|
Considerações sobre textos que tratam do desenvolvimento de metalofármacos de rutênio Considerations on texts treating the development of ruthenium metallodrugs |
Sofia Nikolaou*; Camila F. N. da Silva
Departamento de Química, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Av. dos Bandeirantes 3900, 14040-901 Ribeirão Preto – SP, Brasil Recebido em 24/01/2018 *e-mail: sofia@ffclrp.usp.br It is relatively easy to verify that literature focused on the planning and investigation of ruthenium complexes biological properties (and their possible application as metallodrugs) has assumed certain generalizations that have been systematically repeated, mainly with respect to parallelisms and antagonisms with the chemistry of iron and platinum. This work proposes a discussion on the construction of the texts that deal with the theme, aiming to criticize the misuse of such generalizations. INTRODUÇAO Há muito tempo é conhecido o importante papel dos íons metálicos nos processos biológicos e na formaçao das estruturas moleculares.1 Um exemplo sao as metaloproteínas (enzimas), que desempenham funçoes tao variadas quanto o transporte de oxigênio no sangue, feito pelo centro ferro-heme da hemoglobina, transferências multieletrônicas na respiraçao e transferências fotoinduzidas na fotossíntese.2 Os metais também sao encontrados na composiçao de nutrientes essenciais como as vitaminas; para citar apenas um exemplo, a vitamina B12 contém um íon de cobalto (Co) em sua estrutura.1,3 Além disso, relatos de cerca de 5000 anos atrás já remetem ao uso medicinal dos metais.4 Portanto, existe um grande apelo para o uso de metais na formulaçao de medicamentos em funçao do grande potencial dos cátions metálicos, como espécies deficientes em elétrons, interagirem com resíduos (bases de Lewis) de biomoléculas como proteínas, enzimas e o próprio DNA e desse modo interferirem em processos metabólicos, fisiológicos e patológicos das mais diversas naturezas.5 No caso particular dos compostos de rutênio, há muitos anos existe uma série de abordagens que vao desde estudos sobre sua açao fungicida, passando por sua atividade anti-inflamatória,6 antibiótica,7 anticarcinogênica,8 até seu uso indireto como fotosensibilizador em terapia fotodinâmica, seja a partir de complexos com ligantes polipiridínicos hidrofóbicos (bons intercaladores em DNA) ou a partir de complexos liberadores de NO.9-11 Este trabalho tem como objetivo propor uma reflexao sobre a construçao dos textos (predominantemente na forma de artigos científicos) que tratam do planejamento e investigaçao das propriedades biológicas de complexos de rutênio e sua eventual aplicaçao como metalofármaco. É possível verificar facilmente (autores familiarizados com o assunto concordarao) que a literatura focada no tema assumiu certas generalizaçoes sobre a química do rutênio que, com o tempo, praticamente alcançaram o status de dogma e têm sido sistematicamente repetidas sem maiores discussoes, principalmente no que diz respeito a paralelismos e antagonismos com a química dos elementos ferro e platina. Para propor, entao, esta reflexao, este texto nao tem como objetivo apresentar uma revisao exaustiva sobre o tema, nem tampouco discutir o estado da arte focando em referências bibliográficas especialmente recentes. Ao contrário, grande parte das referências apresentadas aqui foram selecionadas por serem exemplares no que diz respeito à constituiçao e repetiçao das "verdades absolutas" sobre o rutênio, as quais estao sendo propagadas na literatura. Se por um lado esta reflexao pode apenas reforçar o espírito crítico do pesquisador mais experiente e, portanto, já consciente da questao, por outro ela certamente é relevante para estudantes e pesquisadores que estao se aproximando do tema pela primeira vez.
METALOFARMACOS DE RUTENIO O evento que realmente despertou o interesse no desenvolvimento de fármacos a partir de compostos metálicos foi a descoberta, feita por Rosenberg em 1965,12 da atividade antitumoral da chamada "cisplatina" (cis-diaminodicloro-PtII).13 Sua atividade anticarcinogênica é bem estabelecida para câncer de testículo, ovário, cabeça, pulmao, estômago e esôfago e sua citotoxicidade é funçao da sua capacidade de ligar-se ao DNA. O complexo passa por reaçoes de aquaçao das duas posiçoes originalmente ocupadas pelos ligantes cloro e, posteriormente, liga-se covalentemente a uma fita do DNA. Uma vez ligada, a cisplatina causa uma distorçao na estrutura da dupla hélice do DNA, comprometendo sua transcriçao e replicaçao, interferindo, portanto, no desenvolvimento das células tumorais.5,14 Porém, a cisplatina, bem como outras duas drogas análogas em uso clínico (carboplatina e oxaliplatina), apresentam alta toxicidade sistêmica, levando a tratamentos extremamente debilitantes devido aos efeitos colaterais indesejados (toxicidade renal, náuseas severas, diminuiçao da produçao de medula óssea, entre outros), além de serem inativas (por resistência intrínseca ou adquirida) contra vários tipos de células tumorais e, principalmente, nao apresentam efeito em fase metastática.15,16 Em funçao de limitaçoes como as exemplificadas acima, há