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Eixos mobilizadores em química: um breve olhar quinze anos depois Mobilizing axes in chemistry: a short look 15 years later |
Lilian Lefol Nani GuarieiroI,II; Pedro Afonso de Paula PereiraII,III; Paulo Cezar VieiraIV; Norberto Peporine LopesIV; Jailson B. de AndradeI,II,*
I. Centro Universitário SENAI CIMATEC, 41650-010 Salvador - BA, Brasil Recebido em 24/09/2018 *e-mail: jailsondeandrade@gmail.com In 2002, the Brazilian Chemical Society have promoted several activities aiming to prepare a document to discuss the education in Chemistry in Brazil, the new model of research funding, the area situation and its perspectives. The document drew up diagnoses and brought up proposals that were organized into six mobilizing axes. Among its conclusions it was expected an alignment of scientific and technological research, considering the central role of Chemistry in solving problems and overcoming challenges affecting the education, full citizenship, climate changes, food production and quality, access to and quality of water, energy security, preservation of ecosystems and species, emerging diseases and quality of life. The current moment brings again challenges, imposed by a new technological generation, the transformations of the urban societies and by the commitment with a sustainable development. This article seeks to outline a panorama, using as background the Industry 4.0, the Society 5.0, the Sustainable Development Objectives, the creation of the EMBRAPII, the SENAI Institutes of Innovation and the role of the graduate programs in Chemistry, in order to construct a new agenda under the scope of the SBQ for the next 15 years. AVISO AOS LEITORES Nao é pretensao deste texto fazer um exame exaustivo do que ocorreu nestes quinze anos, mas sim fazer algumas reflexoes sobre o momento atual com relaçao aos aspectos relacionados com o EIXO 1 (Eixos Mobilizadores da Química), A Formaçao do Químico. Serao abordados os avanços resultantes de várias açoes desencadeadas pela SBQ e os novos desafios que surgem devido às necessidades da sociedade, do setor industrial e do desenvolvimento sustentável. O objetivo do texto nao é estimular outras (os) Colegas a apresentarem as respectivas opinioes sobre os avanços promovidos pela SBQ nos setores químicos acadêmico e empresarial. Alguns trechos de publicaçoes passadas sao resgatados, nao com o objetivo de repetir o que já foi publicado, mas sim de contextualizar a época em que foram escritos com a situaçao atual da área de química e do país.
BREVE RETROSPECTIVA Em 2002, a Diretoria e o Conselho Consultivo da Sociedade Brasileira de Química, SBQ, decidiram promover uma série de atividades visando à elaboraçao de um documento denominado "Eixos Mobilizadores da Química" quando foram discutidos o ensino de Graduaçao e Pós-graduaçao em Química, o novo modelo de financiamento à pesquisa, a situaçao da área e as perspectivas, especialmente considerando as eleiçoes para Presidente, Governador, Congresso Nacional e Assembleias Legislativas.1 Após uma série de reunioes e discussoes, seis eixos foram propostos: O primeiro eixo mobilizador sugerido, formaçao de recursos humanos qualificados, foi resultado de uma série de análises comparativas que evidenciaram que para o país dar um salto também em inovaçao era necessário um investimento significativo na formaçao de recursos humanos qualificados em profusao e em todos os níveis. O segundo eixo mobilizador sugerido foi desconcentraçao regional e combate à endogenia, resultado da constataçao da necessidade de promover a desconcentraçao regional, sem perda de qualidade, e de combater a endogenia em qualquer das suas expressoes - individual, temática ou geracional. O terceiro e quarto eixos mobilizadores recomendados foram o estímulo ao empreendedorismo e à interdisciplinaridade e aproximaçao proativa da academia com a atividade econômica, resultantes de dois desafios de grande relevância naquele momento, que eram estimular o empreendedorismo e promover a "promiscuidade e a poligamia" intelectual, buscando uma aproximaçao proativa com o setor empresarial. O quinto eixo mobilizador recomendado foi vinculaçao orçamentária de recursos para C&T, que foi o resultado da constataçao da necessidade da garantia de recursos financeiros - ampliados em volume, continuados, diversificados e regionalmente sustentados. O sexto eixo mobilizador sugerido foi combate aos gargalos institucionais, pois constatou-se que a estrutura organizacional das instituiçoes de ensino superior apresentava vários gargalos que dificultavam o desenvolvimento da pesquisa, dentre os quais destacavam-se: a estrutura departamental das Instituiçoes de Ensino Superior (IES), que se tornou barreira para a interdisciplinaridade e fonte de duplicaçao de esforços; o sistema de gestao das IES, desarticulado, lento e dispendioso; a qualificaçao e gestao de pessoal técnico inadequada para a atividade de pesquisa; serviço de manutençao de equipamentos, inexistente ou deficiente e, finalmente, interlocuçao com o setor industrial deficiente. Além dos gargalos intrainstitucionais apontados, era preciso solucionar problemas relacionados com a importaçao de equipamentos científicos, e a importaçao de insumos químicos. Nas conclusoes do documento publicado em Química Nova, há 15 anos1 está registrado o seguinte: "Na segunda metade do século XX, a pesquisa científica no Brasil deu um salto significativo. Vários fatores contribuíram para isso, merecendo destaque a criaçao do CNPq e da CAPES na década de 50 e, posteriormente, da FINEP e FAPESP, bem como a institucionalizaçao e avaliaçao da pós-graduaçao. Atualmente, a ciência brasileira está diante de uma mudança de paradigma: se na década de 60 bastava ao professor universitário fazer pesquisa, na década de 80 a publicaçao de papers era condiçao obrigatória para ser considerado pesquisador. Várias vezes, nas últimas cinco décadas, o desafio (perguntas) apresentado aos professores pesquisadores mudou. Provavelmente, em breve, a "pergunta da vez será": quantos empregos a sua pesquisa gerou? Nesse momento próximo, a sintonia da pesquisa científica e tecnológica com a sociedade será inevitável. No caso específico da área de Química, por ser um ramo da ciência a serviço da humanidade, a sintonia é indissociável. A Sociedade Brasileira de Química, mobilizada e motivada espera, com os Eixos Mobilizadores em Química, contribuir nas mudanças efetivas que potencializem o ensino e a geraçao, difusao e apropriaçao do conhecimento." Dentre os seis eixos identificados, o de maior transversalidade era o da formaçao de recursos humanos qualificados, pois ele repercute e/ou é afetado pelos demais. Nesse sentido, este foi o eixo mais discutido e "trabalhado", tendo a Diretoria e o Conselho da Sociedade Brasileira de Química (SBQ) decidido aprofundar as discussoes sobre a formaçao de pessoal de alto nível. Após uma sequência de reunioes foi divulgado o documento "A formaçao do Químico"2 que abordava a