecido recentemente (2010).

A baixa produçao da Regiao Norte na área de Química Inorgânica é preocupante e reflete nao apenas a carência de programas de pós-graduaçao em Química na regiao, mas possivelmente um enfoque para outras áreas. Por exemplo, o programa de pós-graduaçao em química da UFRR (mestrado) nao possui a área de concentraçao em Química Inorgânica. A produçao em Química Inorgânica da regiao contabiliza apenas 0,1% no universo analisado.

Além disso, constata-se na Tabela 2 a participaçao crescente de universidades privadas em termos de trabalhos publicados, responsáveis por 1,5 % deles no período, sendo que pouco mais da metade deles (0,8%) é devida às chamadas universidades confessionais (PUCs). Ainda dentre as universidades privadas, destaca-se individualmente a UNIFRAN (Universidade de Franca), responsável por 2,0% dos trabalhos publicados no período. Assim, embora lentamente, começa a ser significativa a produçao científica fora das universidades públicas, ao longo desses 40 anos.

Apesar dos problemas regionais pontuais, todos estes dados sao promissores, pois atestam uma distribuiçao mais diversificada da produçao científica pelas várias instituiçoes, em várias regioes, e um maior desenvolvimento dos grupos de pesquisa disseminados pelo país.

Produçao científica e a cooperaçao internacional

Dos trabalhos produzidos pelo grupo PQ-INO-SBQ/BMIC analisados, 34,9% envolveram colaboraçao internacional. A Tabela 3 apresenta os países com os quais os membros do grupo PQ-INO-SBQ/BMIC publicaram mais frequentemente seus trabalhos de pesquisa nos últimos 15 anos. Como estratégia de análise, foram inseridos individualmente na tabela os países que apresentaram números de publicaçoes com os pesquisadores brasileiros iguais ou superiores a cerca de 1% do universo dos artigos analisados. Foram encontrados 11 países nessa categoria, além de outros 34 países onde o número de publicaçoes com pesquisadores brasileiros foi inferior a 1% do total analisado. Quando isso ocorreu, esses países foram agrupados na linha "outros países", cuja produçao somada nao ultrapassou 7% do total. Dentre os 11 principais países parceiros nas colaboraçoes internacionais para o grupo PQ-INO-SBQ/BMIC nos últimos 15 anos (Tabela 3), destacam-se a Espanha (5,0%), Argentina (4,5%) e USA (4,0%), seguidos de Inglaterra (3,6%), França (2,7%) e Alemanha (2,2%).

 

 

Quando se compara o número de países envolvidos em colaboraçao internacional levantado nos últimos 15 anos (44 países) com aquele verificado no ano de 2002 (valor máximo de 27 países)1 podemos concluir que mais recentemente intensificaram-se os trabalhos de colaboraçao entre pesquisadores brasileiros e estrangeiros. Esse resultado pode ser consequência da maior quantidade de linhas de financiamento federal e estaduais incentivando a saída de estudantes com bolsas-sanduíche e de pesquisadores para estágio de pós-doutoramento. Além disso, o aumento de colaboraçoes internacionais pode também ser resultado do aumento do número de pesquisadores brasileiros frequentando congressos internacionais, bem como a vinda de pesquisadores estrangeiros para participar de conferências nacionais como, por exemplo, as ediçoes do BMIC e das RA-SBQ como já comentado. O programa Ciência sem Fronteiras, financiado pelo CNPq/CAPES, bem como bolsas para estudantes de pós-graduaçao financiadas pela CAPES, com certeza tiveram também papel relevante no envio de estudantes de pós-graduaçao e pós-doutores ao exterior, que iniciaram ou fortaleceram laços de colaboraçao internacional. Cabe destacar também que a internacionalizaçao passou a ser um critério com percepçao de peso maior durante as avaliaçoes recentes dos programas de pós-graduaçao em Química pela CAPES, o que naturalmente se reflete e contribui para a maior internacionalizaçao da produçao científica da Química Inorgânica do Brasil.

Recursos Humanos: formaçao e perspectivas futuras

No ano de 2002, o número de docentes vinculados a programas de pós-graduaçao na área da Química em todo o país era 922.6 O número de docentes, distribuídos nas categorias permanente, colaborador e visitante, mais que dobrou nos últimos 15 anos, passando a 1885 no ano de 2015.7 Evidentemente, o número de docentes atuantes na área de química nas instituiçoes de ensino superior nao se limita à pós-graduaçao e deve ser, portanto, muito maior.