uma busca acentuada por alternativas de fármacos baseados em complexos de coordenaçao ou organometálicos, com algum interesse naqueles que combinam um centro metálico com fármacos orgânicos com atividade farmacológica já explorada.17 A importância desta estratégia foi reconhecida há muito tempo na literatura, uma vez que o resultado desta combinaçao tem proporcionado melhoras no que diz respeito aos efeitos colaterais e à resistência associada a certas drogas com arcabouço exclusivamente orgânico.15,18 De importância histórica podemos citar o "vermelho de rutênio". Este composto consiste no complexo polinuclear de valência mista [(NH3)5RuIIIORuIV(NH3)4ORuIII(NH3)5]6+.19 Sua afinidade por polissacarídeos (componentes presentes em biomembranas) permite sua utilizaçao em exames cintilográficos e, portanto, a visualizaçao de tumores. Além disso, por se ligar preferencialmente a uma série de proteínas carregadoras de cálcio, interfere em processos metabólicos mediados por este íon. Na sua formulaçao comercial ocorre uma impureza chamada Ru360, cuja fórmula é [X(NH3)4RuIIIORuIV(NH3)4X]3+, X = Cl- ou OH-.9 Hoje é sabido que o Ru360 é de fato o composto responsável por interferir no processo de entrada de Ca2+ na mitocôndria.20 Complexos de rutênio têm sido utilizados também como sensibilizadores em terapia fotodinâmica (TFD), que envolve o uso de luz para matar células tumorais.21 De modo geral, para ser útil em TFD um composto deve conter sítios de interaçao hidrofóbica para que possa ser incorporado a biomembranas22 e ao DNA;23 deve apresentar um estado fundamental estável em meio fisiológico e deve, idealmente, absorver luz entre 600 nm a 800 nm (a chamada janela terapêutica), radiaçao com boa penetraçao em tecidos de organismos vivos.24 Em se tratando de rutênio, os análogos funcionais à cisplatina sao os complexos denominados NAMI-A e KP1019 (Figura 1) e seus congêneres.25 Os primeiros artigos sobre a atividade anticâncer de compostos de rutênio datam da década de noventa do século passado, significando que pesquisas com esse foco começaram alguns anos antes.26 Ou seja: a investigaçao da aplicaçao de complexos de rutênio como quimioterápicos para câncer tem aproximadamente 30 anos de ocorrência sistemática e pode ser considerada, portanto, como nova. Os próximos três parágrafos mostram alguns aspectos relacionados a este tema e foram predominantemente baseados em dois trabalhos de revisao do início dos anos 2000 que, portanto, refletem a mentalidade vigente nos anos 90 do século passado. Este trecho foi feito desta forma a fim de, em um segundo momento, permitir ressaltar as virtudes e problemas que a literatura vem carregando quando o assunto é metalofármacos de rutênio.
Figura 1. Estrutura dos complexos NAMI-A e KP1019
Admitia-se que complexos cujo centro metálico é o rutênio possuem boa aplicaçao clínica principalmente devido a baixa toxicidade do metal.11 Isto foi atribuído à semelhança das propriedades físico-químicas deste íon metálico com as do íon ferro.27 O organismo consegue proteger-se dos efeitos causados pelo excesso de ferro através do aumento da produçao de proteínas captadoras de ferro, como a transferrina e a albumina.28 Postulou-se que o mecanismo de defesa contra a toxicidade do rutênio seria o mesmo.11 Essa "crença" se estabeleceu após a publicaçao de estudos da interaçao da HSTf (transferrina sérica humana) com cloreto de rutênio marcado (103RuCl3).29 Acreditava-se, também, que a existência ou nao de toxicidade associada ao metal poderia estar relacionada aos seus estados de oxidaçao acessíveis em meio fisiológico (II, III e IV). Esses estados seriam acessíveis possivelmente em decorrência da açao de agentes redutores como o ácido ascórbico ou de enzimas como a citocromo oxidase.11 Além da semelhança com o ferro, a presumida baixa toxicidade em funçao de resultados de citotoxicidade in vitro e da possível ocorrência de uma química redox relevante in vivo,30 a busca por complexos ativos de rutênio considerava que sua atividade deveria estar relacionada com os mecanismos de atuaçao da cisplatina.11,31,32 Portanto, aspectos da cinética de aquaçao de complexos de rutênio em meio aquoso e pH fisiológico sempre foram pontos críticos no planejamento de candidatos a metalo-fármacos baseados em rutênio.32 Com estas premissas em mente, iniciou-se a investigaçao das propriedades biológicas dos complexos NAMI-A, KP1019 e seus análogos. Ambos apresentam atividade em relaçao a tumores em fase de metástase, sendo baixa sua toxicidade sistêmica em doses farmacologicamente ativas.15,33 A partir deste ponto e, apesar da vasta literatura disponível sobre o tema na forma dos artigos originais e de uma série de trabalhos de revisao mais recentes,34 minha análise está predominantemente relacionada ao conteúdo de dois artigos de revisao, referências 32 e 35, por haver um alinhamento de ideias. É útil informar que há uma variedade estrutural enorme nos complexos de rutênio que apresentam alguma atividade biológica. No entanto, tratar dos complexos NAMI-A e KP1019 é inescapável a qualquer tentativa de falar sobre metalofármacos baseados em rutênio, uma vez que estes