graduaçao, pós-graduaçao, as Diretrizes Curriculares para os Cursos de Química, a situaçao do setor químico na indústria e destacava os dez mandamentos do Universitário do século XXI, divulgados na Conferência Mundial sobre o Ensino Superior - UNESCO, 1998: (1) Seja flexível, nao se especialize demais; (2) Invista na criatividade, nao só no conhecimento; (3) Aprenda a lidar com incertezas (o mundo é assim); (4) Prepare-se para estudar durante toda a vida; (5) Tenha habilidades sociais e capacidade de expressao; (6) Saiba trabalhar em grupo, bons empregos exigem isso; (7) Esteja pronto para assumir responsabilidades; (8) Busque ser empreendedor, crie o seu emprego; (9) Entenda as diferenças culturais (o trabalho globalizou); (10) Adquira intimidade com novas tecnologias. O documento2 finaliza com as seguintes conclusoes e desafios: "Nos últimos anos, por força dos processos de avaliaçao, o ensino superior brasileiro tem mostrado melhora. O número de docentes doutores nas IES tem crescido com rapidez. As condiçoes físicas, os laboratórios, as bibliotecas, as facilidades computacionais em quase todas as instituiçoes estao se transformando para melhor. Porém, conforme já mencionado, no que concerne à formaçao do Químico, várias questoes permanecem inalteradas, comprometendo, definitivamente, a formaçao do graduado. Com acertos e erros conceituais e metodológicos amplamente conhecidos e discutidos, os resultados das provas dos estudantes no Exame Nacional de Curso (ENC) ainda nao permitem um mapeamento seguro da qualidade curricular e didático-pedagógica dos cursos de Graduaçao em Química no Brasil. Nao se pode, entretanto, deixar de perceber a importância e a gravidade de algumas informaçoes paralelas obtidas através do questionário que os alunos respondem como parte desse Exame. A maioria dos discentes de Química que se submeteu aos ENC de 2000 a 2002 disse que: i) dedicava apenas 5 horas semanais para estudo extra-classe; ii) sabia muito pouco de inglês e de espanhol; iii) lia, em média, um livro por ano e iv) quase nao lia jornais. Todavia, 40% desses discentes disseram que pretendiam trabalhar no ensino; 70% pretendiam fazer cursos de pós-graduaçao e mais de 80% queriam trabalhar na área de Química. Mudanças devem ser introduzidas nos projetos didático-pedagógicos dos cursos para que estes ofereçam uma formaçao sólida em Química, mas abrangente e generalista o suficiente para que o Químico possa se desenvolver em mais de uma direçao. Muitos sao os desafios que se nos impoem nessa tarefa de formaçao do Químico: i) implantar as Diretrizes; ii) melhorar a qualificaçao para a docência dos professores universitários e do ensino médio; iii) redefinir a formaçao profissional buscando a formaçao de um graduado com intimidade com novas tecnologias e com espírito empreendedor; iv) formar pós-graduados com possibilidade de inserçao no setor industrial; v) buscar a transformaçao da indústria química brasileira de indústria de base para indústria de especialidades; vi) buscar a alteraçao das atribuiçoes profissionais, de modo a eliminar a verticalizaçao de atribuiçoes, e o reconhecimento da pós-graduaçao como qualificaçao profissional e vii) responder à questao qual o perfil do profissional de Química que estaremos formando em 5, 10 e 20 anos? Esse é o perfil que a sociedade necessita?" Em continuidade a essas açoes, em 2005, como contribuiçao à 3ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovaçao, a SBQ organizou, em parceria com o Centro de Gestao e Estudos Estratégicos, CGEE, o número especial de Química Nova: Necessidades e Perspectivas da Química no Brasil - O Futuro do Profissional na Pesquisa.3 O conteúdo do Volume 28 de Química Nova e da Publicaçao Parcerias Estratégicas do CGEE foi organizado de modo que os temas abordados incluíssem propostas de políticas e de mecanismos de mobilizaçao visando a sustentaçao de açoes para o futuro imediato da área:4 Química no Brasil: Perspectivas e Necessidades Para a Próxima Década: Documento Básico;5 seis trabalhos abordaram vários tópicos relacionados à "Formaçao do químico: desafios e necessidades": - A graduaçao em Química: um novo químico para uma nova era;6 Qual o perfil do profissional de Química que está sendo formado? Esse é o perfil que a sociedade necessita?;7 - O estímulo ao empreendedorismo nos cursos de Química: formando químicos empreendedores;8 - "Spin-off" acadêmico: criando riquezas a partir de conhecimento e pesquisa; - Informaçoes de patentes: ferramenta indispensável para a pesquisa e o desenvolvimento tecnológico;9 - A evasao nos cursos de graduaçao de Química. Uma experiência de sucesso feita no Instituto de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro para diminuir a evasao.10 Cinco trabalhos foram referentes ao tema "Organizaçao da pesquisa e os desafios da interaçao com áreas do conhecimento": - Contribuiçao à organizaçao da pesquisa em Química e os desafios da interaçao com outras áreas do conhecimento - Interfaces e organizaçao da pesquisa no Brasil: da Química à Nanotecnologia;11 - Organizaçao da pesquisa no Brasil: liçoes do passado, propostas para o futuro;12 - A questao da inovaçao em fármacos no Brasil: proposta de criaçao do Programa Nacional de Fármacos (PRONFAR);13 - Interfaces com a indústria.14 Três trabalhos abordam a "Política industrial e inovaçao": - Aspectos e fatores da produtividade em pesquisa, desenvolvimento e inovaçao;15 - Inovaçao e produçao em química fina;16 - Produçao tecnológica e produçao no setor químico.17 O tema "A pesquisa a serviço das políticas públicas" é discutido em seis artigos: - Políticas públicas (serviços, inclusao social, saúde pública e metrologia);18 - O quadrante de Ruetsap e a anti-ciência, tecnologia e inovaçao;19 - Geraçao do conhecimento através da especificaçao de produtos químicos;20 - A indústria de processamento químico no Brasil: suas motivaçoes para pesquisa e desenvolvimento e suas interfaces com as políticas governamentais;21 - Desafios da Química analítica frente às necessidades da indústria farmacêutica;22 - A importância do observatório de atividades industriais vis-à-vis tendências em ciência, tecnologia e inovaçao.23 Neste Número Especial, dois textos relacionados à formaçao do Químico, merecem destaque: i) A Graduaçao em Química: Um Novo Químico para Uma Nova Era;6 e ii) Qual é o Perfil do Professional de Química que está sendo formado? Esse é o Perfil de que a Sociedade Necessita?7 Os artigos abordaram temas como os fatores que influenciam a qualidade do ensino superior, destacando que, ainda que se pudesse comprovar a ocorrência de uma grande expansao no ensino superior (por exemplo, no período de 1998 a 2001, quando a cada 2,5 dias surgia uma nova IES privada, e, ainda maior no período de outubro de 2001 a julho de 2003, quando a cada 1,2 dia surgia uma nova IES privada) apenas 9% dos jovens brasileiros entre as idades de 18 a 24 anos estavam matriculados em curso superior nesse período. Nesse contexto, ainda que fosse incontestável a existência de uma política de expansao