Quanto à formaçao de alunos, até o ano de 2001, 419 mestres e 292 doutores foram titulados.6 No entanto, dados de 2015 indicam 1042 mestres e 584 doutores já titulados na área de química como um todo.7 Embora nao se tenham informaçoes de como esses docentes e titulados estao distribuídos nas várias instituiçoes e grandes áreas da química (QI, QO, FQ e QA), espera-se que esse aumento expressivo observado de 2001 a 2015 contemple de forma análoga ou proporcional a área de Química Inorgânica. Sendo assim, é possível inferir que o número total de químicos inorgânicos titulados também cresceu ao longo dos últimos 15 anos.

O documento da área de química 2016, editado pela CAPES,8 mostra que a área da Química conta com 70 programas de pós-graduaçao recomendados em 114 cursos: 66 cursos de Mestrado Acadêmico, 45 cursos de Doutorado e 3 Mestrados Profissionais. Esses cursos estao distribuídos por quase todos os estados e regioes do Brasil, sendo 3 na regiao norte, 17 na regiao nordeste, 7 na regiao centro-oeste, 28 na regiao sudeste e 15 na regiao sul. Apenas os estados do Acre, Rondônia, Amapá e Tocantins nao contam com programas de pós-graduaçao e o programa de pós-graduaçao em Roraima nao contempla a área de Química Inorgânica. A propósito, dos 35 cursos de mestrado acadêmico em Química criados a partir de 2001 e recomendados pela CAPES, apenas 6 (UESB, UESC e UFOB, na BA; UFVJM, em MG; UFRR, em RR) possuem escopo limitado e nao atendem formalmente à área de concentraçao em Química Inorgânica. Todos os 23 cursos de doutorado em Química criados a partir de 2001 contemplam linhas de pesquisa na área de Química Inorgânica. Espera-se que boa parte dos titulados, nos diferentes programas de pós-graduaçao espalhados pelo país, certamente sejam gradativamente absorvidos por essas instituiçoes públicas e algumas das instituiçoes privadas consideradas nessa pesquisa, para garantir uma continuidade na multiplicaçao de pesquisadores com consequente progresso da área.

Ao se analisar a formaçao declarada dos pesquisadores considerados nessa pesquisa (Tabela 3S, material suplementar) na plataforma Currículo Lattes do CNPq, pode-se observar que mais de 80% apresentam titulaçao na área de química, sendo cerca de 25% em química inorgânica. Destaca-se, no entanto, que muitos programas de pós-graduaçao nao apresentam a titulaçao específica "química inorgânica" e sim titulaçoes mais gerais, tais como Doutorado em Ciências e Doutorado em Química.

A partir das informaçoes declaradas no Currículo Lattes, ou pela ausência de atualizaçao dos dados nessa plataforma de pesquisa (Tabela 4S, material suplementar), é possível estimar que pelo menos 31 pesquisadores do universo analisado já se aposentaram, sendo a maioria com formaçao no período de 1960-1980. No entanto, é possível também afirmar que alguns continuam suas atividades de pesquisa, com bolsa de pesquisador (SR) ou nao. Infelizmente é possível também, a partir da consulta ao Lattes e conhecimento das divulgaçoes efetuadas pelo Boletim da SBQ, afirmar que ao menos 8 pesquisadores, constantes no universo de pesquisadores considerados (405) vieram a falecer no período pesquisado. Os números na Tabela 4S mostram, no entanto, que mais de 42% dos pesquisadores analisados se formaram após 2001, o que aponta para uma carreira acadêmica ainda longa para boa parte do universo de pesquisadores ativos.