compostos sao os únicos dois que chegaram à fase de testes clínicos (Fase I para o KP1019 e Fases I e II para o NAMI-A). Sendo assim, as referências 32 e 35, bem como as referências nelas citadas, servem como base para o resto deste texto. É uma máxima da química que elementos pertencentes a um mesmo grupo (ou família, para os mais velhos) na Tabela Periódica têm propriedades afins. Com base nessa "verdade", generalizou-se a hipótese de que, sendo o ferro um metal essencial e sendo o rutênio um metal do mesmo grupo, entao a aparente baixa toxicidade de compostos de rutênio derivaria do fato de que o rutênio usaria o mesmo "maquinário biológico" do ferro e seria, em última análise, metabolizado e excretado pelas mesmas vias. É curioso como uma afirmaçao dessa ordem é sistematicamente repetida pelos mais diversos autores (incluindo-me nesse grupo). É explicaçao recorrente nas salas de aula que, de modo geral, os metais "pesados" sao tóxicos justamente por substituírem metais essenciais parecidos em termos de suas relaçoes carga/raio em seus sítios biológicos (geralmente metaloproteínas).36 Além disso, o ferro, sendo um metal do primeiro período de transiçao, apresenta o fenômeno chamado de "equilíbrio de spin". Sendo assim, a distribuiçao eletrônica dos íons Fe(II) e Fe(III) é altamente dependente dos ligantes presentes em sua esfera de coordenaçao e daí decorre o fato de que seu raio é variável, nao apenas em funçao da variaçao de nox / carga nuclear efetiva, mas também em funçao dos efeitos eletrônicos de estabilizaçao relativa das distribuiçoes de spin alto e spin baixo. Já o rutênio predomina na condiçao de distribuiçao eletrônica de spin baixo, portanto, apresenta um valor praticamente fixo de raio para cada estado de oxidaçao. O fato do rutênio apresentar um raio maior o torna um ácido mais mole do que o ferro, o que tem implicaçoes importantes na sua reatividade. Portanto, nao é adequado justificar um estudo de complexo de rutênio com base na ideia de que suas propriedades, no que diz respeito à atividade biológica e citotoxicidade, decorrem de sua semelhança com o ferro. Propagou-se também a ideia de que a acessibilidade a vários estados de oxidaçao, embora indubitavelmente seja uma propriedade importante, seria um pré-requisito para a atividade biológica do rutênio. Bem, na grande maioria dos casos estudados, valores de potencial para os processos redox Ru(IV) / Ru(III) / Ru(II) foram determinados mediante reaçoes de eletrodo, em soluçoes orgânicas ou aquosas de pH fisiológico, na ausência ou nao de moléculas de interesse biológico como a albumina. Ou ainda foram verificadas as reaçoes em soluçao de complexos com agentes redutores como o ácido ascórbico e a glutationa, ou oxidantes como o peróxido de hidrogênio. Infelizmente, assumir que as propriedades redox observadas nas condiçoes experimentais mencionadas possam ser estritamente extrapoladas para a química redox que venha a ocorrer in vivo é temerário, por mais que seja conveniente. A única situaçao na qual os valores de potenciais redox observados em tais condiçoes podem manter um alinhamento com a química redox in vivo seria para casos onde os complexos sao inertes, assumindo ainda que a inércia química observada em soluçao se manteria diante dos mais variados tipos de proteínas presentes in vivo. Uma dificuldade intrínseca de se correlacionar resultados químicos e in vitro com o que esperar in vivo para complexos de coordenaçao deriva do fato de que in vivo ainda nao se tem conhecimento, nem tampouco controle, das estruturas que efetivamente estao presentes. Nao se sabe quais sao os potenciais redox das espécies efetivamente ativas. Isso ocorre em funçao de dois fatores: a labilidade dos complexos de rutênio (naturalmente relacionada à sua esfera de coordenaçao) e sua tendência de se ligar a proteínas séricas. Alguns poucos estudos de raios-X já mostraram que complexos inertes em soluçao perdem seus ligantes e interagem com a albumina como íons nus, coordenando-se preferencialmente a resíduos de histidina, no caso do rutênio(III).37,38 Portanto, as propriedades de inércia / labilidade dos compostos de rutênio observadas em soluçao aparentemente nao sao reproduzidas na presença de proteínas séricas. Entao, seria mais razoável dizer que nao é tao importante avaliar compostos cujos potenciais redox em soluçao ocorrem em valores acessíveis em meio aquoso de pH 7,4. Mais importante seria avaliar compostos cujos potenciais redox possam ser modulados em uma faixa de potenciais acessíveis em meio biológico. Já a questao da labilidade / inércia dos compostos de rutênio nos remete às comparaçoes com os mecanismos de açao da cisplatina. O primeiro comentário a fazer diz respeito ao fato de que, inicialmente, buscava-se por complexos de rutênio que apresentassem taxas de hidrólise comparáveis às dos compostos de platina nas mesmas condiçoes. A contraposiçao da labilidade / inércia dos compostos de rutênio com a platina é algo que também costuma ser invocado nos artigos. O Ru(III) é considerado nesses textos como sendo, necessariamente, mais inerte que a Pt(II).39,40 Se levarmos em conta que a energia de