do ensino superior no país, nao se podia afirmar que havia uma política de ensino superior sustentada na qualidade. Ressalte-se, outrossim, que estava em andamento um forte financiamento direto às IES privadas, via BNDES e crédito educativo, em detrimento do investimento nas IES públicas, que, por muitas razoes, inclusive pela concorrência entre os melhores candidatos, sustentam a qualidade do ensino superior nacional. Esses eram alguns dos fatos estruturais dolorosos, mas inolvidáveis - que, envolvendo os alunos e as IES, comprometiam a qualidade do ensino superior praticado no Brasil, com sérios reflexos na área de Química. Quanto ao perfil do profissional de Química formado, foi destacado que a abrangência do raio de açao da Química e sua inter-relaçao com outras áreas se, por um lado, a fortalecem, por outro resultam em perda de identidade. Nesse sentido o artigo faz uma longa reflexao sobre os setores Acadêmico e Industrial e conclui que: "O perfil do profissional que estamos formando, em linhas gerais, precisa estar sintonizado com as necessidades da sociedade e do setor onde atuará profissionalmente. Nesse sentido, é preciso abordar com urgência: 1. a estratégia de redesenho curricular com foco no APRENDIZADO e nao no ENSINO; 2. além da dimensao Técnica, as dimensoes Comportamental, Gerencial e Administrativa; 3. a remoçao de barreiras burocráticas intra-universidade e profissional; e, 4. como a QUIMICA se relaciona com outras áreas e o que significa esta relaçao! A abordagem destes aspectos traria cunho evolucionário, permitindo ao profissional de Química lidar com os desafios propostos pelo mercado de trabalho. No entanto, para tal, é preciso deflagrar urgentemente nos cursos de Química, Graduaçao e Pós-graduaçao, um processo que rompa com o conservadorismo atual e caminhe na direçao da formaçao do profissional que a sociedade necessita. Nada disto terá importância, se nao vier alicerçada em uma formaçao acadêmica e profissional sólida e com alto grau de qualificaçao." Já em 2009, como contribuiçao à 4ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovaçao, que ocorreria em 2010, a SBQ organizou outro número especial de Química Nova: Recursos Naturais: Oportunidades na Academia e na Industria. No Editorial é destacado o papel da SBQ na formulaçao de planos e políticas de desenvolvimento da Química Brasileira em todos os seus aspectos.24 Nesse sentido, os artigos publicados abordaram o aproveitamento de recursos naturais, bem como transmitiram e discutiram informaçoes relevantes sob a perspectiva da inovaçao: - Recursos humanos para novos cenários;25 - Aproveitamento sustentável de biomassa e de recursos naturais na inovaçao química;26 - Biomassa e energia;27 - Oleos essenciais no Brasil: aspectos gerais, desenvolvimento e perspectivas;28 - Database of the Amazon aromatic plants and their essential oils;29 - Potencialidades e oportunidades na química da sacarose e outros açúcares;30; - Gliceroquímica: novos produtos e processos a partir da glicerina de produçao de biodiesel;31 - Polissacarídeos da biodiversidade brasileira: uma oportunidade de transformar conhecimento em valor econômico;32 - Aplicaçoes de fibras lignocelulósicas na química de polímeros e em compósitos;33 - Quitosana: biopolímero funcional com potencial industrial biomédico;34 - Biodiversidade: fonte potencial para a descoberta de fármacos;35 Fontes vegetais naturais de antioxidantes;36 - Organismos marinhos como fonte de novos fármacos: histórico & perspectivas;37 - Fotoprotetores derivados de produtos naturais: perspectivas de mercado e interaçoes entre o setor produtivo e centros de Pesquisa;38 Feromônios de insetos: tecnologia e desafios para uma agricultura competitiva no Brasil;39 - Oleo da castanha de caju: oportunidades e desafios no contexto do desenvolvimento e sustentabilidade industrial;40 Transformaçoes biológicas: contribuiçoes e perspectivas;41 - Energia, meio ambiente e economia: o Brasil no contexto mundial;42 - Biocombustíveis a partir de óleos e gorduras: desafios tecnológicos para viabilizá-los;43 - Biodiesel: visao crítica do status atual e perspectivas na academia e na indústria;44 - Cadeia do biodiesel da bancada à indústria: uma visao geral com prospecçao de tarefas e oportunidades para P&D&I;45 - Modificaçao química de argilas: desafios científicos e tecnológicos para obtençao de novos produtos com maior valor agregado;46 e - Borracha natural e nanocompósitos com argila.47 Neste número especial, a discussao do Eixo 1 a formaçao do químico avança por meio do artigo Recursos Humanos para Novos Cenários.48 No artigo foram abordadas a sustentabilidade e a interdisciplinaridade na formaçao do Professor de Química e a situaçao do Setor Industrial Químico, onde destaca-se: "Para enfrentar os desafios dos tempos atuais, em que os mercados de trabalho sao cada vez menos previsíveis e se alteram em curto espaço de tempo, é necessário mudar a estrutura dos cursos de graduaçao e a forma de ensinar. Ciência, técnica e tecnologia correspondem a um trinômio indissociável, e a educaçao é um processo permanente. Hoje, aprende-se ao longo de toda a vida, cujo aumento de expectativa nos últimos 40 anos, ocorreu, graças, em parte, ao avanço da Química. Viver mais e melhor depende, principalmente, do progresso da ciência e do domínio de novas tecnologias. Isto requer mudança de atitudes e da forma de ensinar, e da reorganizaçao dos cursos. Nos cursos de Química, os currículos deverao incluir Programas Temáticos que integrem ciência e educaçao, e a avalanche de disciplinas teóricas que soterra os estudantes, cujos conteúdos, muitas vezes, se repetem ao longo do curso, ser substituída por um elenco de problemas para os quais os estudantes, individualmente ou em grupo, procurem encontrar soluçoes. Os estudantes de Química devem aprender desde o início do curso a importância que a propriedade intelectual representa para a riqueza nacional. Invençoes, sejam elas incrementais ou radicais, só se transformam em riqueza se forem protegidas por patentes. As Licenciaturas em Química deverao também formar professores para o Ensino Médio que, além do domínio de conteúdos, sejam conscientes da missao de formar cidadaos que reconheçam a importância da ciência para o bem-estar da humanidade". Também em 2009, a Diretoria e o Conselho decidiram ampliar a linha editorial da SBQ com a criaçao do portal Química Nova Interativa, QNint,49 destinado a reforçar o lema da linha editorial e para servir de instrumento de conexao entre Ciência e Educaçao. Concebida como "uma flecha que mira o futuro", que pretende ser "uma metamorfose ambulante"! QNInt é o Portal do Conhecimento da SBQ, cujo objetivo é prover instrumentaçao confiável para a formaçao em Química, a ser utilizada por estudantes e professores em todos os níveis de formaçao, primando pela interatividade e pela atualizaçao das informaçoes. É a conexao entre Ciência e Educaçao em Química acessivelmente disponibilizada! Em 2012, a Diretoria e o Conselho Consultivo da SBQ criaram uma comissao