Ao se levantar o perfil de distribuiçoes de bolsas do CNPq entre os pesquisadores considerados nesse trabalho (Tabela 4), observa-se que 154 pesquisadores sao bolsistas de Produtividade em Pesquisa, sendo a maioria das bolsas distribuídas no CA Química. A partir de uma busca de bolsas vigentes no site do CNPq,9 pode-se concluir que alguns desses pesquisadores provavelmente sao bolsistas da área de Química mas atuantes em alguma das outras grandes áreas, visto que apenas 118 bolsistas podem ser vinculados a química inorgânica (16,7% do total de 706 bolsas de produtividade em pesquisa).9

 

 

Pode-se observar que o número dessas bolsas sofreu um grande aumento nos últimos 15 anos, de cerca de 50%, visto que no ano de 2001 esse número era de 349.1 Como consequência, o número de bolsas vinculadas a área de Inorgânica também aumentou, saindo de 481 para cerca de 118.9 No entanto, em termos percentuais havia 13% de bolsistas na área de Química Inorgânica em 2002, que agora passaram para cerca de 16%, ou seja, praticamente o número de bolsistas nesta área se mostrou constante ao longo dos últimos 15 anos. Essa preocupaçao com o incentivo à pesquisa por meio das bolsas de produtividade já existia no levantamento anterior. Em 1990 havia 66 bolsistas na área de Química Inorgânica e esse número decresceu bastante nos anos seguintes, chegando a 48 em 2001.1

Na análise da Tabela 4, observa-se que a grande maioria dos químicos trabalhando na área inorgânica nao é bolsista de Produtividade em Pesquisa (249 pesquisadores no universo analisado), apesar de também contribuírem para o total de produçao levantada nesta pesquisa. Portanto, embora tenha havido um crescimento no número total de bolsas de Produtividade em Pesquisa nos últimos 15 anos para o conjunto do CA Química, 706 em 20179 contra 333 em 1991 e 349 em 2001,1 esse número ainda está muito aquém das necessidades, pelo menos no que diz respeito a área de Química Inorgânica, já que a produtividade anual aumentou de 0,13 publicaçoes/pesquisador para 0,50 nos últimos 15 anos.

 

CONCLUSOES

Baseado no levantamento realizado pode-se concluir que a área evoluiu bastante ao longo das últimas 4 décadas, ampliando-se significativamente as abordagens utilizadas ao desenvolver trabalhos com temas inorgânicos. Esse progresso pode ser constatado nao só pelo maior número de publicaçoes (Tabela 1), com uma média de cerca de 220 publicaçoes anuais ao longo dos últimos 10 anos, mas também pelas revistas mais utilizadas (Tabela 1S), cuja lista foi expandida e cresceu também em qualidade (escopo e índice de impacto), e por um conjunto maior de palavras-chave indicadas nestes estudos (Tabela 2S).

O amadurecimento da área também se reflete no maior número de grupos consolidados de pesquisa nesse último período analisado tanto em universidades públicas como privadas, que parecem apresentar uma tendência positiva de crescimento (Tabela 2). A distribuiçao mais homogênea da produçao científica em termos de regioes do país também é um fator promissor (vide Tabela 2). Enquanto no primeiro levantamento, publicado em 2002,1 as universidades paulistas representavam 56% da produçao total, na análise mais recente esse número decresceu para 27,2%, atestando o desenvolvimento acentuado de outros estados.

Sem dúvida a maior interaçao dos pesquisadores com cientistas e entidades no exterior, por meio do incentivo e consequente progressao observada na colaboraçao internacional, também teve papel preponderante no avanço das pesquisas realizadas. Em 2002 haviam sido computados 480 artigos (20% do total de trabalhos analisados) com participaçao de parceiros internacionais,1 sendo USA (3,5%), França (3,3%), Alemanha (2,9%), Espanha (2,6%), Inglaterra (1,6%), Itália (1,5%) e Canadá (1,3%) os países onde ocorreram interaçoes mais frequentes, num universo de 27 países envolvidos. Nessa nova análise, houve interaçao mais frequente com 11 países, com adiçao de Argentina, Uruguai, Portugal e Austrália aos 7 anteriormente citados, que resultaram em publicaçoes representativas de mais de 1% da produçao total, além de mais 34 países onde a produçao resultante foi inferior a 1% (Tabela 3). Essas publicaçoes com participaçao de co-autores estrangeiros representaram 34,9% da produçao total e envolveram 45 países diferentes.

A comunidade reagiu adequadamente aos problemas apontados na análise anterior,1 realizando esforços conjuntos que garantiram a formaçao de maior número de pesquisadores, mais competitivos e que se aventuraram por temas mais relevantes, conforme recomendaçoes feitas.