estabilizaçao de campo cristalino, sendo um efeito eletrônico, é o principal fator a ser considerado, poderíamos concluir que este íon nao é mais inerte que a Pt(II). Podemos verificar isso a partir da posiçao relativa dos dois elementos na tabela periódica e nos valer de argumentos simples da química de coordenaçao, como a variaçao periódica de Δ0 (parâmetro de desdobramento de campo cristalino) e os efeitos de estabilizaçao daí originados. No entanto, a carga maior no íon Ru(III) contribui para uma maior inércia em reaçoes de substituiçao tanto quanto a geometria quadrado planar dos complexos de Pt(II) levam a uma maior reatividade em comparaçao com complexos octaédricos, típicos para os íons Ru(II) e (III). Normalmente a generalizaçao de que compostos de rutênio sao (sempre) mais inertes que os de platina se presta a balizar a hipótese de que para um metalofármaco ser ativo ele precisaria passar pelo que se chama de "ativaçao por reduçao". Ou seja: um composto de Ru(III) seria ativo apenas após ser reduzido. A reduçao o tornaria mais lábil e mais apto a interagir com bioalvos. Novamente há um viés conceitual, pois o íon Ru(II) de configuraçao d6 tenderia a ser mais inerte do que o íon Ru(III) d5, novamente considerando as energias de estabilizaçao de campo ligante (efeito eletrônico), que é máxima para íons d6 dos segundo e terceiro períodos de transiçao, em geometria octaédrica. Fazendo uma digressao, essa linha argumentativa é conveniente, pois leva a outra generalizaçao: a de que um complexo obrigatoriamente precisa passar por uma via redutiva, já que o ambiente dos tumores é redutor (devido à hipóxia). A via redutiva oferece hipoteticamente um meio de controle da atividade: compostos de Ru(III) sao inertes e inativos até atingirem o tumor, onde seriam reduzidos e passariam a expressar sua atividade. Ou seja: criou-se uma linha argumentativa que habita o imaginário das pessoas envolvidas na área e que embute alguns problemas conceituais, mas que, confortavelmente, presta-se a estabelecer como certo que compostos de Ru(III) precisam ser inertes para serem ativados por reduçao apenas quando chegarem ao seu bioalvo, o tumor. Em primeiro lugar, hoje, em 2018, parece haver consenso de que os tumores primários (sólidos) nao sao os alvos preferenciais dos complexos de rutênio. Fato é que existe uma variedade de exemplos na literatura de complexos de Ru(III) e Ru(II) que sao mais ou menos inertes em diferentes condiçoes, especialmente no que diz respeito à presença ou nao de uma proteína como a HSA (albumina do soro humano) no meio reacional. Essa frase ocorre aqui apenas para dizer o óbvio: nao é de todo realista tentar racionalizar o comportamento de complexos com esfera de coordenaçao mista, em meio biológico, com argumentos exclusivamente baseados na teoria cinética original de Taube. A linha de análise é obviamente correta, no entanto, há que se estudar caso a caso. Os argumentos sobre labilidade e inércia apresentados acima em termos de estabilizaçao relativa de reagentes e produtos com base em Δo sao válidos para os chamados "complexos de Werner", que sao complexos octaédricos homolépticos com ligantes "simples" como a água, a amônia ou os haletos. Além disso, a racionalizaçao (reitero, correta) do comportamento cinético de um íon metálico a partir da estabilizaçao relativa dos reagentes e produtos por energia de estabilizaçao de campo ligante é apresentada nos livros textos para reaçoes de substituiçao de água coordenadas (ou seja, de solvente), o que nao tem paralelo com os complexos NAMI-A, KP1019 e outros estudados como candidatos a fármacos. O que se sabe é que a reaçao de hidrólise da cisplatina é importante para sua atividade, uma vez que é o complexo aquo que se liga ao DNA. A reaçao de interesse (aquaçao) ocorre em um intervalo de poucas horas (cerca de duas) nas concentraçoes de íons Cl- presentes no meio celular (4 – 20 mmol L-1), intervalo compatível com os processos de divisao celular. Já os complexos de Ru(III) da família do NAMI-A e KP1019 sofrem reaçao de substituiçao de íons cloreto mesmo nas concentraçoes mais altas desse ânion encontradas no meio extracelular (~150 mmol L-1), o que responderia em parte por sua grande afinidade por proteínas séricas. Hoje já foi descrito, no entanto, que mais de 90% da dose de cisplatina administrada por via intravenosa é desativada por ligaçao com proteínas séricas. Ou seja: as taxas de hidrólise desses complexos nao sao dependentes apenas da concentraçao de Cl- no meio. A reatividade na presença de proteínas séricas possivelmente nao é a mesma em comparaçao com a reatividade estudada em soluçao. O conhecimento sobre os mecanismos de açao da cisplatina e seus análogos é muitíssimo maior do que o conhecimento acumulado para os compostos de rutênio. Já está bem estabelecido que a cisplatina atua preferencialmente em tumores, e mais, atua diretamente no DNA. Portanto, é pré-requisito para sua atuaçao que o complexo seja internalizado pelas células. No caso do rutênio, a grande verdade é que os mecanismos de suas açoes biológicas nao estao seguramente descritos. Contudo, no que diz respeito a câncer, a