JBCS

Os artigos de revisão desempenham um papel fundamental na organização e crítica do conhecimento científico, especialmente em áreas de alta complexidade e crescimento acelerado como, por exemplo, a Química. Eles sintetizam e avaliam dados dispersos, oferecendo referenciais teóricos e metodológicos que orientam novas pesquisas e evitam redundâncias.

Dados do Web of Science (de 1995 a fevereiro de 2025) indicam que, dos 6.374 artigos indexados em Química Nova, 640 (10%) são revisões. A evolução desses números reflete tendências metodológicas e editoriais ao longo do tempo: somente em 1995, registravam-se 15 revisões; em 2009, o pico de 45 publicações sugere um período de valorização desses estudos. Entretanto, entre 2013 e 2020, a média anual estabilizou-se em 14 artigos, seguida por um leve aumento no período pós-pandemia da COVID-19 (19 em 2020, 21 em 2022), mas culminando em um declínio acentuado para apenas 4 em 2024. Essas oscilações sugerem uma relação complexa entre a necessidade de inovação imediata e a importância de sínteses críticas na estruturação do conhecimento.

Revisões são fundamentais para otimizar recursos, evitar duplicações de pesquisa e fornecer panoramas abrangentes que impulsionam avanços científicos de forma mais eficiente. A relevância desses artigos também se reflete no impacto acadêmico, por exemplo, na Química Nova, 8 dos 10 artigos mais citados (totalizando ~4.000 citações) são revisões incluindo os sete primeiros colocados. Destaca- se, por exemplo, o trabalho de Ribani et al.¹ sobre validação de métodos cromatográficos e eletroforéticos que acumula 650 citações. Esse padrão não é exclusivo desse periódico; globalmente, revisões costumam liderar rankings de impacto devido à sua capacidade de consolidar dados dispersos, tornando-se referências essenciais para estudos originais.

Além do impacto na literatura científica, a seletividade editorial desempenha um papel crítico na qualidade das revisões publicadas. Entre 2013 e 2025, Química Nova recebeu 441 submissões de artigos de revisão, das quais apenas 70% foram aceitas. Esse rigor editorial está alinhado a diretrizes que exigem dos autores comprovação de expertise na área, garantindo que apenas pesquisadores com amplo domínio do tema elaborem revisões criteriosas. Esse filtro é essencial em áreas como catálise e materiais avançados, onde a rápida evolução exige atualizações constantes, para evitar a propagação de informações desatualizadas ou imprecisas.

A redução no número de revisões publicadas representa um risco epistemológico significativo. Estudos apontam que a falta de sínteses críticas leva à fragmentação do conhecimento, ao desperdício de recursos em linhas de pesquisa já superadas e à replicação de estudos redundantes. Para mitigar esse problema, algumas estratégias poderiam ser adotadas: agências de fomento poderiam lançar editais específicos para incentivar revisões, reconhecendo seu valor como produtos científicos essenciais. Periódicos científicos poderiam adotar formatos inovadores, como revisões contínuas e atualizáveis, integradas a plataformas digitais para manter o conteúdo sempre relevante.

De um modo geral, os dados quantitativos e qualitativos demonstram que os artigos de revisão não são meros complementos, mas sim alicerces do progresso científico. Eles organizam o conhecimento, facilitam a inovação e promovem um avanço mais eficiente e estruturado nas diversas áreas da ciência. Preservar e incentivar esse formato de publicação é, portanto, essencial para garantir a integridade e o impacto da produção acadêmica.

REFERÊNCIA

1. Ribani, M.; Bottoli, C. B. G.; Collins, C. H.; Jardim, I. C. S. F.; Melo, L. F. C.; Quim. Nova 2004, 27, 771. [Link] acessado em Março 2025