integrada pelos ex-Presidentes: Angelo C. Pinto, César Zucco, Fernando Galembeck, Paulo C. Vieira e Jailson B. de Andrade, para a realizaçao do "Censo da Química no País". A primeira açao desenvolvida foi deflagrar, ainda em 2012, a discussao, através do artigo Química sem Fronteiras,50 convidando a comunidade de Química a debater a questao e a contribuir com position papers temáticos e em áreas estratégicas, que foram consolidados em outubro de 2013 e fazem parte da contribuiçao da SBQ ao Fórum Mundial de Ciências, que ocorreu no Rio de Janeiro em novembro de 2013. Nesse artigo50 foi destacado que "Os grandes desafios atuais e futuros do planeta e da humanidade sao: educaçao; cidadania plena; mudança climática; produçao e qualidade dos alimentos; acesso e qualidade da água; segurança energética; preservaçao de ecossistemas e das espécies; doenças emergentes e qualidade de vida". Como ponto de partida eram considerados, dentre outros, os seguintes temas centrais e transversais: i) Temas centrais: educaçao (todos os níveis); vida (incluindo fármacos e medicamentos); matérias-primas e materiais, "novos e velhos" (incluindo nanociência e nanomateriais); biodiversidade, (incluindo recursos naturais nao minerais); energia, água, alimentos e ambiente, inovaçao e a indústria química; ii) Temas transversais: ética e integridade científica; avaliaçao; inovaçao; agregaçao de valor; marcos legais e emergências. O panorama da Química retratava, que, em 2012, A indústria química brasileira era a 7ª do mundo, contribuindo para que o PIB brasileiro ocupe a 6ª posiçao, revelando um grave descompasso entre a importância dada à educaçao em Química - em especial nos cursos de graduaçao e licenciatura - e a importância da Química nos demais setores da vida nacional. "Aproximar a produçao química (que sustenta a indústria em geral, pela sua contribuiçao em energia e materiais) da educaçao química (que forma os profissionais da área) parece ser um desafio crucial deste momento histórico: garantir o desenvolvimento economicamente viável, com métodos e tecnologias inovativas e ambientalmente sustentáveis.51 Quando em 2013 o número especial (NE) de Química Nova, Química Sem Fronteiras foi publicado o editorial52 que fez a sua apresentaçao destacava que: Como parte das atividades do Fórum Mundial de Ciência que ocorreu no Rio de Janeiro, nos dias 25 e 26 de novembro de 2013, cujo tema foi Ciência para o Desenvolvimento Global, a SBQ publicou este número especial de Química Nova, em que especialistas apresentaram o Estado da arte de assuntos de grande importância para o desenvolvimento brasileiro e para a ciência mundial. Estes assuntos vao desde a "Imagem pública e divulgaçao da química: desafios e oportunidades" a "A química na agricultura: perspectivas para o desenvolvimento de tecnologias sustentáveis". Os artigos publicados abordaram os seguintes temas: - Química e sustentabilidade: novas fronteiras em biocombustíveis;53 - Inovaçao & propriedade industrial & indústria química;54 - Oceanografia e Química: unindo conhecimentos em prol dos oceanos e da sociedade;55 - A química na agricultura: perspectivas para o desenvolvimento de tecnologias;56 - Carboidratos como fonte de compostos para a indústria de química fina;57 - Impactos da nanotecnologia na saúde: produçao de medicamentos;58 - Panorama de propriedade intelectual, transferência de tecnologia e inovaçao da química brasileira e a comparaçao com os países do BRIC;59 - Nanoestruturas de carbono (nanotubos, grafeno): quo vadis?;60 - Química sem fronteiras: o desafio da energia;61; - Doenças tropicais negligenciadas: uma nova era de desafios e oportunidades;62 - Desafios da indústria farmacêutica brasileira;63 - Imagem pública e divulgaçao da química: desafios e oportunidades;64 - A pesquisa em ensino de química como área estratégica para o desenvolvimento da química;65 Explorando produtos naturais microbianos nas fronteiras da química e da biologia;66 ; - Fatos e tendências da biocatálise;67 - Catálise assimétrica no Brasil: desenvolvimento e potencialidades para o avanço da indústria química brasileira;68 - Inovaçao para a sustentabilidade;69 e - Metabolômica, uma abordagem otimizada para exploraçao da biodiversidade brasileira: estado da arte, perspectivas e desafios.70 Ainda em 2013, um grupo de trabalho formado pelo Presidente da SBQ, Vitor Ferreira e pelos ex-presidentes Angelo da Cunha Pinto, César Zucco e Jailson B. de Andrade, foi encarregado de elaborar as bases para o projeto de Mestrado Profissional em Química, PROFQUIM71 que atendesse às eventuais necessidades do país nesse campo de formaçao superior. O projeto contou com a colaboraçao de professores e de instituiçoes de ensino, convidados a participar de sua elaboraçao, de forma a ganhar amplitude e representatividade. A proposta para o curso era de que fosse oferecido na modalidade presencial utilizando também ferramentas de ensino a distância. Nessa concepçao, foi previsto que os conteúdos do portal QNInt - Química Nova Interativa, e das revistas Química Nova, Química Nova na Escola e Revista Virtual de Química deveriam ser adequados à grade curricular do curso para acesso eletrônico. Supunha-se também a definiçao de uma instituiçao de ensino como sede básica do curso, atuando em rede com outras instituiçoes. Ao ser criado, o Mestrado Profissional em Química em Rede Nacional - PROFQUIM72 fez a sua primeira seleçao de estudantes em 2017, um programa de pós-graduaçao semipresencial, stricto sensu, na modalidade mestrado profissional na área de Química com oferta nacional. Ele é formado por uma rede de Instituiçoes de Ensino Superior, no contexto da Universidade Aberta do Brasil/Coordenaçao de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), e coordenado pelo Instituto de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro, tendo a cogestao da SBQ e o apoio das Instituiçoes Associadas. Sem dúvida, o PROFQUIM foi uma das boas inciativas lideradas pela SBQ visando a melhoria da qualificaçao profissional do Professor de Química, em consonância assim com a permanente atençao aos eixos propostos no documento seminal de 2003 (EMeQ). Esse texto descreve até aqui, de forma sucinta, como a SBQ e, em especial, os "Eixos Mobilizadores em Química" influenciaram o desenvolvimento da Química no Pais. Todo o esforço culminou com a realizaçao de um sonho coletivo em 2017: pela primeira vez um Congresso Mundial de Química, organizado pela IUPAC, ocorreu no circuito América do Sul-Africa: a 40ª Reuniao Anual da Sociedade Brasileira de Química, o 46th World Chemistry Congress e a 49th General Assembly, da IUPAC, foram realizados conjuntamente no período de 7 a 13 de julho de 2017 em Sao Paulo, Brasil. Este evento simbolizou o compromisso de todas as Diretorias, Conselhos Consultivos, Secretarias Regionais e Divisoes da SBQ, num trabalho concertado por quatro décadas mirando o futuro. Neste contexto, os "Eixos Mobilizadores em Química" representaram a "estratégia dos últimos quinze anos". E agora? Qual o novo desafio?