maioria dos compostos de rutênio nao atua diretamente em tumores primários. Ao contrário, têm atividade relevante em fase de metástase. Aparentemente esse comportamento pode ser explicado em funçao de dois fatores já investigados: a internalizaçao (ou "uptake" celular) é baixa no caso dos complexos de rutênio e os mesmos apresentam alta afinidade por proteínas séricas. Até o momento uma das melhores hipóteses para explicar a atividade anti-metastática dos complexos de rutênio seria sua capacidade de se ligar ao colágeno na matriz extracelular e às proteínas do tipo da actina na superfície celular, de modo a interferir na mobilidade de células cancerígenas invasivas. Esses fatos mostram que o DNA nao necessariamente deva ser um alvo pretendido quando se idealiza a estrutura química de um candidato a metalo-fármaco. Obviamente, para que o DNA seja um bioalvo realista, o complexo em avaliaçao precisa ser internalizado. Verifica-se que o aumento global da hidrofobicidade do complexo (obtido pela escolha de ligantes orgânicos) aumenta sim a interaçao dos mesmos com biomoléculas. E isso tem como consequência maiores valores de "uptake" celular, possivelmente relacionado ao aumento na interaçao dos complexos com estruturas da membrana celular. É necessário, porém, desmistificar a ideia de que a presença de ligantes orgânicos hidrofóbicos e, muitas vezes, aromáticos e planares que servem como âncora para a interaçao dos complexos com biomoléculas, implica necessariamente em ganho nas propriedades de um metalofármaco. O aumento na hidrofobicidade se traduz, de modo geral, em aumento de lipofilicidade. Muito embora tenha sido demonstrado que, geralmente, esse fato implique em aumento de citotoxicidade nos ensaios in vitro, isso também aumenta os tempos de retençao dos complexos no organismo e pode aumentar também sua toxicidade geral. Daqui deriva outro ponto que precisa ser levantado: o que buscamos quando idealizamos um candidato a metalofármaco? Geralmente buscamos planejar aspectos estruturais que garantam citotoxicidade em concentraçoes seguras. Ora, o NAMI-A foi investigado justamente por sua citotoxicidade ser baixa, pois ele atua em processos que levam à morte celular sem apresentar alta citotoxicidade in vitro. A dicotomia citotoxicidade vs toxicidade é evidente no caso do NAMI-A: os testes clínicos foram descontinuados após a conclusao da fase II pois, apesar da baixa citotoxicidade nos testes in vitro e in vivo em fase pré-clínica, o composto mostrou-se tóxico nas condiçoes de realizaçao dos testes em humanos. Portanto, o fato de que altos valores de citotoxicidade nao precisam ser necessariamente um objetivo a ser alcançado no desenho de candidatos a metalo-fármacos de rutênio, e do conhecimento de que sua internalizaçao é baixa, confere relevância aos ensaios de interaçao dos complexos de rutênio com proteínas séricas. Naturalmente esses aspectos devem ser investigados caso a caso, mas para os propósitos deste texto, a generalizaçao é válida. O NAMI-A é o melhor exemplo disso. Nos testes clínicos de fase II, apresentou toxicidade tao alta aos pacientes que o composto foi, finalmente, descartado. Ao contrário, o complexo KP1019, que apresenta citotoxicidade in vitro em geral superior à observada para o NAMI-A, apresentou-se menos tóxico em humanos nos testes clínicos de fase I. Será que o NAMI-A é de fato ruim? Alessio pondera que, novamente, caiu-se na armadilha do paralelismo "obrigatório" com a cisplatina.35 De modo bem simplificado, os testes clínicos foram realizados segundo protocolos que levaram em consideraçao a atuaçao dos fármacos à base de platina. Estes atuam no DNA e, como já dito, os complexos de rutênio têm como principal alvo biológico proteínas séricas e sua internalizaçao nas células costuma ser baixa. No entanto, é óbvio que essas interaçoes podem ser moduladas, principalmente em funçao da concentraçao do fármaco. Foi demonstrado que a internalizaçao de compostos de rutênio aumenta em concentraçoes altas (> que 100 µmol L-1) devido à maior taxa de ligaçao à apo-HSTf (a apo-HSTf é a forma livre de ferro da HSTf). A transferrina é uma proteína que apresenta seletividade ao ferro quando este está em excesso em relaçao a outros metais e quando há também excesso de albumina, que se ligará preferencialmente a esses outros metais. Ou seja: a transferrina é seletiva a ferro nas condiçoes fisiológicas. No entanto, ela é capaz de se ligar a vários outros metais, especialmente se a concentraçao dos mesmos for alta. Tumores, por serem muito vascularizados, precisam de um aporte alto de ferro. Portanto, há um aumento de receptores de HSTf em sua superfície. Desse modo, o aporte do complexo de rutênio seria maior no tumor se fosse administrado em quantidades altas. Os testes, grosso modo, seguiram os protocolos de administraçao dos fármacos à base de platina e utilizou-se concentraçoes tao altas quanto 600 µmol L-1 m-2. Foram deixados em segundo plano o conhecimento de que os mecanismos de açao dos complexos de rutênio sao diferentes e que as atividades conhecidas ocorrem em faixas de concentraçao muito mais baixas. A HSTf é uma proteína com uma funçao