Segundo o Censo do Diretório de Grupos de Pesquisa no Brasil feito pelo CNPq,10 o número de grupos entre 2002 e 2016, considerando todas as áreas de conhecimento, passou de 15.158 para 37,640. Os dados do Censo, especificamente para a área de Química,11 nao discriminam as sub-áreas. Em 2016, foram computados 1302 grupos de pesquisa, desenvolvendo 6369 linhas de pesquisa na área da Química. Presume-se que a sub-área de Química Inorgânica acompanhou proporcionalmente essa tendência.

Segundo dados do Centro de Gestao e Estudos Estratégicos (CGEE),12 ligado ao o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovaçoes e Comunicaçoes (MCTIC), o número de Programas de Mestrado e Doutorado cresceram no Brasil 305% e 310% respectivamente, entre 1996 e 2014. No caso da Química, essa taxa de crescimento foi de aproximadamente 64%. O número de Doutores titulados na área da Química cresceu 227%, no mesmo período. Dados análogos para Mestrados por área de atuaçao nao foram encontrados nesses relatórios.12 Esses números expressam o esforço extraordinário dispendido pelos pesquisadores na ampliaçao de seus quadros.

O documento de área da Capes 8 afirma que "a área de Química tem enorme potencial de contribuiçao com os desafios nacionais" e esses desafios abrangem diferentes temas. O documento ainda acrescenta que "o Brasil precisa enfrentar esses desafios para se posicionar entre os dez países maiores produtores de novos conhecimentos". No presente trabalho observamos que os pesquisadores da área de Química Inorgânica enfrentaram e vêm enfrentando boa parte desses desafios, desenvolvendo pesquisas acadêmicas na maioria dos temas levantados pela Capes, a saber: educaçao, água, energia, bioenergia, biocombustíveis, avaliaçao, ética e integridade científica, nanotecnologia, nanobiotecnologia, química verde, sustentabilidade, materiais, doenças emergentes, doenças negligenciadas, fármacos e medicamentos, inovaçao e indústria química brasileira. Vêm também contribuindo para a formaçao de novos recursos humanos com abordagens multidisciplinares, favorecida pela unificaçao dos diversos programas de Pós-Graduaçao (QA, QI, QO e FQ), em um único (Química).

Finalmente, cabe uma última observaçao sobre a formaçao dos pesquisadores em Química Inorgânica, em consonância com recomendaçoes feitas no trabalho anterior1 e referentes à disponibilidade de bons textos didáticos básicos. Infelizmente, apesar de terem sido encontradas varias publicaçoes de livros e capítulos de livro cujos autores sao pesquisadores avaliados nesse trabalho, ainda é bastante incipiente a participaçao de autores brasileiros na literatura didática em Química. Esforços neste sentido seriam muito benvindos.

 

MATERIAL SUPLEMENTAR

Algumas Tabelas relativas aos dados discutidos neste trabalho estao disponíveis em http://quimicanova.sbq.org.br, na forma de arquivo PDF, com acesso livre.

 

REFERENCIAS

1. Toma, H. E. ; Ferreira, A. M. C. ; Serra, O. A. ; Quim. Nova 2002, 25, 66.

2. http://www.reuni.mec.gov.br/, acessada em março 2017.

3. http://www.emec.mec.gov.br/, acessada em março 2017.

4. https://www.sucupira.capes.gov.br/sucupira/public/consultas/coleta/programa/quantitativos/quantitativoIes/, acessada em março 2017.

5. http://www.conteudoweb.capes.gov.br/conteudoweb/AvaliacaoTrienalServlet?ano=2000&acao=pesquisar&IES=&Area=4, acessada em março 2017.

6. Gama, A. A. S. ; Cadore, S. ; Ferreira, V. F. ; Quim. Nova, 2003, 26, 618.

7. http://www.geocapes.capes.gov.br/geocapes2/, acessada em fevereiro 2017.

8. http://www.capes.gov.br/images/documentos/Documentos_de_area_2017/04_QUIM_docarea_2016.pdf, acessada em fevereiro 2017.

9. http://www.cnpq.br/bolsistas-vigentes, acessada em fevereiro 2017.

10. http://www.lattes.cnpq.br/web/dgp/censo-atual/, acessada em março 2017.

11. http://www.lattes.cnpq.br/web/dgp/por-area2, acessada em março 2017.

12. https://www.cgee.org.br/documents/10182/734063/Mestres_Doutores_2015_Vs3.pdf, acessada em março 2017.

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