A ATUALIDADE Neste século, o grande consumo de matérias-primas deve ser substituído, em vários setores, pelo reuso e reciclagem. Pelo menos outras duas mudanças significativas sao necessárias: a migraçao do uso intensivo de combustíveis fósseis para o uso de energia renovável; e a transiçao do controle de efluentes para a economia de átomos. Essas mudanças representarao importante passo para a economia de recursos naturais e de recursos financeiros e para proteçao ao ambiente e à vida, requerendo forte interaçao com instituiçoes acadêmicas e tecnológicas. Mimetizando "o olhar de Janus"73 tentaremos abordar, brevemente, alguns desafios atuais e urgentes às necessidades da sociedade, do setor industrial e do desenvolvimento sustentável, utilizando, como pano de fundo: 1. os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS); 2. a Industria 4.0 e a Industria Química; 3. a Sociedade 5.0; 4. a criaçao da EMBRAPII, dos Institutos SENAI de Inovaçao Tecnológica e a Formaçao e Modelos de Negócio de Base Tecnológica; e 5. o papel da Pós-graduaçao em Química neste cenário, considerando também a criaçao recente dos Mestrados Profissionais e a perspectiva de criaçao de Doutorados Profissionais, no momento em que este artigo é escrito. Estes exemplos têm por objetivo destacar alguns temas recentes, que tiveram especial destaque após a agenda proposta nos "Eixos Mobilizadores em Química" e assim estimular a construçao de uma nova agenda, no âmbito da SBQ, que sinalize para os próximos 15 anos. Objetivos para um Desenvolvimento Sustentável (ODS) Os ODS representam uma agenda para o Planeta e para a Humanidade. Os 17 ODS e suas 169 metas têm como foco o Planeta - Proteger os recursos naturais e o clima do nosso planeta para as geraçoes futuras; Pessoas - Erradicar a pobreza e a fome de todas as maneiras e garantir a dignidade e a igualdade; Prosperidade - Garantir vidas prósperas e plenas, em harmonia com a natureza; Paz - promover sociedades pacificas, justas e inclusivas; e Parcerias - Implementar a agenda por meio de parceria global sólida, estimulando as parcerias nos países e entre as naçoes.74 Os ODS deverao orientar as políticas nacionais e as atividades de cooperaçao internacional até 2030, sucedendo e atualizando os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). O Brasil participou de todas as sessoes da negociaçao intergovernamental que levaram à assinatura do acordo. Brevemente, os 17 ODS sao (Figura 1): Objetivo 1. Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares; Objetivo 2. Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutriçao e promover a agricultura sustentável; Objetivo 3. Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades; Objetivo 4. Assegurar a educaçao inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos; Objetivo 5. Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas; Objetivo 6. Assegurar a disponibilidade e gestao sustentável da água e saneamento para todos; Objetivo 7. Assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à energia para todos; Objetivo 8. Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todos; Objetivo 9. Construir infraestruturas resilientes, promover a industrializaçao inclusiva e sustentável e fomentar a inovaçao; Objetivo 10. Reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles; Objetivo 11. Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis; Objetivo 12. Assegurar padroes de produçao e de consumo sustentáveis; Objetivo 13. Tomar medidas urgentes para combater a mudança do clima e seus impactos; Objetivo 14. Conservaçao e uso sustentável dos oceanos, dos mares e dos recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável; Objetivo 15. Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificaçao, deter e reverter a degradaçao da Terra e deter a perda de biodiversidade; Objetivo 16. Promover sociedades pacíficas; e Objetivo 17. Fortalecer os meios de implementaçao e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável.
Figura 1. Objetivos para um Desenvolvimento Sustentável (ODS). Fonte https://nacoesunidas.org/pos2015/agenda2030/ acessado em 20/04/2018.75
Uma vez mais, fica clara a percepçao de que a educaçao (em todos os níveis) configura-se num instrumento fundamental para atingir os ODS e implementar a agenda 2030.75 Nesse sentido, merecem atençao especial o ODS 4 - Assegurar a educaçao inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos e o ODS 10 - Reduçao das desigualdades, os quais impactam e sao impactados pelos demais ODS. Industria 4.0 No setor empresarial, a inovaçao está também relacionada à manufatura avançada, igualmente nominada Indústria Inteligente ou Indústria 4.0, terminologia adotada pelos alemaes, a qual refere-se à 4ª revoluçao industrial. Caracterizada pela integraçao e o controle remoto da produçao, a partir de sensores e equipamentos conectados em rede, associados a sistemas ciberfísicos, é entendida como o futuro da produçao, dentro de um esforço para revitalizaçao das empresas e pela busca de liderança tecnológica e, consequentemente, de mercados globais, cada vez mais competitivos. Em documento recente, a Confederaçao Nacional da Indústria76 destaca que a ampliaçao da capacidade de inovaçao é fundamental para a melhoria da competitividade empresarial. O Mapa Estratégico elaborado pela CNI propoe como meta elevar a taxa de inovaçao nas empresas brasileiras, de 36,4% para 45%. Porém, a capacidade de inovaçao das empresas brasileiras é pouco desenvolvida e segundo uma pesquisa do Fórum Econômico Mundial de 2017, de um conjunto de 137 países, o Brasil está na 85ª posiçao. De acordo com a ABIQUIM, o setor industrial químico do Brasil ocupa a oitava posiçao mundial, tendo apresentado um faturamento líquido em 2016 da ordem de US$ 113,5 bilhoes e déficit de US$ 22,1 bilhoes, representando atualmente 2,5% do PIB brasileiro, enquanto que em 2004 representava um porcentual maior (3,6%). Vale ressaltar que mais da metade do faturamento deste setor (54,9%) é com produtos químicos de uso industrial, ou seja, produtos com baixo valor agregado.77 Ampliar a taxa de inovaçao das empresas e o faturamento do setor químico com produtos de maior conteúdo tecnológico é um desafio permanente. O setor químico industrial, em escala global e no Brasil, é um dos maiores investidores em pesquisa e desenvolvimento, com índices crescentes de inovaçao. Todavia, o seu maior desafio atual se refere à sustentabilidade, que consiste em desenvolver produtos e processos com menor demanda por energia, agregando maior competitividade econômica e, especialmente, nao agredindo o ambiente e a vida. Isto inclui o estabelecimento e/ou a potencializaçao de conexoes estratégicas entre pesquisa básica, desenvolvimento tecnológico, inovaçao e articulaçao social. Vale destacar que a origem do conceito de Indústria 4.0 está no documento Estratégia de Alta Tecnologia do Governo Alemao78 que define seis campos de prioridade: i) A economia digital e a sociedade; ii) A economia sustentável e energia; iii) O local de trabalho inovador; iv) Vida saudável; v) Mobilidade Inteligente; e vi) Segurança civil. Esses campos relacionam diretamente a indústria 4.0 com a Sociedade 5.0. Sociedade 5.0 A Concepçao de Sociedade 5.0 surge no Japao, no âmbito do "5º Plano Básico de Ciência e Tecnologia", como uma sociedade futura na qual o Japao deveria se inspirar. Esta nova sociedade dá sequência à sociedade de caçadores coletores (Sociedade 1.0), à sociedade agrícola (Sociedade 2.0), à sociedade industrial (Sociedade 3.0) e à sociedade da informaçao (Sociedade 4.0). Em resumo, "Uma sociedade centrada nas pessoas que equilibra o avanço econômico com a resoluçao de problemas sociais por um sistema que integra altamente o ciberespaço e o espaço físico."79 A sociedade 5.0 pode ser considerada como superinteligente, superconectada, altamente cooperativa e também mais velha. No Japao, por exemplo, cerca de 26% da populaçao atual têm mais de 65 anos. Em escala global, a populaçao de "jovens" com mais de 80 anos, dobra a cada 25 anos desde 1950.80 A previsao é que em 2050 a populaçao mundial com mais de 80 anos será cerca de 379 milhoes de pessoas e que seis países terao mais de 10 milhoes de habitantes com mais de 80 anos. Entre estes países estará o Brasil (Figura 2). Nesse novo cenário, a concepçao de qualidade de vida passa a ter novo significado, tornando necessária a construçao de uma agenda sustentável para a Humanidade e para o Planeta.