específica, ela é responsável pela internalizaçao do ferro nas células. Experimentos in vitro mostraram que, quando se incuba células com HSTf previamente carregada com KP1019, sua internalizaçao diminui em comparaçao com a incubaçao com o complexo em soluçao. Esse fato sugere que, embora a ligaçao da HSTf com o complexo de rutênio ocorra, é possível que o aduto formado nao tenha a conformaçao correta para interagir com os receptores celulares. Esse ponto ganha força mediante a observaçao de que a internalizaçao do KP1019 aumenta quando se utiliza uma HSTf pré-carregada com rutênio e ferro, respectivamente nas proporçoes 1:1:0,3. Por fim, apesar da capacidade da HSTf se ligar a alguns complexos de rutênio em determinadas condiçoes e de ter sido verificada a internalizaçao nas células, por hora nada se sabe sobre a capacidade dos adutos HSTf-Ru e HSTf-Ru-Fe liberarem rutênio nas mesmas condiçoes fisiológicas da liberaçao do ferro (reduçao em meio ácido à Fe(II) com consequente diminuiçao de afinidade pela proteína). Além dos fatos discutidos acima, outro aspecto inescapável é a grande diferença de concentraçao plasmática entre a HSA (da ordem de 600 µmol L-1) e da HSTf (varia entre 20 a 30 µmol L-1). In vivo, é muito mais provável a ocorrência de ligaçoes inespecíficas entre complexos de rutênio com a HSA. A HSA parece nao ter nenhum papel específico além de transportar e armazenar os compostos, mantendo sua concentraçao plasmática constante. Diante deste cenário (especificidade para ferro nas condiçoes fisiológicas e atuaçao dos compostos de rutênio no meio extracelular), talvez nao seja tao importante estudar as interaçoes de complexos de rutênio com a HSTf. Em outras palavras, talvez nao seja rigorosamente necessário buscar complexos cujo alvo seja o DNA, uma vez que qualquer atuaçao nesse sentido depende da internalizaçao do complexo de rutênio na célula (assumindo que a principal via de internalizaçao seria mediada pela HSTf). Reitera-se a relevância da realizaçao do estudo das interaçoes dos complexos com a HSA. A avaliaçao das interaçoes fracas que se estabelecem entre complexo e a HSA é extremamente relevante, pois estas interaçoes dirigem a posterior formaçao de adutos covalentemente ligados, normalmente com resíduos de histidina (cujo grupo ligante para o rutênio é um imidazol). Recentemente foi levantada a possibilidade de que sao os adutos HSA-Ru que seriam responsáveis pela atividade observada para o NAMI-A e o KP1019 in vivo. Nao será de uma hora para outra que a comunidade abandonará a ideia de que os compostos precisam obrigatoriamente ser internalizados para serem ativos e, portanto, de que é necessário continuar investigando a HSTf. No entanto, se isso ocorrer, as mesmas questoes sobre como o rutênio seria liberado de seu aduto com proteína sérica para realizar suas funçoes serao centrais. Do ponto de vista estritamente químico, as ligaçoes Ru(III) / Ru(II) com a histidina sao estáveis e pouco lábeis. A última questao que gostaríamos de levantar diz respeito a quando o metalo-fármaco atua como a droga em si, ou quando ele atua como uma pró-droga. A definiçao de um complexo como metalofármaco passa pela ideia implícita de que é a estrutura originalmente administrada que tem a atividade biológica. A pró-droga seria o composto químico que, após sua administraçao, sofreria algum grau de biotransformaçao e os novos produtos gerados in vivo é que seriam efetivamente ativos. No caso dos complexos de coordenaçao e particularmente no caso dos compostos de rutênio, o leitor menos familiarizado com a área costuma encarar o complexo como um mero "carregador" de ativos orgânicos (os ligantes) e que, na melhor das hipóteses, sofrerá reaçoes de substituiçao (aquaçao, por exemplo) in vitro ou in vivo, liberando o ativo orgânico. De modo geral nao se tem considerado o outro lado da história, o fato de que em reaçoes de substituiçao em meio biológico, a espécie de interesse pode nao ser aquela que foi liberada do composto, mas sim a nova espécie metálica. Há sugestoes na literatura de que, em última análise, as açoes biológicas observadas para os complexos da família do NAMI-A (e KP1019) teriam origem na simples perturbaçao das vias metabólicas do Fe(III). Essas perturbaçoes ocorreriam após a perda dos ligantes e a substituiçao do íon de ferro pelo íon de rutênio nu em metaloproteínas. Essa é a única linha argumentativa que passa pela ideia de biomimetismo originalmente preconizada na bioinorgânica: as eventuais semelhanças entre o ferro e o rutênio, por serem metais do mesmo grupo, permitiriam a substituiçao em sítios biológicos de ferro, conferindo sim toxicidade aos compostos de rutênio. Entao, três tipos "básicos" de complexos podem ser considerados como candidatos a metalofármacos: a) compostos inertes (metalofármaco propriamente dito); b) compostos que liberam grupos funcionais específicos, como o óxido nítrico, mediante estímulos controlados (pró-droga) e c) complexos lábeis como o NAMI-A, que assumem outra composiçao in vivo pela perda de seus ligantes (pró-droga; neste caso a espécie ativa nao seria os ligantes liberados e sim o aduto metálico formado).