Figura 2. Evoluçao da populaçao com mais de 80 anos.
Nos últimos quinze anos, os meios disponíveis para atingir os ODS e dar suporte para a implementaçao da Industria 4.0 e a Sociedade 5.0 se ampliaram consideravelmente, com a expansao do número de Universidades Públicas e de Institutos Federais de Ensino Tecnológico, com a criaçao da EMBRAPII e dos Institutos SENAI de Tecnologia e de Inovaçao, bem como com a aprovaçao do Marco Legal da Ciência Tecnologia e Inovaçao que, em conjunto, ampliaram as possibilidades de cooperaçao cientifica e tecnológica entre os setores acadêmico e empresarial; destaque-se também a criaçao de novos empreendimentos, como por exemplo, as Startup e/ou as Spin-off, temas abordados a seguir nesse texto. EMBRAPII A EMBRAPII (Associaçao Brasileira de Pesquisa e Inovaçao Industrial)81 é qualificada como uma Organizaçao Social pelo Poder Público Federal desde setembro de 2013 e tem como finalidade fomentar projetos de cooperaçao envolvendo empresas nacionais, instituiçoes tecnológicas ou instituiçoes de direito privado sem fins lucrativos, voltadas para atividades de pesquisa e desenvolvimento, que objetivem a geraçao de produtos e processos inovadores. Inicialmente, a concepçao da EMBRAPII foi experimentada como programa piloto em três grandes centros de Pesquisa Brasileiros (INT - Instituto Nacional de Tecnologia no Rio de Janeiro, IPT - Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de Sao Paulo e SENAI CIMATEC - Centro de Tecnologia de Salvador). O modelo aprovado e comprovado através do Piloto executado, viabiliza o desenvolvimento de pesquisas de inovaçao, onde a EMBRAPII entra com um terço dos recursos do projeto, que nao é reembolsável, o Instituto credenciado também entra com um terço (na forma de mao de obra e instalaçoes) e o restante é aplicado pela empresa.82 Atualmente, a EMBRAPII possui 28 Instituiçoes credenciadas que atuam em 31 diferentes tipos de competências e mais de 100 diferentes linhas de pesquisa, distribuídas em todo Brasil. O modelo EMBRAPII traz uma nova proposta de investimento e flexibilizaçao na aprovaçao de pesquisas e de inovaçao, que muito contribui para o avanço das empresas que necessitam inovar num curto espaço de tempo. Além disso, aproxima de forma mais efetiva as indústrias das instituiçoes de pesquisa, induzindo e fomentando a interaçao entre as empresas, universidades e centros de pesquisa, de forma a diminuir o gargalo de integraçao existente. Deve-se ressaltar que a EMBRAPII vem fazendo um importante papel na aproximaçao e no fomento de atividades que envolvem a participaçao industrial e acadêmica / tecnológica. Institutos SENAI de Tecnologia e Inovaçao Adicionalmente à EMBRAPII, outra iniciativa recente do setor industrial e que poderá ter papel altamente relevante na conexao com Universidades e Centros de Pesquisa sao os Institutos SENAI de Tecnologia e os Institutos SENAI de Inovaçao. Tais Institutos fazem parte das unidades do SENAI, possuindo infraestrutura física moderna, bem equipada e pessoal treinado e qualificado para a prestaçao de uma ampla gama de serviços técnicos especializados, com o objetivo de aumentar a competitividade de indústrias de todos os portes. Os Institutos desenvolvem soluçoes com base nas tecnologias existentes para criar novos processos e novos produtos. Atualmente, o SENAI possui uma rede com 39 Institutos de Tecnologia em operaçao e até o final de 2018, pretende inaugurar 25 Institutos SENAI de Inovaçao.83,84 Vale ressaltar que o SENAI inaugurado em 2002, selecionado como unidade piloto da EMBRAPII, além de possuir institutos SENAI de inovaçao e tecnologia, também possui atualmente o Centro Universitário SENAI CIMATEC, oferecendo ensino superior com nove opçoes na área de Engenharia, diversos cursos de pós-graduaçao lato sensu (especializaçoes, MBAs e MBI) e dois programas de pós-graduaçao stricto sensu (com cursos de mestrado e doutorado).85 Formaçao e Modelos de Negócio de Base Tecnológica: Startups e Spin-off Em matéria publicada no jornal britânico The Daily Telegraph, Monday 19 March 2018 page 4 Special, Technology Intelligence, From Roundabout to Revolution,86 é destacado o sucesso do "Vale do Silício de Londres" criado há dez anos: ... "London's "Silicon Valley' is no longer something to joke about - but a multi billion pound industry. ...Indeed, by some measures, such as starts-up per capta, Britain now beats the United States. Last year, London raised more than twice the amount of money to fund digital companies than any other city in Europe." Após apresentar o investimento realizado no período 2012-2016, a matéria destaca: "One reason is obvious. Britain is home to eight of Europe's top 20 universities. The "golden triangle" of Oxbridge and London alone offers six within a 60-mile radius." O que comprova, mais uma vez, a importância das Research Universities na geraçao de conhecimento e riqueza e, especialmente, na criaçao de Startups e Spin-off. Na presente discussao é importante entendermos também as estratégias dentro do modelo de negócio da empresa, pois diferentes tecnologias podem ser geridas em modelos de Startup ou Spin-off. Conceitualmente, uma Startup é uma empresa emergente, que acabou de ser criada, a partir de um modelo de negócio com grande potencial, mas cercado de extrema incerteza. Ou seja, o risco no desenvolvimento do novo processo (ou produto, ou serviço, ou plataforma) é grande. Por outro lado, normalmente o retorno, no caso de sucesso, é alto o que chama a atençao de investidores de risco como Capitais de Risco ou Anjos. Cabe destacar que as empresas do tipo Startup podem ou nao serem geridas em outros ambientes de pesquisa. As vezes um pesquisador bem formado pode ter uma nova ideia e esta ser totalmente gerida dentro da empresa emergente sem nenhuma relaçao prévia com centros de pesquisas das universidades ou de outras empresas. Apesar de parecer fora do contexto colaborativo entre Universidades e Empresas essa colocaçao nos remete à preocupaçao de formarmos empreendedores com alta capacidade criativa, além de um sólido conhecimento em Química. Portanto, totalmente dentro da preocupaçao do primeiro, do terceiro e do quarto eixos mobilizadores do documento anterior. Por outro lado, as empresas do tipo Spin-off sao conceitualmente empresas que derivam de algum núcleo de pesquisa (público ou privado) e normalmente utilizam modelos de incubadores de empresas para seu nascimento. Aqui cabe a observaçao que quando nascente de uma Universidade essas empresas recebem a denominaçao de Spin-off Acadêmico. Uma Spin-off pode ser também uma empresa Startup, pois existe a possiblidade de sobreposiçao dependendo de seu modelo de negócio. Uma rápida busca nos modelos de negócios, em gestaçao no país, revela que existem nos centros de incubaçao diversos modelos de Spin-off que alcançam produtos ou serviços com menor taxa de risco e chegam a um mercado carente, como o Brasileiro, em menor tempo. Ainda dentro desse modelo devemos destacar as empresas Spin-off que trabalham no modelo Kibs (Knowledge-Intensive Business Services) que atuam com pesquisa avançada e de alto valor agregado na resoluçao de problemas para empresas maiores. Esse modelo ainda é pouco explorado no Brasil e existe uma carência do mercado nacional que busca esses serviços no exterior. Nesse contexto, a formaçao de mao de obra qualificada em nível de pós-graduaçao na área de química, mas com conhecimento nas diferentes vertentes de gestao e empreendedorismo e com treinamento apropriado, continua sendo um grande desafio e seguramente irá nos levar a um maior desenvolvimento econômico.87 Para ilustrar, basta analisarmos que nas últimas décadas a criaçao de Startups e ou Spin-off vem se configurando em um dos caminhos mais promissores para a inovaçao com sucesso e retorno a curto prazo. Registros descrevem que, na década de 90, houve uma grande explosao de empresas Startups de tecnologia, o que mostra o grande interesse por este caminho de inovaçao.88 Segundo a Associaçao Latino-Americana de Fundos de Capital de Risco (LAVCA), o valor investido em Startups brasileiras por fundos de venture capital cresceu 207% em 2017 e atingiu o patamar recorde de US$ 860 milhoes (cerca de R$ 2,86 bilhoes).89 Isto demonstra o interesse crescente de investimentos nesse setor e traz incentivos para que instituiçoes e empreendedores se debrucem sobre as suas ideias inovadoras para que estas possam ir para o mercado. Infelizmente, a criaçao de programas de Startups e de Spin-off ainda nao é realidade para muitas universidades que atualmente possuem como motivaçao somente a pesquisa e as publicaçoes em periódicos. Todavia, por um outro lado, a indústria valoriza a relaçao custo-benefício e tem urgência para levar ao mercado a ideia inovadora desenvolvida. Desse modo, a sinergia Academia/Indústria pode ser intensificada através deste viés, sendo um dos grandes desafios a serem superados a mudança de atitudes em prol de um objetivo final unidirecional. Deve-se destacar ainda que a criaçao de Spin-off acadêmicos seguramente ajuda a que as pesquisas em universidades sejam "traduzidas" para o setor produtivo, uma vez que toda a etapa de prova de conceito da tecnologia é realizada dentro do ambiente de incubadoras, o que garante uma maior chance de sucesso. Muitos incentivos vêm sendo concedidos, até pelo próprio governo federal, para que o ecossistema de empreendedorismo, inovaçao e Startups e Spin-off esteja cada vez mais ativo dentro das Universidades e Instituiçoes de pesquisa, intensificando assim a relaçao das industrias com o meio acadêmico. Nesse aspecto cabe destacar o Decreto Nº 9.283, o qual alterou várias leis que compoem o Marco Legal da Ciência e Tecnologia. O documento traz uma série de novidades com impactos relevantes para o setor, onde pode-se destacar: i) a autorizaçao para universidades e centros de pesquisa públicos, agências de fomento, empresas públicas e sociedades de economia mista participarem como sócias minoritárias do capital social de empresas inovadoras, seja diretamente ou através de fundos de investimentos; ii) atualizaçao e ampliaçao dos diferentes mecanismos de fomento à inovaçao, como o bônus tecnológico que permite que universidades compartilhem sua infra-estrutura de pesquisa com empresas, ou a encomenda tecnológica, que permite que o governo faça encomendas a universidades, inclusive em consórcio com empresas, de soluçoes tecnológicas para necessidades da administraçao pública; iii) simplificaçao de processos de compra de insumos destinados a atividades de pesquisa e desenvolvimento, especialmente nos casos de insumos internacionais (um problema muito conhecido de pesquisadores do país). As importaçoes para esse fim ficarao dispensadas de controles prévios ao despacho aduaneiro e terao a documentaçao exigida simplificada; e iv) o aumento de carga horária permitida ao pesquisador de instituiçoes públicas para participar de atividades de pesquisa junto ao setor privado.90 Neste sentido, o estímulo à criaçao de programas de Startups e/ou Spin-off conectados com o meio acadêmico, traz a oportunidade de nao só avançarmos para nos tornar um celeiro de ideias novas e criativas, mas também de criarmos ambientes propícios para o desenvolvimento das mesmas e seguramente um ambiente profícuo de trabalho para os doutores e mestres formados no país.
UNIVERSIDADES / QUIMICA /PASSADO E FUTURO No início desta década o Congresso dos Estados Unidos da América, preocupado com a situaçao das Universidades Americanas, deflagrou um processo que resultou na elaboraçao do documento "Research Universities and the Future of America: Ten Breakthrough Actions Vital to Our Nation's Prosperity and Security."91 Merecem atençao especial: i) a motivaçao do documento; ii) a resposta das Academias de Ciências; iii) o foco das dez sugestoes; e iv) as sugestoes. A motivaçao do documento: Expressing concern that the nation's universities are at risk, the U.S. Congress asked the National Academies to assess the competitive position of America's research universities, both public and private, and to respond to the following question: What are the top 10 actions that Congress, the federal government, state governments, research universities, and others can take to assure the ability of the American research university to maintain the excellence in research and doctoral education needed to help the United States compete, prosper, and achieve national goals for health, energy, the environment, and security in the global community of the 21st century? A resposta: In response, the National Research Council convened a committee of individuals who are leaders in academia, industry, government, and national laboratories. The committee's report, Research Universities and the Future of America, explains its findings and the 10 actions it recommends. This booklet summarizes those findings and recommendations, and highlights several examples of how university research has contributed to discovery and progress. O primeiro parágrafo: America is driven by innovation - advances in ideas, products, and processes that create new industries and jobs, contribute to our nation's health and security, and support a high standard of living. In the past half-century, innovation itself has been increasingly driven by educated people and the knowledge they produce. Our nation's primary source of both new knowledge and graduates with advanced skills continues to be our research universities. O foco das dez sugestoes: Revitalizing the partnership. The first four actions will strengthen the partnership among universities, federal and state governments, philanthropy*, and the business community in order to revitalize university research and speed its translation into innovative products and services; Strengthening institutions. The next three actions will streamline and improve the productivity of research operations within universities; Building talent. The final three actions will ensure that America's pipeline of future talent in science, engineering, and other research areas remains creative and vital, leveraging the abilities of all of its citizens and attracting the best students and scholars from around the world. As Açoes: Research Universities and the Future of America: Ten Breakthrough Actions Vital to Our Nation's Prosperity and Security, NAS: 1. Federal Action; 2. State Action; 3. Strengthening Partnerships with Business; 4.Improving University Productivity; 5. A Strategic Investment Program; 6. Full Federal Funding of Research; 7. Reducing Regulatory Burdens; 8.Reforming Graduate Education; 9 STEM Pathways and Diversity e 10. International Students and Scholars. Desde o início o documento deixa claro o papel das Research Universities na produçao do conhecimento associado à geraçao de riqueza, melhoria na qualidade de vida e descoberta/formaçao de "talentos". Em resumo, as Research Universities nao representam despesa para o país, mas sim investimento. Como tal, sao um patrimônio de alto valor para a naçao pois impactam no presente e, especialmente, no futuro! Nesse sentido, em qualquer discussao sobre o futuro da Ciência (que inclui naturalmente o futuro da Química) é fundamental incluir como um tema o papel das universidades brasileiras na formaçao de recursos humanos altamente qualificados, na geraçao de riqueza e na reduçao das desigualdades sociais e regionais do nosso país.