CONCLUSAO A conclusao (superficial) que a análise apresentada pode sugerir a um leitor desavisado é a de que, entao, nao haveria sentido no desenvolvimento de enormes quantidades de artigos acadêmicos focando estudos em soluçao e in vitro de complexos candidatos a fármacos. Nada poderia ser mais equivocado! A ideia aqui é trazer à tona a dificuldade de tratar dados obtidos em soluçao e in vitro como preditivos do comportamento in vivo. O comportamento in vivo pode ser muitíssimo imprevisível, especialmente por que nao temos controle de todas as variáveis envolvidas. Essa é, de fato, a única limitaçao. No entanto, é o comportamento estabelecido a partir de estudos acadêmicos que permite a obtençao reprodutível de um material em quantidades e pureza adequadas. É o que desperta interesse a partir de alguma propriedade distintiva. E mais: nao haveria rigorosamente nenhuma chance de se realizar experimentos in vivo, seja em protocolos animais ou em humanos, sem o acúmulo de um grande número de dados coletados in vitro que permitam inferir sobre a atividade e toxicidade de um candidato a fármaco. A pesquisa acadêmica é inescapável. Do ponto de vista apresentado neste texto, após mais de trinta anos de investigaçoes focando a atividade biológica de complexos de rutênio, simplesmente nao será mais o bastante (talvez nao seja sequer possível!) justificar estudos dessa natureza a partir de generalizaçoes sobre o comportamento do rutênio e paralelismos com o ferro e a platina. É preciso sim levantar dados de exemplos, tal qual o NAMI-A, para os quais alguma atividade relevante tenha sido demonstrada.32,35 É preciso nao abandonar pesquisas de cunho básico, que focam alvos clássicos como o DNA, mas fazê-las com um olhar mais arejado, mais crítico.41 É mandatório investigar outros aspectos, como o metabolismo e as possíveis interaçoes cruzadas dos candidatos a fármacos com outros compostos químicos. E, por fim, é preciso nao se intimidar diante de complexos metálicos cuja estrutura nao apresente nenhum aspecto facilmente reconhecível como promissor no planejamento de um fármaco.
REFERENCIAS 1. Hodgkin, D. C.; Pickworth, J.; Robertson, J. H.; Trueblood, K. N.; Prosen, R. J.; White, J. G.; Nature 1955, 176, 325. 2. Bartnikas, T. B.; Gitlin, J. D.; Nat. Struct. Mol. Biol. 2001, 8, 733. 3. Toma, H. E.; O mundo nanométrico: a dimensao do novo século; Oficina de Textos: Sao Paulo, 2009. 4. Orvig, C.; Abrams, M. J.; Chem. Rev. 1999, 99, 2201. 5. Zhang, C. X.; Lippard, S. J.; Curr. Opin. Chem. Biol. 2003, 7, 481; Reedijk, J.; Curr. Opin. Chem. Biol. 1999, 3, 236; Dendrinou-Samara, C.; Tsotsou, G.; Ekateriniadou, L. V.; Kortsaris, A. H.; Raptopoulou, C. P.; Terzis, A.; Kyriakidis, D. A.; Kessissoglou, D. P.; J. Inorg. Biochem. 1998, 71, 171; Farrell, N.; Coord. Chem. Rev. 2002, 232, 1; Clarke, M. J.; Zhu, F.; Frasca, D. R.; Chem. Rev. 1999, 99, 2511; Sharma, V.; Piwnica-Worms, D.; Chem. Rev. 1999, 99, 2545. 6. Dharmaraj, N.; Viswanathamurthi, P.; Natarajan, K.; Transition Met. Chem. 2001, 26, 105. 7. Allardyce, C. S.; Dyson, P. J.; Ellis, D. J.; Salter, P. A.; Scopelliti, R.; J. Organomet. Chem. 2003, 668, 35. 8. Aird, R. E.; Cummings, J.; Ritchie, A. A.; Muir, M.; Morris, R. E.; Chen, H.; Jodrell, D. I.; Br. J. Cancer. 2002, 86, 1652. 9. Clarke, M. J.; Coord. Chem. Rev. 2003, 236, 209. 10. de Lima, R. G.; Lever, A. B. P.; Ito, I. Y.; da Silva, R. S.; Transition Met. Chem. 2003, 28, 272; Pieper, T.; Keppler, B. K.; Analysis 1998, 26, 84; Smith, C. A.; Sutherland-Smith, A. J.; Keppler, B. K.; Kratz, F.; Baker, E. N.; Keppler, B. H.; J. Biol. Inorg. Chem. 1996, 1, 424. 11. Allardyce, C. S.; Dyson, P. J.; Platinum Met. Rev. 2001, 45, 62. 12. Rosenberg, B.; Vancamp, L.; Krigas, T.; Nature 1965, 205, 698; Rosenberg, B.; Vancamp, L.; Trosko, J. E.; Mansour, V. H.; Nature 1969, 222, 385. 13. Fontes, A. P. S.; César, E. T.; Beraldo, H.; Cad. Tematicos Quim. Nova. Esc. 2005, 6, 13. 