A POS-GRADUAÇAO EM QUIMICA: UM BREVE OVERVIEW Recentemente, em 2017, foi publicado o artigo "A IMPORTANCIA DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE QUIMICA NA POS-GRADUAÇAO EM QUIMICA NO BRASIL",92 do Presidente da SBQ, Professor Aldo Zarbin, onde é destacado o papel da SBQ no fortalecimento da Pós-graduaçao em Química "Esse patamar de excelência foi alcançado pela força e comprometimento com que a SBQ atuou (e atua) nos diferentes segmentos em que interfere, como no sistema nacional de Pesquisa e Pós-Graduaçao, especificamente demonstrado nesse artigo." . "a grande comunidade da Química brasileira precisa entender definitivamente que nao há uma ciência forte sem uma Sociedade Científica forte por detrás. As centenárias Royal Society of Chemistry e American Chemical Society, com seus mais de 150.000 sócios, sao exemplos claros da inequívoca correlaçao entre a qualidade da Química que se faz em um país e a grandiosidade da sociedade que a representa. Nao seremos fortes, enquanto químicos, sem uma SBQ forte e representativa. Para isso é preciso que todos os atores estejam unidos. É preciso que a comunidade química brasileira, na sua totalidade, se veja na SBQ."92 As conclusoes desse artigo91, além de corretas, podem ser estendidas a todas as áreas em que a Química atua no Brasil. Um pequeno exemplo da abrangência e qualidade está registrada nas referências citadas neste artigo, e especialmente, as focadas na Formaçao do Químico, na Inovaçao e na necessidade de aproximaçao com o setor empresarial. O fato inegável é que, através da SBQ, a área de Química se capacitou para ordenar seu desenvolvimento e para localizá-la como instrumento de crescimento e competitividade econômica, bem-estar e fortalecimento científico do Brasil. Nesse sentido, vale retornar ao passado, em 2003, e ressaltar que o artigo "Eixos Mobilizadores em Química", fruto de uma grande articulaçao realizada no âmbito da SBQ fez uma análise da Pós-graduaçao em Química do Pais, com dados até o ano de 2000, até entao o ano da última avaliaçao da CAPES. A mais recente avaliaçao realizada pela CAPES utilizou dados até 2016. Sem qualquer pretensao de fazer uma analise exaustiva sobre os últimos 16 anos, apenas com o objetivo de deflagrar a discussao sobre o tema, faremos uma contextualizaçao das observaçoes extraídas do artigo de 2003 com a atualizaçao dos dados em 2016. No artigo de 20031 está registrado que: "Independentemente do parâmetro considerado, pode-se observar que as taxas de crescimento da área de Química mudam de linear para exponencial a partir dos anos 1990. Observando-se a Figura 3 com dados atualizados até 201693 a relaçao entre o número de publicaçoes e o número de doutores formados entre 1983 e 2000 foi, em média 3,49 enquanto que no biênio 2014 - 2016 foi 7,86. Um número maior do que o dobro (2,27x) do anterior.
Figura 3. Evoluçao das teses de doutorado defendidas em Química e o número de publicaçoes em periódicos no exterior" atualizada com os dados de 2016.
Quanto à evoluçao do corpo docente (Figura 4), no ano 2000 a pós-graduaçao em Química no Brasil contava com 906 docentes, enquanto que em 2016 o número de docentes era 2000. Ou seja, um número também maior do que o dobro (2,21). No caso da formaçao de mestres e doutores, no biênio 1998-2000, foram formados 1111 mestres e 642 doutores, revelando uma relaçao m/d = 1,73, enquanto que no biênio 2014 - 2016 esses números passam para 3266 mestres e 1878 doutores, mantendo a relaçao m/d praticamente igual, mas com crescimento observado entre os biênios de 2,94 vezes na formaçao de mestres e 2,93 vezes na de doutores.
Ressalte-se que em 2018 constam na área de Química um total de 117 cursos, sendo 67 mestrados e 47 doutorados acadêmicos, dois mestrados profissionais e um mestrado em rede na área de educaçao/ensino de Química. Isto é adequado para a área?, isto é adequado para o país?? Certamente sim. Mas, ainda é muito pouco! Os ODS, por exemplo, apontam para um quadro abrangente de novos cenários de participaçao, sendo que a capacidade do profissional em atuar interdisciplinarmente é cada vez mais um atributo necessário. Precisamos criar novos programas e/ou reconfigurar os programas já existentes, com foco nos desafios atuais que compreendem a formaçao de conexoes entre o setor acadêmico, já muito bem consolidado, e o setor empresarial. Este tem demandas que incluem ampliar a sua taxa de inovaçao, promover a migraçao da produçao de insumos químicos de uso industrial para os de alto valor agregado, bem como juntar-se ao esforço nacional de implantaçao da manufatura avançada. Incluem-se ainda a organizaçao e a administraçao de toda a cadeia de valor e do ciclo de vida dos produtos, onde será necessária a integraçao de tecnologias e sistemas digitais, com geraçao de valores nas cadeias produtivas, na organizaçao de trabalho, nos modelos de negócios e na prestaçao de serviços inteligentes de internet a jusante, adequados às demandas dos consumidores. Neste século, a ciência brasileira está diante de uma mudança de paradigma1: se na década de 60 bastava ao professor universitário fazer pesquisa, na década de 80 a publicaçao de papers era condiçao obrigatória para ser considerado pesquisador. Várias vezes, nas últimas cinco décadas, o desafio (perguntas) apresentado aos professores pesquisadores mudou (Figura 5). Entretanto, as perguntas mais adequadas seriam: você descobriu o que? E você pretende descobrir o que?
Figura 5. A evoluçao do paradigma: perguntas feitas aos professores cientistas, adaptado da ref. 1
CONSIDERAÇOES FINAIS Vale repetir que nao é o objetivo desta publicaçao fazer uma avaliaçao profunda da situaçao atual da área de Química, mas sim estimular as(os) Colegas, as IES e, especialmente, a SBQ, a iniciarem uma ampla discussao que possa contextualizar a evoluçao da Química neste século, considerando os setores acadêmico e empresarial. Sao questoes que precisam ser respondidas com urgência e com o "olhar" isento, que só a Sociedade Brasileira de Química poderá fazer. Em resumo, é o momento de revisar e atualizar os Eixos Mobilizadores em Química, considerando o que aconteceu, está acontecendo e poderá acontecer neste jovem século!!
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*o que nao temos no Brasil, com a exceçao do Instituto SERRAPILHERA (https://serrapilheira.org/), criado em 2017, "uma instituiçao privada sem fins lucrativos, criada para valorizar a ciência e aumentar sua visibilidade e impacto no Brasil". |
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