14. Messori, L.; Merlino, A.; Coord. Chem. Rev. 2016, 315, 67. 15. Dyson, P. J.; Sava, G.; Dalton Trans. 2006, 16, 1929. 16. Johnstone, T. C.; Suntharalingam, K.; Lippard, S. J.; Chem. Rev. 2016, 116, 3436. 17. Seuanes, G. C.; Moreira, M. B.; Petta, T.; del Lama, M. P. F. M.; de Moraes, L. A. B.; de Oliveira, A. R. M.; Naal, R. M. Z. G.; Nikolaou, S.; J. Inorg. Biochem. 2015, 153, 178. 18. Allardyce, C. S.; Dorcier, A.; Scolaro, C.; Dyson, P. J.; Appl. Organomet. Chem. 2005, 19, 1. 19. Fletcher, J. M.; Greenfield, B. F.; Hardy, C. J.; Scargill, D.; Woodhead, J. L.; J. Chem. Soc. (Resumed) 1961, 382, 2000. 20. Reed, K. C.; Fyfe L. B.; Biochem. J. 1974, 140, 143. 21. Xiang, H. J.; Guo, M.; Liu, J. G.; Eur. J. Inorg. Chem. 2017, 1586; Rau, S.; Zheng, S.; Curr. Top. Med. Chem. 2012, 12, 197; Schatzschneider, U.; Eur. J. Inorg. Chem. 2010, 10, 1451. 22. Liang, X.; Campopiano, D. J.; Sadler, P. J.; Chem. Soc. Rev. 2007, 36, 968. 23. Zaki, M.; Arjmand, F.; Tabassum, S.; Inorg. Chim. Acta 2016, 444, 1. 24. Machado, A. E. H.; Quím. Nova 2000, 23, 237. 25. Sava, G.; Pacor, S.; Mestroni, G. Alessio, E.; Clin. Exp. Metastasis 1992, 10, 273. 26. Sava, G.; Pacor, S.; Mestroni, G.; Alessio, E.; Anti-Cancer Drugs 1992, 3, 25. 27. Medeiros, M. A.; Quim. Nova Esc. 2010, 32, 208. 28. de Almeida, A.; Oliveira, B. L.; Correia, J. D.; Soveral, G.; Casini, A.; Coord. Chem. Rev. 2013, 257, 2689; Bal, W.; Sokołowska, M.; Kurowska, E.; Faller, P.; Biochim. Biophys. Acta, Gen. Subj. 2013, 1830, 5444; Sun, X.; Tsang, C. N.; Sun, H.; Metallomics 2009, 1, 25; Timerbaev, A. R.; Hartinger, C. G.; Aleksenko, S. S.; Keppler, B. K.; Chem. Rev. 2006, 106, 2224; Espósito, B. P.; Najjar, R.; Coord. Chem. Rev. 2002, 232, 137. 29. Clarke, M. J.; Coord. Chem. Rev. 2003, 236, 209. 30. Zhang, P.; Sadler, P. J.; Eur. J. Inorg. Chem. 2017, 12, 1541. 31. Seddon, E. A.; Seddon, K. R.; The Chemistry of Ruthenium, Elsevier Science, Publishing Co. Inc.: Amsterdam, 1984; Gielen, M.; Tiekink, E. R. T.; Metallotherapeutic drugs and metal-based diagnostic agents: the use of metals in medicine, John Wiley & Sons: Chichester, 2005, p. 359; Reedijk, J.; Met. Rev. 2008, 52, 2. 32. Levina, A.; Mitra, A.; Lay, P. A.; Metallomics 2009, 1, 458. 33. Scolaro, C.; Chaplin, A. B.; Hartinger, C. G.; Bergamo, A.; Cocchietto, M.; Keppler, B. K.; Dyson, P. J.; Dalton Trans. 2007, 43, 5065. 34. Timerbaev, A. R.; TrAC, Trends Anal. Chem. 2016, 80, 547; Medici, S.; Peana, M.; Nurchi, V. M.; Lachowicz, J. I.; Crisponi, G.; Zoroddu, M. A.; Coord. Chem. Rev. 2015, 284, 329; Mjos, K. D.; Orvig, C.; Chem. Rev. 2014, 114, 4540; Casini, A.; J. Inorg. Biochem. 2012, 109, 97; Komeda, S.; Casini, A.; Curr. Top. Med. Chem. 2012, 12, 219; El Kazzouli, S.; El Brahmi, N.; Mignani, S.; Bousmina, M.; Zablocka, M. P.; Majoral, J.; Curr. Med. Chem. 2012, 19, 4995. 35. Alessio, E.; Eur. J. Inorg. Chem. 2017, 1549. 36. Roat-Malone, R. M.; Bioinorganic Chemistry, A short course, Wiley-Interscience: Hoboken, 2002; Alessio, E.; Bioinorganic Medicinal Chemsitry, Wiley-VCH: Weinheim, 2011; Toma, H. E.; Química Bioinorgânica e Ambiental, Blucher: Sao Paulo, 2015. 37. Messori, L.; Marzo, T.; Sanches, R. N. F.; Rehman, H.-U.; Silva, D. O.; Merlino, A.; Angew. Chem. 2014, 53, 6172. 38. Vergara, A.; Russo Krauss, I.; Montesarchio, D.; Paduano, L.; Merlino, A.; Inorg. Chem. 2013, 52, 10714. 39. Silva, P. P.; Guerra, W.; Quim. Nova Esc. 2012, 34, 99. 40. Silva, P. P.; Guerra, W.; Quim. Nova Esc. 2010, 32, 128. 41. Albani, B. A.; Peña, B.; Leed, N. A.; De Paula, N. A.; Pavani, C.; Baptista, M. S.; Turro, C.; J. Am. Chem. Soc. 2014, 136, 17095; Turro, C. Proc. Natl. Acad. Sci. U.S.A. 2011, 108, 17573. |
On-line version ISSN 1678-7064 Printed version ISSN 0100-4042
Qu�mica Nova
Publica��es da Sociedade Brasileira de Qu�mica
Caixa Postal: 26037
05513-970 S�o Paulo - SP
Tel/Fax: +55.11.3032.2299/+55.11.3814.3602
Free access